segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Sobre uma fruta de talento, indeed.

Minha amiga Dani, do Salada de Fruta, anda fazendo sucesso num dos sites (tá bom, blogs) mais queridos por este Malfazejo que vos fala. Pois não é que Dona Dani (com a permissão do Dona, Dani) enfeita o último post do Discoteca Básica, do dia 25 de fevereiro último?

Com o perdão pela piada, Dani. Foi irresistível.

Notas de segunda-feira

Uruaçu, em Goiás, movimenta sua pequena economia com o dinheiro, enviado da Espanha, por suas mulheres, que vão para a Europa se prostituir. Os pais sabem o que as filhas fazem. Os filhos sabem o que as mães fazem. Não são exatamente orgulhosos disso mas, como toda cidade tem suas Genis, Uruaçu prefere vender suas filhas a virar geléia.

Maradona esteve na Colômbia recentemente, no que seria uma fase de seu tratamento contra o vício em cocaína. Mais ou menos como se um pedófilo fosse se tratar no parquinho de uma escola primária.

Oscar 1 – Se você não entende nada de inglês, ano que vem procure acompanhar a cerimônia do Oscar sem tradutores. Qualquer coisa é mais compreensível do que ouvir o som original no mesmo volume das péssimas e gaguejadas traduções atuais.

Oscar 2 – A jequice caboclinha sempre fala mais alto, e Gisele Bündchen será, para nossas revistas e telejornais de primeira categoria, a grande estrela da festa do Oscar. Discordo do Lula, eu não acho que o brasileiro tenha baixa auto-estima. Acho que tem é exagerada estima pelos outros.

Francamente, eu não agüento mais ouvir falar nos assassinos de Dorothy Stang, no drama pessoal de Daniela Cicarelli e na briga de comadres entre Lula (e suas asneiras improvisadas) e FHC (e seu cocoricó falsamente despretensioso).

Severino Cavalcante é a estrela nacional do momento. E uma das que melhor representa o país e sua política. Burro, feio, preconceituoso, orgulhosamente ignorante e cara-de-pau. Uma amostra grátis do Brasil, que de gratuita nada tem.

Aconteceu num circo do Chile: o trapezista está sendo acusado de ter violado o palhaço.


Eu até gostaria de falar mais do cenário político local, mas só farei isso quando nosso vice-prefeito, Mário Frota, se recompor.


O Malfazejo deve ter seu visual reformulado nas próximas horas (ou dias). Portanto, como alguém muito atento já deve ter notado, as atualizações estão (e continuarão) meio minguadas. Comportamentos estranhos também deverão ser tolerados, ok? Ah, sim, aceito sugestões (e agradeço por elas) para a mudança. Um abraço a todos.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

O cafezinho, esse calhorda

O governo anunciou, hoje, um corte no orçamento de 2005 na ordem de 15 bilhões de reais. O corte foi justificado pelo Ministro Antônio Palofi Mafinha (tio em segundo grau de Felipe Mafa) como forma de evitar aumento de impostos. Serão cortados os gastos com viagens, energia elétrica e... o cafezinho. Taí uma das grandes perguntas universais nunca respondidas. Por que logo ele, sempre?!

O cafezinho é o mordomo corporativo. Mas acredito, humilde que sou, ter a solução para o problema: simples, primeiro elimina-se o cafezinho. Com a falta do 'rebite' parlamentar, nossos Severinos e Inocêncios sentem sono logo, vão pra casa e economizam energia. Simples. Só há um problema, aliás, dois: a energia elétrica das casas dos Inocêncios, a exemplo da água, deve ser paga por nós, do mesmo jeito. E a cada ida sonolenta pra casa lá se vai mais uma passagem.

Por nossa conta.

Eu precisava dizer isso?

Biografias que Hollywood nos deve

Jamie Foxx encarna Ray Charles. Pra isso emagreceu e usou óculos com tampões, pra "sentir" o que é ser cego. Val Kilmer emagreceu, engordou e cantou, ele mesmo, as músicas de Jim Morrison. Dennis Quaid teve intermináveis lições de piano e expressão corporal pra interpretar Jerry Lee Lewis. Agora há planos para se filmar a biografia de Bob Marley. Já rolam tapas (hum...) entre os agentes, mas poucos têm chances de conseguir o papel (hum...) e precisar fazer laboratório, mergulhar na cultura jamaicana, entrar no personagem, entende?

