quinta-feira, setembro 08, 2005

Reféns? De bandidos presos?!


Nestes tempos em que os noticiários nacionais nos embrulham o estômago com os indiciamentos inócuos de políticos corruptos, poderíamos sacar dos bolsos o clichê da centenária injustiça social brasileira, lei segundo a qual a cadeia traz na essência a punição para os pobres. Pois nem isso sobrou. Lendo matéria da última sexta-feira, dia 2, no jornal Correio Amazonense, pude ver morrer a idéia que eu tinha da vida detrás das grades para os mortais, traficantes e homicidas de pequeno porte. É impressionante – e desesperador – saber como pensam e como agem todos os atores desse circo de horrores chamado Sistema Prisional Amazonense. Enquanto os bandidos, condenados e presos, ameaçam de morte a direção da Unidade Prisional do Puraquequara e anunciam novos motins e rebeliões. O clima dentro das prisões é de medo e de surpresa. O Secretário Adjunto da Secretaria de Justiça do Estado, Ricardo Trindade, se confessa alarmado com o fato de 10 presos da galeria 11 do presídio terem comandado a última rebelião. “Estou surpreso pois a galeria era a mais tranqüila do presídio!”, explicou Ricardo.

Como tanta coisa que vira folclore por aqui, parecemos estar fadados, mais uma vez, a mitificar o que é, em tese, simples de resolver. O grupo de desordeiros, cerca de 10 presos, já tem apelido, aos moldes do Rat Pack de Sinatra, Martin e Davis Jr – que me perdoariam pela comparação grotesca, com certeza. Pois bem, o nosso Ocean’s Eleven é “Os Folgados”. Sim, Os Folgados são os responsáveis pelo clima de insegurança que vive o sistema prisional amazonense. Formado, anote aí, por Bid, Hulk, Primo, Cepacol, Jorginho e por outros nomes já clássicos no vocabulário criminal local, o grupo faz ameaças claras, a serem cumpridas caso suas exigências não sejam satisfeitas. Ricardo Trindade, dando mais uma prova da seriedade e da competência com que exerce seu cargo, atribui o clima de perigo às insatisfações geradas pelo curto banho de sol a que os presos têm direito, à apreensão esporádica de telefones infiltrados nas partes íntimas das esposas dos presos e ao pouco tempo de televisão.

Então vejamos se entendi: a direção dos presídios amazonenses atribui à perda de regalias inconstitucionais o clima de insegurança que impera nas prisões?

O que está faltando para que Os Folgados sejam isolados e mais intensivamente monitorados pela segurança? O que está faltando para que aparelhos celulares sejam apreendidos dentro das esposas dos bandidos, uma vez que a revista íntima já é prática corrente em outras regiões do Brasil? O que falta para que líderes de rebeliões e assassinatos sejam punidos? O que falta para impedir que presos cerrem as grades das celas e fujam? O que falta para punir agentes que facilitam as fugas, sistemáticas e corriqueiras? Será que, além de conviver com a impunidade dos ladrões das assembléias e câmaras municipais, precisaremos conviver com a impunidade de gente que protagoniza os crimes mais famosos do estado, como o assalto ao Banco do Brasil de Maués?

É perturbador saber que bandidos, encarcerados e cerceados na sua liberdade de cometer seus crimes, sejam tão poderosos, ditando as regras dos presídios e ameaçando a ordem interna dos mesmos no caso do descumprimento destas regras. É perturbador imaginar o dia em que os presos darão prazos para que a diretoria dos presídios os ponha em liberdade, sob pena de promoverem chacinas internas.

Enfim, é perturbador ver como são geridos esses lugares. E saber que essa gestão está a cargo de bandidos, que assaltam, roubam, seqüestram e matam inocentes todos os dias. E saber que, além de precisarmos nos engradar dentro de casa quando estes homens estão soltos, precisamos também torcer para que sejam pouco exigentes dentro da prisão.