quinta-feira, março 31, 2005

Os Velhos Olhos Azuis


Fim de março, 2005. E Aqueles Velhos Olhos Azuis se apagaram. A senhora, Dona Nair de Melo Benigno, nos deixa aqui, menos inteligentes, menos francos, menos carismáticos, mais simplórios, mais sem tempero, mais mundanos, falsos e burros. Ainda tentamos pintar um belo quadro, imaginando o reencontro com o seu Velho Ismael. Mas o bonito mesmo foi aqui, durante esse quase-século. E seguimos essa existência, de cestos nas costas, lutando uns com os outros por maçãs no chão. Maçãs que não levaremos a lugar algum.

Minha avó, seus Velhos Olhos Azuis farão falta.

Nair de Melo Benigno, 1912-2005.

terça-feira, março 29, 2005

Brasil, pfvr, não mostra a tua cara


Nós, brasileiros, somos estranhos mesmo. Sinto, por parte da imprensa, e pior, por parte de muita gente que se diz boa, certa simpatia pela figura mais falada do país. Sim, ele mesmo, minino: Severino Cavalcante. E o pretexto para essa anarquia de julgamento seria a suposta anti-hipocrisia do Presidente da Câmara dos Deputados. Pensa-se assim: certo está ele, que ao menos não faz de conta que é correto, ético. Como todos ali são ladrões, é digno de elogio aquele deles que vem a público assumir-se ladrão. Digo ladrão sem qualquer receio pois, além de não ocupar cargo público e viver numa democracia, nesse ponto faço o jogo Severínico, não escondo o que penso. O mesmo que pensa (e diz), aliás, a grande imprensa brasileira, todo santo dia, com suas notinhas cautelosas e insossas, chamando ladrão de tudo, menos de ladrão. Convencionou-se, nesse país (pra usar um Lulismo corrente), se ter vergonha (ou medo) de chamar os ladrões pelo que eles são, enquanto eles nos chamam de otários, com todas as letras, quase silabando (ó-tá-riô!), diariamente, na nossa cara. O senso comum brasileiro é tão distorcido que amamos o bom bandido, a celebridade retardada, o analfabeto orgulhoso, o malandro charmoso, a apresentadora de tevê infeliz. Não estamos desiludidos com a classe política, isso é mentira. Decepção pressupõe expectativa. Nunca nos interessamos por política, nunca quisemos saber. Não fazemos idéia do que diz a Constituição, de como funcionam os poderes, de quem ocupa a linha de sucessão presidencial, de como andam os balanços do governo. Nunca nos importamos, e por isso não temos autoridade para exigir lisura deles. Educar é reprimir. Políticos não se comportam bem no escuro, isso é instintivo. Depois de elegê-los e esquecê-los, não adianta espernear. Não adianta torcer o nariz pra quem ousa falar em política na mesa do bar e depois dizer–se "traído" pelos – cof!, cof!, desculpe - ladrões.

Mas, por favor, parem com esse negócio de achar graça em Severino. Não peço que o condenem por sua cara-de-pau, isso já seria demais para os níveis nacionais de decência. Mas pelo menos não o elogiem. O país não vai se consertar por isso, claro, mas já é um alívio para a azia de quem ainda tem vergonha de ser representado por essas aves de rapina folgadas e semi-analfabetas que – Deus - estão lá por nossa causa. Severinos, Romeros, Malufs, Quércias, Martas, Valdomiros, Inocêncios, Barbalhos e etc. são ladrões, com fartura de provas, processos e denúncias. E eu não me policio para falar ladrão, lepra, câncer, preto, catarro nem “dá licença”, palavras e expressões meio proibidas nêfe país.

segunda-feira, março 28, 2005

Notas de segunda-feira


Exatamente. Não há melhor representatividade no Brasil do que sua torcida e seus políticos. A seleção era vaiada ontem. Fez o golzinho. Dois minutos depois os jogadores já davam passes de letra, ao som do "Olé!" da maravilhada torcida.

Já chega, aliás, de Robinho. Definitivamente as condições atuais do futebol, especialmente no Brasil, não favorecem em nada o surgimento de um novo Pelé. Digam isso ao moleque, que até já dá socos no ar, deslumbrado pela burrice da torcida. De péssimo gosto.