Lideram as apostas da imprensa especializada nomes como Giba, da seleção brasileira de vôlei, George W. Bush (e metade dos ex-presidentes americanos ainda vivos) e Marcelo Antony. Haverá mais alguém com as ferramentas necessárias para puxar (ôpa) uma responsabilidade dessas para si? Eu incluiria Luana Piovani e todas as outras top models do mundo, mas aceito sugestões.

Biografias que Hollywood nos deve é uma série, mas não é séria.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Santo Mau Humor!


O Arnaldo Branco, devidamente indicado aí ao lado, faz tirinhas semanais do Mundinho Animal, cartoons sobre... o mundo animal. Como se não bastassem todas as outras tiras do Mau Humor, vez ou outra sai uma dessas. O cara é genial.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Procurando disco-voadores no céu londrino...

Poucos seres são mais abomináveis e desprezíveis do que os exilados estudantis. Mas ainda piores do que os simples exilados são os exilados estudantis di mamãe. Animais horrorosos, estão sempre carregados de pontos de vista azedíssimos sobre os aspectos mais relevantes da vida social, como o jeito primata do brasileiro de usar a escada rolante em Londres. Com a indefectível amargura do europeu que nasceu num corpo de brasileiro, desejam a todo custo (até que saia a cirurgia de troca de nacionalidade), maquiar suas origens. Ao menor sinal de lembranças da terrinha, escondem seus passaportes. Na rede, é extremamente fácil reconhecê-los nos blogs, parados ao lado direito da vida, falando às paredes seu incansável discurso panfletário "Odeio Panfletistas!". Ligam pro Brasil (no horário mais econômico) de cabines telefônicas cravejadas com anúncios de prostitutas desdentadas (mas européias, ok?). Amam muito tudo aquilo, e disfarçam – muito mal - seus genes colonizados com um ar cosmopolita mais rampeiro do que o da a perua esquecidinha da novela das oito, falando de ópera e de alta moda. O grande jeca brasileiro na cidade grande não é o turista, o exilado comum, com seus gorros de frio e seus casacos de nylon. É o exilado da mama, que um dia vai voltar, e como todos, vai atender o celular e falar aos berros no restaurante, libertando, enfim, tudo de Brasil que não pôde tirar do armário por lá. São esses, os quietinhos, caladinhos e tímidos d’além mar, que voltam com aquele ar de "mas que lixo de terra!". Aí, ironia das ironias, vêm ser considerados jecas logo aqui, no Bananão, a Meca da jequice.

Baseado no post "O jeca na cidade grande" (do blógico, lógico), transcrito aqui:

"Poucos seres são mais abomináveis e desprezíveis que turistas. Mas ainda piores do que os simples turistas, são os turistas brasileiros. Animais horrorosos, de aspecto repulsivo, estão sempre carregados de sacolas, e falando aos berros. Ao menor sinal de frio vestem gorros, luvas e casacos de nylon gigantescos como se estivessem indo esquiar. Em Londres, pode-se reconhecê-los facilmente nos metrôs da cidade, parados no lado esquerdo das escadas rolantes, para desespero dos que vêm atrás deles e têm mais o que fazer. (aliás, como já perguntou o Seinfeld uma vez, que tipo de pessoa sobe numa escada rolante e fica ali parada? "It's not a ride, people!")"

Na dúvida, atire entre os olhos


O Parlamento Alemão em chamas, em 1933

Não sei se você é politicamente destro ou canhoto. Mas se não gostou do que viu, multiplique por -1. É assim que fazem os Direitas e os Esquerdas.

Saiba mais.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Montagem, do paraíso

O radinho grunhiu, rouco, o noticiário da Rádio Difusora. Músculos ainda frios mexeram-se, corpos cansados, quase inertes. Jackson arrastou as sandálias pelo chão sujo de terra, acordando Lupi debaixo do assoalho da casa suspensa. Funcionários da obra ao lado chegavam em grupos silenciosos de 3 ou 4. Encheu rapidamente o bule e os baldes que lhe banhariam à noite, quando chegasse. No ônibus da empresa, tentava dormir enquanto o mesmo noticiário ainda desfilava os boletins dos pronto-socorros. Meninas barrigudas liam os próximos capítulos das novelas nas revistas de 1,99. Meninos dormiam, com fones nos ouvidos e fardas no colo, aguardando a sirene que os levaria ao pastel folhado do café.

