terça-feira, agosto 08, 2006

Herbert, o Marajá


Matéria de jornal desta terça, 8, trazia o título “Filhos do poder gastam mais”, referindo-se aos gastos de Marcelo Serafim e Rebecca Garcia, filho do prefeito e filha de deputado, respectivamente. A matéria também traça o perfil eleitoral de ambos, fazendo alusão à quantidade de votos dele nas últimas eleições e à inexperiência dela. E revela, ali, num final de parágrafo, como quem não quer contar, que os recursos são declarados.

Não convém aqui confiar ou desconfiar dos números. Não condeno ninguém pelas aparências nem coloco a mão no fogo pela ética da Heloísa Helena. O que chama a atenção não são os gastos elevados dos “Filhos do Poder”, mas os zeros do “Pai do Poder”. Amazonino Mendes não gastou nada, não arrecadou nada, não investiu nada, não comprou nem vendeu ninguém até agora. É notável o espírito público das pessoas; e não falo do candidato, mas dos aspones voluntários que o cercam, contratando mais voluntários, doando adesivos, espaços nos jornais, vendendo sua consciência jornalística, alugando carros, montando comitês e gravando programas de tevê. Imagino o senso de dever cívico que move donos de gráficas a ligar suas imparciais rotativas, somente pela "Causa Negra". E me arrepio ao ver que ainda há gente humilde, de sandálias, na política.

Amazonino conseguiu. Encontrou o Santo Graal, a resposta definitiva, a chave para a sobrevivência de toda a comunidade judaico-cristã-ocidental: "Como viver sem gastar nada?". Rebecca e Marcelo seguem por aí, exibidos, de tênis importados e em carro climatizado. Vigiados pela ferrenha e sempre atenta imprensa, precisam conviver com o apelido de "filhos do poder". Herbert Amazonas anda sendo chamado de marajá na rua, só porque anda de fusca e tem um celular de cartãozinho.

Paciência: é no que dá admitir à justiça que ainda não conseguiram dividir o átomo, encontrar a cura do câncer, selar a paz no Oriente Médio e resolver o problema da falta de água em Manaus, como Amazonino já fez, 17 vezes – se você não viu é porque é leso.

O Estado do Amazonas, 9 de agosto de 2006