Taí, concordei com o Diogo Mainardi: Brasileiro não sabe fazer música. Fez, no máximo, umas bossinhas pra som ambiente de restaurante, pras novelas do Manoel Carlos e pra filmes bobos do Bruno Barreto. E concordo com o Rafael Azevedo, quem diria: detesto quem a-ma! Elis. Pior ainda, quem a chama de “A Elis”.

O bar está ficando sofrido como uma sala de cinema pra mim. Desconhecidos têm sentado à minha frente pra tocar Bruno & Marrone e garçons não anotam meus pedidos. Que tipo de pessoa acha que um pedido de dezoito chopes é brincadeira?

Cecília, obrigado pela breve visita a Manaus. Já estamos com saudades.

Muita gente peca, e peca muito, durante a vida. E a malícia, exclusividade humana, produz dessas coisas. Durante a páscoa vemos nos filmes a facilidade com que Jesus perdoa o ladrão, aos 48 do segundo tempo. Uma apologia ao crime, Senhor. Tem gente que vive contando com isso.

Dezenas de pessoas morrem todos os dias no Iraque. Civis inocentes, mulheres e crianças. Mortes matadas, não morridas, pela vontade de Deus, que é tão sagrada às pessoas que menos a cumprem. Bem que Frank Zappa disse: "O governo é a Divisão de Entretenimento da Indústria Militar".

FHC deve receber convite para participar do Casseta & Planeta este ano. Num programa apenas, é válido dizer. O convite ainda não foi oficializado, mas FHC deve aceitar. Hubert que se cuide.

Estou pra citações, hoje. Leio Mãe, de Máximo Gorki. Bom, bom. Pavel começa a montar seu grupo socialista. O Comunismo é realmente lindo, como o pote de ouro no fim do arco-íris. Vou de Churchil: o vício inerente do Capitalismo é a divisão desigual da riqueza. O do Socialismo é a divisão igualitária da miséria.

Um anúncio da MTV, anteontem: "Desligue essa TV, vá ler um livro". Honestidade levada ao limite do suportável, diga-se. Mas sempre fiquei curioso com o seguinte: ler um livro é sempre mais válido do que ver tevê? E se na tevê estiver passando um superdocumentário sobre a guerra da Coréia? E se o livro mais próximo for O Diário de Bridget Jones?

Flávia Grosso, superintendente da Suframa, enfeita as páginas de O Globo e um relatório do Governo, apontando os maiores gastadores de celular nos 13 ministérios. É a campeã, com mais de 20.000 reais em contas de telefone. Explicação? "Quando viajo em comitiva, em vez de usarmos diversos celulares, todos usam apenas o meu. É até uma economia." Ah, tá.

...

quinta-feira, março 24, 2005

E naquele QG da Galiléia, II


Dias depois...

- Tomé, o Senhor está vivo! Está vivo!
- Hã?
- Ele vive!
- E onde estão as evidências objetivas? O que nós diremos quando questionarem o que dizeis?
- Mas, Tomé...
- Não, João, nada de "mas". De que vai valer o Mestre estar vivo se daqui a milhares de anos ainda vão estar duvidando da gente? Hoje credibilidade é tudo, João.
- Humpf...
- Querias uma evidência objetiva, Tomé?
- Senhor!
- Era isso o que querias, me ver?
- Senhor, estou apenas fazendo a coisa certa, não me entendas mal...
- Tocais aqui, Tomé. Sintais o furo da lança que me enfiaram.
- Eh-eh... Ah, agora sim. Dai-me licença, Senhor...
- Sentiste?
- Sim, é verdade! Tu vives!
- Sim, claro. Mas sinto dizer-te: estais despedido.
- Como? Por quê?!
- Colocaste em cheque a credibilidade da própria igreja, Tomé. Não acreditaste no meu retorno, na minha ressurreição. Não posso colocar na direção da Igreja alguém que duvida da idéia central dela, a minha vitória sobre a morte. Não percebeste que esse é o nosso diferencial?
- ... hã?
- Sim, quantas religiões já viste assim, com um chefe que dribla a morte, faz milagres, multiplica comida, transforma água em vinho, devolve a visão aos cegos? E tu vens e duvidas disso?
- É, pois é. Que mancada...
- Bom, tudo bem, eu já tinha decidido mesmo pelo Pedro. Precisava apenas fazer esse último teste contigo.
- Mas por que Pedro venceu?
- Venha cá, Pedro.
- Eis-me aqui, Senhor.
- Pedro, respondais a Tomé: No caso de alguém vir fazer perguntas sobre mim, e perguntar se eu era o filho de Deus, se eu comandava alguma coisa, enfim, se me conhecias, o que dirias?
- Não, não e não, Senhor!
- Taí, Tomé, estás vendo? É dessa convicção que eu preciso.
- Mas ele te negou, e três vezes, Senhor!
- Mas negou bonito, não negou?
- É, é verdade. Quase me convenceu que o Senhor não existe.
- Ah, vais começar novamente com isso, Tomé?!