Não tinha um filho que pudesse beijar como se fosse o único. Havia meses não namorava, não podia também amar como se fosse a última vez. O que podia era limpar os dentes com a língua, tirar a gordura dos lábios e pôr o protetor auricular. Fingiu alongar-se na ginástica de zumbis infelizes e tomou seu posto. Montava DVDs como se fosse máquina, circuito com circuito num desenho lógico. Pensava enquanto encaixava pecinhas, e gostava daquele trabalho por isso. Pensava em sua vida, sem ninguém, sem nada, só Lupi, seu rádio fabricado pela concorrência e seu quarto úmido. Comeu feijão e arroz como se fosse príncipe e sentou pra descansar como se fosse sábado. Seus olhos, ainda embotados de sílica e lágrimas, se fecharam naquele mar de corpos do pátio.

Ali, enquanto agonizava no passeio público, Jackson esperava por uma redenção que não viria, isso sabia. Via, resignado, sua condição. Não sairia dali. E não amaria pela última vez. E não beijaria o filho pródigo. Aproveitava os últimos minutos da agonia diária daquele pátio, esperando pela próxima sirene. Até que Lupi e a Rádio Difusora lhe acolhessem em casa, com um balde de água fria no banheiro. Até que, no dia seguinte, pudesse comer feijão e arroz como se fosse príncipe. Até que um dia – sonhava – pudesse flutuar no ar como se fosse pássaro. Até que morresse na contra-mão, atrapalhando o tráfego, num desespero que não sabia sentir.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Notas de segunda-feira

Drogas 1 - Bill Clinton admitiu ter fumado um cigarrinho de maconha na juventude. Chocada, a nação americana só sossegou quando o presidente disse que não tragara a fumaçinha do diabo. Foi um alívio. Agora, quem diria, surge uma gravação em que Ele admite ter fumado maconha. E tragado, claro, entre tragadas de Jack Daniel's. Talvez agora seus eleitores queiram derrubá-lo do cargo. Agora sim, Ele foi longe demais.

Drogas 2 - Nem bem saiu do coma, Marcos Menna já soube que está sendo processado por apologia às drogas. Tudo porque disse num show que as melhores coisas da vida são sexo, drogas e rock 'n' roll. Seu empresário, Zé Henrique (aquele que fazia versões do Def Leppard na banda Yahoo), diz que foi tudo um mal entendido. Marcos Menna se referia às músicas de sua banda, gente.

Drogas 3 - Alexandre Pires, que já se emocionara ao conhecer Bush, emocionou-se ao receber dois importantíssimos prêmios do grande Festival Internacional de Música de Viña del Mar, no Chile. Suas músicas "Vamos tirar a Roupa" e "Você levou minha Vida" são sucesso absoluto no Chile. Oremos para que esse sucesso chileno continue para sempre, irmãos.

Hugo Chávez diz que os Estados Unidos têm planos para assassiná-lo. A mudar pouca coisa no cenário da idiotia política da América Latrina, já temos um fortíssimo candidato ao posto de sucessor de Fidel Castro.

Até jecas latino-saxões de um assunto só têm seus lapsos momentâneos de razão. Prova de que mesmo no deserto brotam certas flores, ainda que raramente. Por isso eu cito a citação: "Eu até gosto de Jesus, sabia? É pelo fã-clube dele que eu não sou muito apaixonado..."

A câmara tem mais dinheiro do que 8 estados da federeação. O fato deveria ser tido como o Crime Perfeito, que muitos dizem ser impossível. Rouba-se bilhões do povo, com base na Lei, e a vítima nada pode fazer.

O Vietnã produzirá até o final do ano uma vacina contra a gripe das aves. Descobriu-se que cada galinha vietnamita passa nada menos que 33 dias por ano em casa, com febre alta, dores no corpo e muita coriza. Como se não bastasse, alguns galos já aproveitavam a onda de gripe e vendiam atestados "batizados" às galinhas mais vagabundinhas.

