Escrevo esta coluna na véspera de sua publicação, portanto não sei, enquanto você lê, se o Ministério Público Federal e a Polícia Federal conseguiram convencer o Governo a intervir em Rondônia. Na semana passada, a Operação Dominó praticamente fechou as casas representativas de dois dos poderes, o legislativo e o judiciário, prendendo os presidentes da Assembléia e do Tribunal de Justiça. Mas o executivo, do governador Ivo Cassol, não está de fora. O governador, que meses atrás protagonizou o escândalo da compra de apoio parlamentar em Rondônia, volta à imprensa. Nem bem as vidraças da Assembléia foram consertadas, devem vir novamente ao chão. Nem bem os nomes dos envolvidos já estavam esquecidos, vão-se novamente ao noticiário. Estima-se em 70 milhões o tamanho do roubo. Pobre Rondônia.
Imagine-se você, felizardo cidadão amazonense, na situação dos nossos vizinhos, sem um governador pra xingar, sem um juiz ou um desembargador pra lhe furar a fila no banco, no semáforo ou no vôo lotado. Imagine, mal-agradecido manauense, ver agentes da polícia levando algemados todos os seus deputados, sem que haja ao menos um, unzinho só, pra posar de Fernando Gabeira de Porto Velho. Imagine-se sem ter em quem votar nas próximas eleições, daqui a menos de dois meses, porque todos os seus candidatos estão presos. Deve ser muito ruim ser privado de tais companhias.
Ouvi dizer, e foi pessoa certa quem falou, que já há operações da PF em curso no Amazonas. E que boa parte dos nossos vereadores e deputados logo vai desfilar, novamente, com camisas repuxadas sobre o rosto. Não que isso vá traumatizar ou assustar nossos representantes, escolados na arte de entrar numa viatura sem se machucar, mas não fica bem ser pego pelo braço por um agente com um colete federal numa hora dessas, com a campanha na rua.
Não reclame, leitor amazonense, pois você poderia estar em Rondônia, olhando para uma Assembléia vazia, sem trabalhar às vésperas de eleições.
Deve ser uma cena horrível.
Pobre Rondônia.
O Estado do Amazonas, 8 de agosto de 2006