Boa Páscoa a todos.

E naquele QG da Galiléia, I


(Com a vossa licença para a pequena e respeitosa brincadeira...)


- Humm... deixover quem vai assumir a minha Igreja na terra... Pedro, vinde cá, tu achas que mereces ser o meu primeiro Papa?
- Sim, Mestre. Sou o mais preparado para isso.
- Por quê? Dize em trinta segundos* por que achas que deveria ser tu.
- Bom, Senhor, primeiro: eu passei a minha vida me preparando pra isso; segundo: eu tenho muita ambição, muita vontade de vencer. Tenho certeza que estou aqui pra somar; terceiro: sou fiel como um cão, nunca vou abandonar-te. Contai comigo, a tua igreja só tem a ganhar com alguém como eu, obstinado, competente, visionário, prático, ágil.
- Ok, Pedro, teu tempo acabou, muito obrigado e boa sorte. Próximo!
- Com licença, Mestre. Boa tarde.
- Boa Tarde. Vejamos: Tomé, correto?
- Exato.
- A-hã... Estou aqui com teus dados... Hmm, bom, bom... Te defines como extremamente metódico e cauteloso, eu gosto disso. Mas vamos lá. Por que quereis ser o Papa da minha igreja? Trinta segundos pra ti.
- Bom, é, é... Senhor, eu tenho os pés no chão, não corro grandes riscos, a não ser que a recompensa seja valiosa. Pra mim, santo mesmo só será quem comprovar milagres, com testemunhas idôneas e extensa lista de provas materiais. Vou pessoalmente checar cada fenômeno, cada cura, cada relatório da nossa Igreja. Acredito que assim ajudarei no sucesso da Igreja. Eu, só eu, posso fazer isso pelo Senhor.
- Ok, Tomé, tempo. Bom, senhores, muito obrigado pelo vosso tempo. Não preciso dizer que desejo boa sorte aos dois. Tenham a certeza de que, independentemente de quem estará assumindo o cargo, são ambos grandes concorrentes. Vocês derrotaram 10 candidatos bons, qualificados. Aqui não há perdedores.
- Obrigado, Senhor.
- Obrigado, Senhor.
- Até mais. Vou estar entrando em contato convosco brevemente. Tchau-tchau.

* Unidade de Tempo convertida para o sistema atual


Continua...

quarta-feira, março 23, 2005

Não deu.


Há dias em que tenho verdadeiros espasmos de rigor. Ou de burrice, sei lá. Como todo blogueiro adulto, do tipo que mantém o polegar e o anelar da mão esquerda sobre o alt-tab pra qualquer eventualidade, me vejo como um tiozinho que joga game-boy e freqüenta matinês de domingo, rodeado de pivetes conversando javanês, e senhores barrigudinhos, de suéter e óculos moderninho, ridículos, citando filosofia como bichas num bate-boca. Passei o dia pescando inspirações para um postsinho chocho, que fosse. Não deu. Dentro das CNTP, o vácuo é mesmo – às vezes – o ambiente perfeito, onde o movimento é retilíneo, uniforme, deliciosamente chato. Ser interessante, divertido e inusitado deve ser um saco.

segunda-feira, março 21, 2005

Sorry, Professor Pirajá



Daniel Azulay


M. C. Escher

"Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino."

1 Coríntios 13:11

Notas de segunda-feira


Um alemão ganhou 65 milhões de reais na loteria. Ao receber a notícia, na mesma casa lotérica de sempre, cortou o caixa que lhe contava a novidade, dizendo não ter tempo pra conversa, pois estava atrasado para o trabalho.

Parece que Sabino Pozinho Branco vai perder seu programa de tevê.

A Editora Brasil 21, ligada à Istoé, venceu a licitação para livros escolares. A revista paulista sempre teve como seu defensor em Manaus o publicitário Egberto Baptista. Impressionante, o cara.

Entidades defensoras de animais de todo o país estão se mobilizando para fazer um protesto nacional contra a novela "América", da Globo. Impressionante, a Dona Glória.