A morte da freira americana em Anapu chocou o país. 2.000 soldados foram deslocados para levar ordem ao Pará. Taí um tapa na cara daqueles que dizem que as forças armadas brasileiras não têm a menor utilidade. Tem cena mais bela do que 2.000 soldados aterrissando, de cara pintada nos aviões Hércules, para defender (um pouco tarde) indefesas freirinhas da terceira idade?

Álvaro Garnero, João Paulo Diniz e Ronaldo têm a minha inveja declarada. Não pelas putinhas de boa família que os rodeiam, mas pela diversão que têm. Eles se juntam, fazem uma vaquinha de alguns milhões e bancam bolsas, carros, apartamentos e jóias para suas respectivas namoradas. Depois dão em cima da namorada do comparsa. Só pela diversão sádica de ver as cortesãs mais lindas do mundo brigando por causa deles. Todos ganham: elas o dinheiro que adoram, eles, a diversão que só o dinheiro e a beleza trazem.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

O Brilho Eterno


Eternal Sunshine of the Spotless Mind

Pink e Rach, vocês estavam certos. A sensação de ter visto algo ali, naquele casaco laranja e naquele banho de chuva, que não se consegue descrever é angustiante. Eu havia esquecido, mas Charlie Kaufman e Michel Gondry me fizeram lembrar: não é necessário emburrecer pra fazer um filme de amor. E é nos detalhes que está um filmaço.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Citações de Célebros Célebres

"Não sou candidato em 2006, a não ser que o cenário seja de crise absoluta."

Fernando Henrique Cardoso, essa semana.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Não é Nova, Boa nem Redonda. É Devassa!


Surge no Rio uma cerveja artesanal, elogiadíssima pelos especialistas (a responsável pela produção é a Doutora em Cerveja Kátia Jorge (sim, Doutora em Cerveja)) e admirada pelos fregueses cariocas, o povo que mais bebe no país (90,4 litros por ano, em média), comparado à media nacional de 47,6 litros. A cerveja Devassa já está em 140 pontos da cidade, já é exportada para a Europa e já precisa ter sua produção elevada. Seus criadores, Marcelo do Rio e Marcello Macedo, já planejam engarrafar também três tipos de cachaça, já devidamente batizadas de Vagaba, Rampeira e Vagaba Coroa. Também pretendem lançar um refrigerante, de fórmula secreta. Ah, o nome também é secreto, mas arrisco um palpite: como refrigerante é algo meio infanto-juvenil, deve ser Cafetinho, Flanelinha, Trombadinha ou simplesmente Deputadinho.

A matéria é da última Veja Rio.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

O Antiácido do Cotidiano

Daniel Piza me impressiona, não pela audácia, pelo cinismo, pela acidez ou pelo carisma. É exatamente pelo contrário. A cada coluna sua meço a distância entre dizer o interessante e dizer o importante. Daniel Piza não tem estilo, não faz pose. Mete um ponto final (ao menos pra mim) na coluna O eclipse dos intelectuais, no Estadão deste domingo, 13. O leio e sei que é mais fácil ter posições fortes corajosas sobre assuntos que não conhecemos do que sentar, ler e pensar bem. Acho que o Daniel não consegue finalizar uma frase sequer nos aniversários e nos saraus que freqüenta. Racionaliza demais, e vivemos tempos em que ponderar é pecado. Deve ouvir muito, ao final de suas opiniões, perguntas como "Ué, cadê sua frase de efeito?!". Sabemos, eu e você, que a estupidez dita com rapidez e firmeza impressiona mais do que uma gaguejadinha, uma pensada rápida. Daniel Piza prova com suas análises acuradas que a vaidade é apenas o maior dos sintomas da burrice.

Leia o também excelente Os sete tropeços dos comentaristas e me diga se não é verdade.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Notas de segunda-feira

Diante do aumento de acusações de abuso sexual das tropas de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Congo, Kofi Annan proibiu, em carta, que os membros das forças de paz estuprem, obriguem alguém a se prostituir ou mantenham relações sexuais com meninas menores de 18 anos. Ah, sim.

Príncipe Charles vai se casar de novo. Não vou fazer piada com o novo título de Camila Parker, a noiva. Aliás, vou defendê-los. O povo não gosta de final feliz, em que o Amor prevalece? Então. Desarmem-se, carolas rancorosas. O príncipe Charles é a nossa versão masculina dos contos de fada. Vai finalmente ficar com quem ama.

