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Um abraço.
Matéria de jornal desta terça, 8, trazia o título “Filhos do poder gastam mais”, referindo-se aos gastos de Marcelo Serafim e Rebecca Garcia, filho do prefeito e filha de deputado, respectivamente. A matéria também traça o perfil eleitoral de ambos, fazendo alusão à quantidade de votos dele nas últimas eleições e à inexperiência dela. E revela, ali, num final de parágrafo, como quem não quer contar, que os recursos são declarados.
Não convém aqui confiar ou desconfiar dos números. Não condeno ninguém pelas aparências nem coloco a mão no fogo pela ética da Heloísa Helena. O que chama a atenção não são os gastos elevados dos “Filhos do Poder”, mas os zeros do “Pai do Poder”. Amazonino Mendes não gastou nada, não arrecadou nada, não investiu nada, não comprou nem vendeu ninguém até agora. É notável o espírito público das pessoas; e não falo do candidato, mas dos aspones voluntários que o cercam, contratando mais voluntários, doando adesivos, espaços nos jornais, vendendo sua consciência jornalística, alugando carros, montando comitês e gravando programas de tevê. Imagino o senso de dever cívico que move donos de gráficas a ligar suas imparciais rotativas, somente pela "Causa Negra". E me arrepio ao ver que ainda há gente humilde, de sandálias, na política.
Amazonino conseguiu. Encontrou o Santo Graal, a resposta definitiva, a chave para a sobrevivência de toda a comunidade judaico-cristã-ocidental: "Como viver sem gastar nada?". Rebecca e Marcelo seguem por aí, exibidos, de tênis importados e em carro climatizado. Vigiados pela ferrenha e sempre atenta imprensa, precisam conviver com o apelido de "filhos do poder". Herbert Amazonas anda sendo chamado de marajá na rua, só porque anda de fusca e tem um celular de cartãozinho.
Paciência: é no que dá admitir à justiça que ainda não conseguiram dividir o átomo, encontrar a cura do câncer, selar a paz no Oriente Médio e resolver o problema da falta de água em Manaus, como Amazonino já fez, 17 vezes – se você não viu é porque é leso.
O Estado do Amazonas, 9 de agosto de 2006
Escrevo esta coluna na véspera de sua publicação, portanto não sei, enquanto você lê, se o Ministério Público Federal e a Polícia Federal conseguiram convencer o Governo a intervir em Rondônia. Na semana passada, a Operação Dominó praticamente fechou as casas representativas de dois dos poderes, o legislativo e o judiciário, prendendo os presidentes da Assembléia e do Tribunal de Justiça. Mas o executivo, do governador Ivo Cassol, não está de fora. O governador, que meses atrás protagonizou o escândalo da compra de apoio parlamentar em Rondônia, volta à imprensa. Nem bem as vidraças da Assembléia foram consertadas, devem vir novamente ao chão. Nem bem os nomes dos envolvidos já estavam esquecidos, vão-se novamente ao noticiário. Estima-se em 70 milhões o tamanho do roubo. Pobre Rondônia.
Imagine-se você, felizardo cidadão amazonense, na situação dos nossos vizinhos, sem um governador pra xingar, sem um juiz ou um desembargador pra lhe furar a fila no banco, no semáforo ou no vôo lotado. Imagine, mal-agradecido manauense, ver agentes da polícia levando algemados todos os seus deputados, sem que haja ao menos um, unzinho só, pra posar de Fernando Gabeira de Porto Velho. Imagine-se sem ter em quem votar nas próximas eleições, daqui a menos de dois meses, porque todos os seus candidatos estão presos. Deve ser muito ruim ser privado de tais companhias.
Ouvi dizer, e foi pessoa certa quem falou, que já há operações da PF em curso no Amazonas. E que boa parte dos nossos vereadores e deputados logo vai desfilar, novamente, com camisas repuxadas sobre o rosto. Não que isso vá traumatizar ou assustar nossos representantes, escolados na arte de entrar numa viatura sem se machucar, mas não fica bem ser pego pelo braço por um agente com um colete federal numa hora dessas, com a campanha na rua.