Caroline Bittencourt vai ter programa de tevê.

Empresas biopiratas estrangeiras estão vendendo amostras de sangue de tribos indígenas brasileiras. O governo brasileiro grita “absurdo!”, “um ataque à soberania brasileira!”. Cada amostra é vendida por R$ 242 reais. 242 “miaus” por uma amostra do meu sangue? Quis’ mané Soberania, nada... Pode trazer a agulha.

Uma boneca inflável provocou alerta de bomba em agência do correio ao vibrar dentro da caixa. O remetente, visivelmente abatido, devolvia o produto por mau funcionamento. Foi chamado e teve que tirar as baterias da moça, que ficava fogosa em qualquer lugar, a qualquer hora. Os funcionários dos correios foram presos dias depois, visivelmente abatidos, sob acusação de violação de correspondência.

Há uma coisa que não entendo nessa discussão sobre eutanásia: Manter o coração de uma pessoa batendo durante quinze anos com o uso de aparelhos não é ir contra a vontade de Deus, o que esses idiotas tanto defendem? Deixar morrer não é matar, é deixar morrer. Mudar isso, sim, é impedir que o destino das pessoas continue.

Paulo Coelho está em todas as capas de revistas, de novo. Esperneiam os intelectuais, os hipócritas e os invejosos. Estouram as vendas de ovos de chocolate e antiácidos pelo Brasil. Que divertida essa gritaria.

São – ops, padre - Sério Lúcio reuniu 200 mil na novena de São José. Vai pra Belém. São José, que nunca ganhou mesmo muita bola dos infiéis católicos, vai novamente cair no ostracismo manauara. Já Belém agora vai bombar. Os paraenses estavam certos, quem diria. A Belém bíblica era a deles.

sábado, março 19, 2005

Desculpa pra queimar mato


Os cantadores de reggae são o exemplo clássico dos seguidores medíocres de um líder genial. Tirando um pezinho do chão de cada vez, saúdam os mantras vazios de um arremedo de filosofia, cantando seus "liberdade pra dentro da cabeça". Louvam, e apenas isso, a atitude e o talento que outros tão melhores tiveram. Não se vê mais as letras ativistas, politizadas, que tocam nas feridas da vida. Bob Marley não fez reggae pra embalar festinhas de maconheiros. E hoje o gênero, que até ensaia uma volta à moda, está mais vazio do que as letras do Cidade Negra e do Tribo de Jah. Algo como se toda a obra de Bertrand Russel fosse reduzida ao slogan "O trabalho empobrece o espírito". Os rasta-men de hoje são péssimos. Compõem covers das músicas de Bob e Peter Tosh, e acham que suas canções são inéditas. Seu eu usasse linguajar chulo – o que não faço -, diria que gozam com o pau dos outros. Mas eu não diria isso, claro. Diria que o único reggae de raiz – yes, já batizaram a parada – hoje em dia não dá música boa, nem letra boa, nem nada bom. Só THC.

sexta-feira, março 18, 2005

O Malfazejo recomenda


Ouço música correndo atrás dos espasmos de encantamento que surgem em meio ao marasmo medíocre do dia-a-dia. Assim comecei a me encantar com os Rolling Stones: nos créditos do meu filme de guerra favorito, Nascido para Matar. Com os primeiros acordes de Paint it Black eu me interessei por eles de um jeito que nunca consegui me interessar pelos Beatles. Assim foi com 7 Seconds, de Neneh Cherry e Youssou N'Dour e com o disco Trust, do pianista John Boswell, que ouvi num avião e nunca encontrei pra comprar. Trust é meu Santo Graal atual, junto com aquela beleza de trilha da propaganda do Chivas. Conheci Leonard Cohen na primeira cena de Assassinos por Natureza, com sua Waiting for a Miracle enfeitando a película amarelada (aquela que Hollywood usa pra filmar no México, por exemplo). Ali a minha paixão nasceu. Hoje, com esse The Essential Leonard Cohen nas orelhas, me sinto como todo crente recém-convertido deveria se sentir: estou aquecido nesse inverno, e quero que tudo mais vá pro inferno.