O PT fez 25 anos de fundação na última quinta, 10. Seus maiores expoentes reuniram-se e brindaram. Em mais uma demonstração de unidade e consenso, a festa terminou na polícia e no IML, com muita gente envenenada e ferida.

As lideranças indígenas do Amazonas querem todos os cargos na organização da FUNAI, a Fundação de Assistência ao Índio. A civilização urbana está ultrajada com a petulância dos arigós. Onde já se viu? Daqui a pouco os jurunas vão querer direitos iguais aos dos brancos, como 40% dos salários dos funcionários subordinados, verba para diárias secas em viagens de mentirinha e auxílio moradia. Assim não pode, assim não dá.

Pesquisadores israelenses inventaram um software que mede a beleza feminina. Daí nasceu, entre os judeus, a expressão “mulher-bomba”, antes ignorada pelo grande público. O conceito – mais antigo – de “homem-bomba” ainda precisa ser bastante estudado, pois é praticamente impossível identificar um espécime, dadas as mutações que a espécie é capaz de sofrer. Um “homem-bomba”, por exemplo, que chegue nas boates com um chaveirinho da Audi ou um terno italiano facilmente confundiria o programa feito para as mulheres.

Harrison Ford vai interpretar um bravo herói de guerra no cinema. O herói presenteado com tal comenda será James Mattis, general dos marines americanos que nas horas vagas conversa com os jornalistas e diz ter sido "muito divertido matar pessoas" no Afeganistão e no Iraque.

Um garoto chinês de 11 anos, de Xingzheng, província de Henan, processou a mãe porque ela lhe prometera comprar um PC, caso ele tivesse um aproveitamento escolar acima de 95 por cento. Ele fez 97%, mas a mãe descumpriu o acordo. Menino de ouro, esse.

Morreu o dramaturgo americano Arthur Miller. Fez obras-primas como Morte de Um Caixeiro Viajante e As Bruxas de Salém. Mas venerado mesmo era por ter passado cinco anos dormindo com Marilyn Monroe.

Ray Charles é o maior vencedor do Grammy de ontem à noite. As grandes gravadoras já estudam incluir em seus contratos uma cláusula que estabelece a morte de seus clientes. Funciona assim: o astro decadente procura a empresa, e esta lhe sugere morrer, num acidente de carro ou de avião, e lhe garante, com isso, sucesso total. As gravadoras mantêm uma equipe de especialistas em mortes acidentais voltada pra isso. Britney Spears, Bon Jovi e a banda Oasis estudam propostas e, se toparem, logo serão celebrados postumamente como gênios da música.

A cidade alemã de Dresden, uma jóia da arquitetura barroca, foi completamente destruída por 14 horas de bombardeio americano e britânico (Oh!) no dia 13 de fevereiro de 1945. 35 mil pessoas – todas civis – foram incineradas. A cidade foi escolhida, como Hiroshima e Nagasaki, para servir de humilhação final aos inimigos. Ontem foram lembrados os 60 anos do evento. A polícia foi acionada para conter protestos que cobravam a punição pelo que teria sido um crime de guerra. Que absurdo!

O autor dO Malfazejo pede desculpas pela escassez de tempo, que o obriga a manter o formato das segundas-feiras em notas. Há textos no forno que logo sairão, provavelmente ainda esta semana. Ah, e obrigado pelas visitas. Espero ter suprido a necessidade de informações imprecisas, tendenciosas e fantasiosas que todos nós temos.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

A beleza da tristeza, ou vice-versa

Arkko Data/Reuters

Há certo consenso no fato dos dramas serem considerados os melhores, pois incomodam mais a sensibilidade de quem os assiste. Até onde minha vaga cinefilia me leva, não lembro de uma comédia sequer cotada ao Oscar. Jim Carrey precisou fazer chorar pra poder cogitar ter chances, e Maryl Streep é uma espécie de Mensageira das Lágrimas, fartamente premiada pela crítica e pela emocionada audiência. Arko Datta, o indiano que fez a foto acima, foi premiado com o World Press Photo of the Year de 2004, o mais importante prêmio do fotojornalismo mundial. A foto premiada é, como os aleijados e retardados de Hollywood, extremamente triste, e por isso mesmo linda. Mostra o luto de uma mulher indiana por um parente morto pelo Tsunami, dois dias antes. A foto concorreu com outras 69.000 fotos. Como naquele disco da Beth Gibbons, nem sempre a beleza está na tristeza, mas as chances disso ocorrer são bem grandes. Uma rápida olhada nalgumas das fotos vencedoras do prêmio Pulitzer confirma: é a tragédia o que nos emociona.