Não reclame, leitor amazonense, pois você poderia estar em Rondônia, olhando para uma Assembléia vazia, sem trabalhar às vésperas de eleições.
Deve ser uma cena horrível.
Pobre Rondônia.
O Estado do Amazonas, 8 de agosto de 2006
De um mau gosto terrível a queda à tentação, por parte da 'mídia' manauara, de atribuir o que Fidel fez a Cuba a um ato de coragem. Até porque convencionou-se chamar de coragem a estratégia de sobrevivência comunista, oca, vendendo à massa a idéia de que um ataque imperialista é iminente. Tire-se do mapa os EUA e o que resta de déspotas e assassinos ditadores do mundo vai junto. São como aqueles peixes-piloto, grudados à barriga do tubarão, comendo restos e dependendo do inimigo para sobreviver. Fidel Castro desceu a Sierra Maestra há quase 50 anos, e não melhorou em nada as condições de seu povo. Fez o que condenava na ditadura americana, como se dissesse "o problema não é a ditadura, é a ditadura ser americana". No capitalismo toda a riqueza, alguém já disse, é distribuída injustamente. No socialismo, não. Toda a miséria é distribuída igualitariamente. Fidel se vai, e deixa em seu rastro heróico milhões de indigentes, que perigam, com sua morte, promover a maior debandada de um país. Eis a preocupação americana: uma invasão à Flórida, com milhares de balsas em direção ao capitalismo. Eis a suprema derrota do Comunismo, a natureza humana. Fidel vai tarde, juntar-se a outros assassinos idealistas na extensa lista dos ditadores que levaram seus povos à miséria, por ódio aos EUA.
Nunca fui de ler horóscopo, acreditar em superstição ou em bispo na televisão, mas aquele negócio chamado "sorte de hoje" do Orkut tem marcado minha vida. Ainda não entendi por que, mas acredito em tudo o que ele me diz.
A de hoje?
"Você subirá de posição social sem nenhum esforço especial"
E eu acredito.
Deve ser muito divertido ser candidato nanico a Presidente do Brasil. Sempre vejo isso na cara do Luciano Bivar, do Eymael e do Rui Pimenta. O Bivar, com aquela cara de Donald Trump, ouvindo resoluto as reivindicações dos camelôs e dos flanelinhas, e o Eymael, com aquele jeitão de Harvey Keitel de igreja evangélica, falando em privatizar os presídios, não deixam de divertir e constranger o telespectador do Jornal Nacional.
Mas é Rui Pimenta o melhor, definitivamente. Dias atrás, aparentemente pego de surpresa pela equipe bocejante de reportagem, o candidato do PCO (Partido da Causa Operária) à Presidência limitou-se a falar em luta por melhores condições trabalhistas e contra a corrupção, de frente para uma mesa de plástico, daquelas de bar, onde seus três correligionários haviam esquecido duas latas de cerveja. Rui Pimenta falava ao Jornal Nacional, um privilégio para poucos, e no mesmo quadro se via aquela mesa, debaixo de um guarda-sol, com aquelas duas latinhas.
Dia desses Fernando Henrique disse que Lula é o típico líder sindical brasileiro, quando se trata de tomar "umas e outras". Touché. Rui Pimenta não é candidato pela primeira vez. É reincidente, como Eymael e Bivar. Seu diferencial, por assim dizer, é a completa falta de vergonha de ser um "típico líder sindical brasileiro", um homem desprovido dos pudores de ser um Herbert Amazonas em nível nacional, falando coisas transcedentais sobre economia, emprego, FMI e juros. Reunindo-se nos comitês (!) de campanha para debater as grandes questões nacionais. Não há como caçoar dum homem desses, que elevou o sagrado ofício da botecologia ao horário nobre, como se, obrigando a gigantesca Rede Globo a cobrir seus ébrios e românticos passos, protagonizasse a mais genial das piadas.
Rui Pimenta não tem chances.
Mas quem sabe se candidatando mais duas vezes consegue. Beber? Bebe. Defender a causa operária? Certo. Xingar o FMI e os bancos? Ok.
Só falta aparar a barba e contratar o Duda Mendonça.
Rui Pimenta.
Anote esse nome.
O Estado do Amazonas, 1º de agosto de 2006