quinta-feira, março 17, 2005

País mono em planeta True Color


Severino facilita a vida do Brasil. É vilão daqueles folclóricos, simplórios. Há até quem goste dele: como sempre, os dioguitos do Brasil, doidos para avacalhar com o senso comum. É político, iletrado, nordestino, tem orgulho da “filha estudada” e atende por um nome que é quase o título do estereótipo cangaceiro. Em miúdos, é a Nazaré da novela, vilã declarada, orgulhosa de suas maldades. Assim sim, captamos a mensagem e saímos à gritaria. Mas Severino, a anta nordestina que agora chefia as hienas parlamentares, também tem suas nuances mais complexas. Agora eles conseguiram o aumento que tantos protestos causou quando Nazaré riu diabolicamente. E é assim que funciona. Aqui, Nazarés acabam se atirando de pontes no último capítulo. Mas vilões mais astutos, Toms Ripleys com maior acervo de facetas, conseguem o que querem. Ninguém aceitou o aumento no salário? Tudo bem, a gente aumenta na verba de gabinete. Pronto, ninguém viu. Sshhh... silêncio... a nação está dormindo, feliz com os casamentos do fim da novela...

Gates... Elizabeth... Sultão de Brunei... Fidel???!!!


Comunista, anti-imperialista, anti-consumista, anti-americano, anti-liberdade, anti-democracia. Está na Forbes, a Caras dos milionários imperialistas. Um dos homens mais ricos do mundo. E continuamos tendo que aturar quem o admire...

terça-feira, março 15, 2005

Strange fruits are the sweetest ones


Eu via Mickey Rourke arrumando os lençóis da cama de casal, sob o ventilador de teto, que fazia um efeito estroboscópico em slow-motion com a luz do sol. Acabara de convencer Kim Basinger a acompanhá-lo até sua casa. Dela lembro o olhar receoso e seduzido, a expressão ainda mal feita duma atriz ruim, mas com lábios ótimos. Então o cara saca um vinil de Billie Holiday. É a gota. Assustada - e definitivamente adorando a sensação -, kim diz algo como "Você tem certeza que já conseguiu, né?". As 9 e meia semanas seguintes respondem a pergunta.

Billie Holiday é a melhor das cantadas.

segunda-feira, março 14, 2005

Notas de segunda-feira

Cientistas espanhóis identificaram uma molécula que permite a expansão do câncer. A descoberta abre a possibilidade de que o próprio organismo combata a doença, dispensando a quimioterapia e a radioterapia. Os estudos vão continuar. Tomara que tudo dê certo.

No Paraná, a polícia já prendeu 200 ladrões de relógios de luxo, que vinham de São Paulo. Altamente especializados nas marcas mais caras, são financiados por grandes receptadores paulistanos. Irônico, isso. Ver paulistanos indo pra outros estados pra roubar.

Damião da Silva, filho de desempregados, vigia de 22 anos, recebeu 2 mil reais a mais do que o seu salário, de 440. Devolveu tudo. O prefeito da cidade, João Pessoa, quis conhecê-lo e parabenizá-lo. O que eu disse na semana passada sobre os honestos?...

A boate Blanc, na cidade de Santo Domingo, República Dominicana, promoveu um concurso de tequila. Simples: quem bebesse mais, ganhava cerca de 1.000 reais. Resultado? Um rapaz morto e outros três em estado grave. Abalaram, u-hú!

Abbas acusa Sharon de boicotar paz. Pelo jeito acabou a Lua de Mel. Bem disse Maggie Tatcher: "Se você quer que algo seja dito, peça a um homem. Se você quer que algo seja feito, peça a uma mulher".

Uma família maranhense vinha sendo procurada desde a tragédia na Ásia, no fim do ano passado. Haviam viajado para a Tailândia e o Itamaraty não conseguia informações sobre pai, mãe e seus cinco filhos. Enfim a busca acabou, com final feliz. A família havia se mudado de Zé Doca, no Maranhão, para Tailândia, cidadezinha de 38.000 habitantes. No sul do Pará.

Maria Braulina Alves, de 83 anos, foi presa na Bahia. Não urinou em via pública, não assaltou a farmácia nem surrupiou linha de crochê da loja de armarinhos. Traficava maconha. Tinha 1 tonelada consigo, no momento da prisão.

Depois de passar três dias atrás das grades na cidade de Arauca, a 400 km da capital colombiana Bogotá, um burro detido sob suspeita de causar um acidente de trânsito foi solto nesta quarta-feira sob fiança. Além de ser réu primário, Pacho, o burro, estava colaborando com as investigações, teve seu passaporte confiscado e tem residência fixa.