Flanders Rules!


Imagine você a final do Brasileirão: durante o primeiro tempo, palmeirenses e sãopaulinos trocam carrinhos, cotoveladas e cuspidas. Cartões amarelos às cuias, briga entre torcidas organizadas, muita tensão e muito policiamento. O juiz apita o fim da primeira metade do jogo, e então... um enorme palco é montado no centro do Pacaembu, enquanto animadoras de torcida (aquelas cheerleaders à americana) chacoalham seus pompons, esfuziantes. Quando começa o show do half-time, trechos da Paixão de Cristo são encenados, junto à recriação de Caim e Abel e do Grande Dilúvio. No palco, um bispo católico, devoto, ortodoxo, comanda uma pregação inflamada sobre os valores morais ensinados pela Bíblia Sagrada, enquanto motoboys da Mancha Verde abraçam, envergonhados, auxiliares de pedreiro da Gaviões da Fiel...

Improvável? No Brasil, talvez. Mas Ned Flanders, tradicional coadjuvante do seriado Os Simpsons, está na crista da onda desde que os defensores dos seus valores passaram a ocupar cargos poderosos da nação americana. Al Jean, produtor executivo do seriado, afirma que a linha dos criadores sempre foi satirizar quem está no poder, e agora a turma de Flanders é quem manda. Numa insuspeita união de forças, Flanders e Homer organizam, juntos, o show do intervalo do Superbowl. Cansado de ver a sujeira dominar o mundo da tevê de sua nação, Flanders decide agir. E é aí, já nessa atitude de ter atitude, que começa a sátira.

Ao revelar que tinha 60 anos de idade, Ned atribuiu sua aparência jovem à vida regrada, à mastigação pausada e às doses diárias da “vitamina Igreja”. Flanders parece ter decidido entrar no showbiz depois de assistir, estarrecido, Janet Jackson exibir o seio em pleno intervalo do Superbowl. O artigo da Associated Press chama a atenção do leitor para a ascenção divina de Ned. O jornalista Kent Brockman diz que os telespectadores americanos estão hoje irritados com os shows de intervalo, regados a religião e decência.

Não é verdade. Talvez poucos americanos hoje admitam, mas são – mesmo que satiricamente - genuinamente representados pelos Neds Flanders da vida real. Ou farão os críticos da Doutrina Bush como tantos paulistanos, por exemplo, que atribuem vitórias de políticos notoriamente corruptos aos migrantes nordestinos?

O artigo termina perguntando o que será dos cidadãos americanos que diferem do ponto de vista daqueles que governam o país. Graças aos Simpsons – e a Deus, claro! – pelo menos por enquanto resta rir.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Notas de uma segunda-feira gorda

BBB – Estrategistas são maldosos, falsos, não merecem o prêmio. Fossem as demissões de O Aprendiz decididas da mesma forma (o voto popular), o próximo grande executivo da Av. Paulista seria um motoboy mulherengo, que vende disco falso pra sobreviver e dá palestras ensinando como ser um camelô de sucesso. O Brasil tem orgulho de ser pobre.

Um policial sueco assaltou um banco e voltou, uma hora depois, para investigar o crime. Foi denunciado por seus colegas, que desconfiaram da compra de um carro de 31.000 reais. Confessou o crime e virou celebridade. Não pela cara-de-pau, mas pela burrice. Onde já se viu um policial andando de carrão por aí? Onde?!

O número de desempregados na Alemanha passou de cinco milhões no mês de janeiro, atingindo o pior nível desde 1933. Estão prontinhos para serem arrebatados pelo primeiro nacionalista inspirado que surgir evocando o grande valor da nação. Já aconteceu lá em 33. Que o mundo fique de olho.


Uma australiana foi pega vendendo, num site de leilões, caixas de cerveja Duff. A cerveja existe somente no seriado Os Simpsons. Justificou dizendo que precisava de dinheiro para comprar presentes de Natal para seus quatro filhos, Bart, Lisa, Maggie e Milhause. Foi condenada a fazer terapia. Seus compradores, a desligar a tevê.