FEBEM de Tatuapé, em São Paulo: Quando um incêndio ou uma invasão policial matar centenas e a mídia mundial mostrar a cara do Brasil, os secretários de turismo e de segurança finalmente vão aparecer, condenando os Matt Groenings e Larry Rothers da vida.

É impressão minha ou a decisão pessoal de Lula de intervir na saúde carioca é pura e simples campanha política?

Greve de motoristas e cobradores em Manaus. Caos, engarrafamento, filas, atrasos, piquetes. No rádio, Ronaldo Tirandentes, o monoglota, chama Serafim de incompetente. No palanque, Sabino Pozinho Branco e Padre Braz Silva, o carismático, chamam Serafim de incompetente. Com inimigos como esses, quem precisa de amigos?

sexta-feira, março 11, 2005

Da customização

Na livraria, gostava de folhear os livros, especialmente os best-sellers, na gôndola da entrada. Encontrou o Desvendando, o Revelando, o Quebrando, o Decifrando, o Soletrando e o Silabando o Código Da Vinci. Gostou mais das orelhas simpáticas dos dois últimos:

Soletrando o Código Da Vinci
"Vamos lá, repita comigo: C, Ó, D, I, G, O, respire, D, A, respire, V, I, N, C, I."

Silabando o Código Da Vinci
"Diga em voz alta, depois de mim: cê, ó, có; dê, i, di...

quinta-feira, março 10, 2005

Apesar de você, Chico


Chico Buarque e Michael Kepp

O jornalista americano Michael Kepp, casado com uma brasileira, escolhe uma das unanimidades nacionais – Chico Buarque - e atira. Em seu artigo Deus realmente existe ou ele é só o Chico Buarque?, que li na Superinteressante, acerta quando diagnostica a veneração que o brasileiro tem por seus ídolos. Peca, pelo cinismo e pelo atalho fácil que toma para dar um tempero (desnecessário; falar do Chico já basta) a seu julgamento. Agora que o Chico protagoniza as revistas de fofoca, lembrei desse artigo. Recomendo aos adoradores de Chico, aos anti-americanos e aos praticantes da Seita do Polemista Preguiçoso.

quarta-feira, março 09, 2005

O Circo dos Horrores chegou

Jaime Monjardim, Marcos Viana e Glória Perez
Oh, Deus. Abençoai as criancinhas indefesas que serão batizadas de Sol a partir de agora. Acalmai a inveja que se abaterá sobre as pequenas Jades espalhadas pelo país. Protegei os forrozeiros e pagodeiros, que de súbito tornar-se-ão compositores da legítima música country brasileira. Abençoai Murilo Benício e Déborah Secco, a nata da dramaturgia nacional. Que seus namorados se despeçam. Que a Caras e a Contigo se preparem. Trazei do limbo, novamente, toda a família Glória Perez (Raul Gazola, ET de Varginha, Preta Gil, Eri Johnson, Saci Pererê...) Perdoai Matheus Nachtergaele, o Robin Williams nacional; ele não sabe o que faz. Iluminai o bordão grudento que alguém do núcleo pobre repetirá, até que todos nós o absorvamos. Consolai as comunidades que serão ofendidas. Tornai surdo e cego o bom senso. Abençoai a invenção da tevê por assinatura, do controle remoto, a finitude das coisas. Ajudai-me a aturá-los, os fãs, os espectadores. Apartai-me dos chapéus, das fivelas, das botas e das músicas que terei de ouvir. Ajudai-me, ó Deus, a vencer mais essa provação.

Bittersweet Symphony

Os pobres, aqueles que nunca deixarão de ser pobres, acreditam demais. Quando crianças aprendem a ler e pouco a escrever, lembrando das ingênuas palavras de seus pais, invariavelmente semi-analfabetos: se você quiser ser alguém na vida, estude, meu filho. Então eles estudam. Decoram tabuadas, aprendem a separar os sujeitos dos predicados. Mas quando a hora da recompensa chega, a vida os enrola, como o chefe que não lhes paga o que deve. Dia após dia o ritual do prato feito, do vale-transporte, do cansaço e da coxinha com refresco se repete. Não há diploma, não há vitória. Só uma profunda e insistente felicidade, apoiada na fé, nos santos e nas promessas. O pobre é antes de tudo um crente. Quanto maior sua pobreza, maior sua fé. E morrem nas filas governamentais, à espera da benção – divina, claro – do ordenado da aposentadoria. Quando não tombam, voltam exultantes pra casa, com suas sacolas de feijão de terceira, para alimentar os filhos desempregados, que também estudaram quando crianças. Ligam a tevê, queimam o lixo e sentem-se num churrasco de fim-de-semana. São felizes, tombando um após o outro, como células mortas de uma ferida gigantesca chamada Brasil.

terça-feira, março 08, 2005

Oferta e Procura

Minorias chamam atenção, e por isso meu país gosta tanto de gente que anda fazendo honestidades ou sendo bonito por aí, à luz do dia, impunemente. Guardas que multam, caixas de banco que não atendem furões, fiscais que autuam, policiais que prendem, médicos que curam, professores que ensinam, servidores que trabalham... Todos deveriam ficar famosos e sair no site Paparazzo. As câmeras escondidas dos Fantásticos deveriam flagrar o honesto em pleno ato de honestidade. O açougueiro que não adultera a balança, o dono de posto que vende gasolina de verdade, o mecânico, o encanador e o advogado que não enganam. O clímax do Teste de Honestidade seria a oferta do suborno, sob rufar de tambores. No momento do “Não, obrigado, isso não é certo”, portas deveriam abrir, familiares, amigos e figurantes deveriam vir em aplausos; luzes e flashes deveriam mirar no honesto. Dali, o honesto deveria ser levado, de helicóptero, ao Faustão, onde seu Arquivo Confidencial seria aberto, sem censura, sem cortes, para a nação inteira. O padeiro contando do troco a mais devolvido na infância, a professora de matemática lembrando de quando ofereceu ajuda ao honestinho durante uma prova, e recebeu como resposta um “não, tia, isso não é certo”. Biólogos fariam mesas redondas, explicando à população como acontece o fenômeno dos Ursos Pandas Albinos e dos Honestos.

Haverá um dia em que CPIs caçarão ferozmente os honestos. Carros populares de segunda-mão, churrasqueiras de bafo e DVD players malaios (com karaokê) serão confiscados, contas-salário da Caixa serão investigadas, conexões de tevê a cabo e energia elétrica serão averiguadas pela PF. Celulares de cartãozinho serão monitorados, com a permissão da justiça. Flagrados, os honestos serão apresentados à população, sondados pela Marlene Matos e farão propagandas pro Polishop. Muito dinheiro, dinheiro fácil. E tudo à custa de muita honestidade.

Atualização: um delegado da PF gravou imagens suas, dando voz de prisão a um advogado que lhe oferecia suborno. Ao ver o desonesto, simples mortal, de joelhos, pedindo clemência, falou grosso, quase fazendo pose pra sua própria câmera: “Levanta, rapá, seja homem pra ser preso como foi pra oferecer dinheiro, rapá! Esse país ta mudando rapá, cê não vai mais fazer isso, não!”. Esse vai pra propaganda do governo, igual Seu Raimundo, porque “não desiste nunca”.

segunda-feira, março 07, 2005

Notas de segunda-feira

Desavisado, um intérprete de Daniel Passarella, novo técnico do Corinthians, compareceu a uma entrevista coletiva com uma camiseta verde. Quase apanhou da Fiel. Com as raras exceções que confirmam qualquer regra, as torcidas são o que há de mais primitivo e ignorante na raça humana.

Severino Cheque-Cheque: Deve se candidatar à Presidência da República pelo PP em 2006. Tem meu total apoio, pois gosta de cumprir suas promessas. Em seu governo, cada cidadão ganhará carro oficial, auxílio combustível, auxílio moradia, auxílio educação, auxílio vestuário, engraxate, cafezinho, passagens aéreas e emprego pro resto da família.

Ainda Severino: O presidente da câmara afirmou que qualquer eleitor que precisar de ajuda pode procurá-lo e deu o exemplo de um eleitor que foi pego dirigindo com a carteira vencida e ligou para ele, que conseguiu que o policial liberasse o motorista sem habilitação. O outro caso se referiu a um amigo que em uma briga acabou quebrando um bar. Taí um brasileiro porreta! E ainda diziam que era Lula a personificação do brasileiro típico...

Um sorriso – Parece que a banda Charlie Brown Jr. acabou. Até que enfim...

Uma lágrima – Netinho (mais um que enriqueceu gemendo) e Alexandre Pires (o maior mega-astro mundial de Viña Del Mar) montaram sua própria gravadora de discos. É isso que dá deixar livres um bêbado que mata no trânsito e um espancador de mulheres. Bem feito pro Brasil.