O soldado americano capturado por terroristas iraquianos pode ser um boneco de brinquedo. O Pentágono informou que nenhum de seus bonecos de serviço no país sumiu dos estoques da guerra. Estão todos vivos e bem, com saudades de casa e da manteiga de amendoim do café da manhã.

A prestigiada imprensa britânica acusou Tony Blair de não ter condições de se concentrar nem de ter capacidade de liderança. Tudo porque encontrou no chão, após uma reunião no Fórum de Davos, um bilhete com rabiscos confusos e idiotas. Dias depois foi revelado que o autor do bilhete era Bill Gates, que sentara ao lado de Blair na reunião. O bilhete foi imediatamente levado a leilão e arrematado por Steve Jobs.

7.700 candidatos concorreram às eleições iraquianas. A imensa maioria sequer divulgou seu nome ou fez campanha, com medo de morrer. Os xiitas vencerão por W.O. pois os sunitas não puderam votar. Por isso já prometeram 'se vingar' da injustiça. As eleições à americana fazem escola.

O Carnaval continua. Ic!, expero que todox extejam ze diverdindo, ic!, borquê eu ajo que todox nózz merecemozz, ic!, e vozês sabeeeem que eu conzidero vozês bagaráio, né, ic! Não?! Barabénz ba vozê, minha ezgola guerida, muitas velizidades, muitos ic! anos de vida, 31 anos na memória, e O Malfazejo fazeno barte deza história...

What Else To Say?...


Prophet. Soul rebel. Rastaman. Herbsman. Wildman. A natural, mystic man. Lady's man. Island man. Family man. Rita's man. Soccer man. Showman. Shaman. Human. Jamaican!

(Bono Vox, sobre Bob Marley, em discurso, 1994)

As notas de segunda-feira estão saindo.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Minha porção Cameron Crowe

Carlos André fora um garoto tímido. Na década de 80 envelheceu dos 10 aos 18, e viu muita coisa. Apenas viu. Claro, não era inferior ao Kiko, xará seu. Mas Carlos era tímido, e se alguma época foi especialmente mortal para os meninos tímidos, foi aquela, os 80.

Kiko falava engraçado, e Carlos, inconscientemente, o imitava. Kiko sempre tivera tudo, e Carlos, cruel como só as crianças podem ser, já obrigara a mãe, funcionária pública e leoa nas horas vagas, a comprar desde Reeboks importados até bicicletas de alumínio, tudo pra fazer parte da roda do Kiko. Mas não dava. Kiko já dirigia desde os 10 o carro da mãe, um Monza Classic, e o carrão do pai, um Escort XR3 com guidão acolchoado e faróis de neblina. Um espetáculo. Carlos já tentara roubar o Chevette hatch do namorado da mãe, mas o motor a álcool do carro frio o deixara na mesma situação da moça de Desejo de Matar 3, cercada por malfazejos num estacionamento subterrâneo vazio, sem nenhum Paul Kersey para ajudar.

As festas, sempre na casa do Kiko, eram as melhores, e passaram rapidamente dos campeonatos de River Raid no Atari às festinhas na garagem, iluminada com luz negra e lâmpadas estroboscópicas. Naquelas festas não podiam entrar o Somewhere in Time, do Iron Maiden, nem qualquer coisa de Marillion, que eram coisas de macho. “Silvia” (piranha!), do Camisa de Vênus até rolava, mas no final. Era tempo de Rádio Pirata, e as meninas sonhavam ser escolhidas pelo Kiko para dançar London, London. Via-se muito Footloose, mas ninguém queria ser Kevin Bacon. Sentados em cadeiras de abrir, encostadas nas paredes da garagem, os meninos escolhiam as meninas. Os beijos eram todos belos, românticos, e Carlos apenas assistia, pensando na Daniela, sua vizinha, e na Luciana Vendramini, que dava a Paulo Ricardo aquela aura de divindade, “O Cara”.

Carlos era apaixonado por Daniela, que não era a menina mais popular ou cobiçada do bairro, o que destoa do clichê dessas histórias. Seu amor não era puro, poético. Era físico mesmo. Ele dormia e acordava pensando nas pernas dela, sempre à mostra nos shorts. Já àquela altura, lembrando daquilo tudo tantos anos depois, era capaz de lembrar o perfume dela.