Os EUA acusam - corretamente - a China de violar os Direitos Humanos. A China devolve citando – devidamente - Abu-Ghraib e Guantânamo. Sabe o sujo falando do mal lavado? Pois é.

Um deputado amigo do Ratinho apresentou projeto de Lei sugerindo a criação do Dia Do Cachorro. Muito me surpreenderia se o amigo do Ratinho sugerisse o Dia do Gato.

Uma funerária da Hungria começou a estabelecer os preços dos enterros de acordo com o peso do cliente. Seus serviços incluem um bufê completo de saladas, massas e carnes. O cliente que acertar o peso exato de seu ente morto leva o enterro de graça, além de um pet de Guaraná Magistral 600ml geladinho. O problema é agüentar o músico de quinta categoria cantando Yolanda.

Querem indicar aquela modelo (futura apresentadora-atriz-cantora) expulsa do casamento do Ronaldo para receber um Prêmio pelo Dia Internacional da Mulher. Depois vocês, mulheres, ficam se perguntando por que os homens continuam dominando o mundo...

O Malfazejo completou 10.000 acessos hoje. Obrigado pelas visitas, pelos comentários e pelas sugestões. Só não posso pagar umas hoje pra vocês porque sou honesto, ou seja, liso. Mas aceito doações, privilégios, vantagens...

sexta-feira, março 04, 2005

E assim morreu Mané Galinha...


Josué Filho deu o grito ontem, às margens do Igarapé da Cachoeirinha, de lançamento da candidatura de Eduardo Braga à reeleição. Não que a campanha maciça do Estado em todo o tipo de mídia não tenha revelado a surpreendentíssima intenção do cadeirudo. Mas com a população de matutos dividida sobre o apoio à idéia de serem retirados da área de risco, há quem pense que o grito foi dado em má hora. Muita reclamação, algumas vaias e até gritos de “Amazonino! Amazonino!” ecoaram pela Silves. Aproveitando a ocasião, o garoto Jonas (nome fictício) furou o bloqueio dos aspones que se amontoavam no palanque improvisado e fez um pedido ao governador: Seu Eduardo, eu queria um carro de brinquedo, igual àqueles da polícia, que antes eram de uma marca e que agora são de outra bem melhor. Eu sei que os novos são muito parecidos com os antigos (principalmente com aquela pintura toda pra disfarçar), mas eu quero mesmo é um dos novos. Sabe como é, qualquer coisa eu troco peças aqui na cidade mesmo... Mas eu quero o carro com os soldadinhos dentro, com aquelas armas pra fora, protegendo as pessoas que vão pro trabalho, nas esquinas da Rua Recife. E aí, Já é ou Já Era, tio?

Jonas levou um cascudo de Josué, um peteleco de Chico Preto e ainda um beliscão de Liberman Moreno.

quinta-feira, março 03, 2005

Caminho Nada Suave


Boa parte dos desgostos da minha vida adulta tem culpado, e não sou eu. Graças a Branca Lima, autora da cartilha do Caminho Suave, eu leio os noticiários hoje. Mas o garimpo de artigos daquela época em que até o arco-íris era em preto e branco não parou. Deu pra sentir o gosto, o cheiro. God Save the Google.

O Aquaplay, o Diplink, o Kichute, o Spectroman, o River Raid, a BMX, o Reebok, a MAD...

quarta-feira, março 02, 2005

E eram os deuses apenas Operações Ilegais

Eniac, o primeiro computador, cercando duas pessoas
O Computador

Máquina revolucionária, inventada para resolver todos os problemas que nós não tínhamos.

terça-feira, março 01, 2005

Minha primeira CNH, comadre!

O Jornal Nacional desta segunda-feira mostrou, finalmente, o que acontece nas auto-escolas que aplicam o teste de direção aos candidatos à Carteira de Habilitação (em São Paulo, Carta de Motorista). Mediante o pagamento de 330 reais, pode-se deixar o carro morrer, deixar de usar as setas e arranhar as marchas. Baliza? Pra quê, mané? A atendente de uma auto-escola diz à reportagem, sem saber, que há muita gente na listinha. O noticiário mostra o teste de direção, em que a candidata comete simplesmente todo tipo de infração de trânsito. Dias depois vai até a auto-escola e recebe, quentinha, sua mercadoria. A essa hora a listinha toda deve estar desfilando com seus Pálios de bunda amassada pelas faixas de alta velocidade, a 40 km/h.

Eu sou brasileiro. Eu desisto direto de acreditar nesse povo.