Agora Carlos era casado, e outras paixões e amores já havia vivido. Daniela também era casada, morava numa casa grande com o marido e três filhos. Nunca mais se viram. Ele lembrava também do Kiko e suas camisetas Cristal Graffiti e Píer, as mochilas Quebra-Mar e daquele disco do Ultraje a Rigor, cujo logotipo tremia na capa do vinil. Abriu a porta do guarda-roupa e viu, empilhados, o mesmo RPM, The Smiths, New Model Army e até um Ritchie, que ouvia escondido, entre um Exploited e um AC/DC. Encontrou fitas cassete do Léo Jaime e, puta merda, a trilha de Karate Kid, com, puta merda, Peter Cetera. Lembrou de quase tudo, desde Flashdance, passando pela Faces, onde nunca estivera por não saber dançar nem paquerar, chegando até os filmes pornô que a galera assistia quando os pais de alguém viajavam. Lembrou de tudo com a nitidez que um perfume, uma música ou um lugar trazem. Lembrou que não mudara muito, que ainda era tímido, anticarismático. Lembrou da Daniela e de todas as outras paixões, fortes e duradouras como um tornado. Ainda não sabia chamar a atenção, só conseguia guardar, na lembrança daquele All-Star (o Converse!) e daquelas fitas TDK empoeiradas, as imagens da melhor e pior época de sua vida. Sorriu, percebendo o clichê que ele era: o garoto ruim de papo e bom de redação, observador e solitário, lembrando o que vira, e não o que vivera.

Salvou o texto e pegou as chaves do carro.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Um grande clássico, sempre perto de você


Malabarista contratado para fazer a foto de divulgação

A estréia do novo uniforme do Flamengo, cheia de pompa e pirotecnia, está marcada para o próximo grande clássico do time da Gávea, contra o São Raimundo, de Manaus. Os especialistas da ESPN não arriscam um palpite, mas admitem que o time rubro-negro tem leve vantagem. Evitando falar em favoritismo, os craques flamenguistas dizem "ehh... a gente vai procurar respeitar o adversário e dar o melhor de si para jogar bem e sair daqui com os três pontos".

terça-feira, fevereiro 01, 2005

A Ancinav faz escola


Os animadores de torcida brasileiros do Reverendo George, fazendo pose

A sede da Igreja Batista Metodista Americana, na Avenida Pennsylvania, 1600, em Washington D.C., decidiu gastar 130 milhões de dólares num projeto que institui Aulas de Abstinência nas escolas americanas, onde as crianças são apresentadas ao moderno e revolucionário método contraceptivo cristão: não trepar. O alerta soou quando o Reverendo foi surpreendido no Oval Office com o dado de que irônicos 23% das meninas texanas com 13 anos de idade já havia dado sua florzinha para algum zagueiro da escola, apesar da tradicional e fanta criação religiosa americana.

Depois do maçiço investimento da Igreja, o porcentual de sorridentes meninas iniciadas já era de 29%. Já os meninos de 13 anos praticantes da fornicação infantil, que antes eram 24%, agora são 39%. Perguntada sobre o que poderia ter causado a desobediência à Igreja e a Deus, Pamela Sparxx Taylor Saint Lords, 13, respondeu com a pureza desconcertante que só as crianças têm: "Um charme essa sua gravata, sabia, tio?"

Mas nem tudo está perdido. Um estudo de dois anos revela que a maioria dos jovens americanos acha que a Terra dos Livres tem liberdades demais, apóia a censura e a aprovação prévia de notícias pelo governo americano.

Que os Rafaéis, Jorges, Diogos, Isaques e Jacós do terceiro mundo durmam com um barulho desses. Defendem (meio malandramente, é verdade) ideais de liberdade e democracia que seus próprios ídolos, os americanos, já sinalizam desprezar. Teimam em admirar rastros de luz de uma estrela que cada vez mais parece ter morrido. A ignara massa petista, por exemplo, ao menos se desfilia, toda idealista (e boba, portanto), do partido. Já a ignara massa de fiéis brasileiros do Reverendo George e de seus diáconos vem ainda mais atrás, defendendo, cínica e deslumbradamente, coisas que não existem mais.

Eu finalmente encontrei entre os brasileiros algo mais medíocre do que um esquerdista militante comum. Encontrei esquerdistas militantes de direita.