quarta-feira, setembro 07, 2005

Sete de Setembro


Me ensinaram a cantar, de mão no peito, à frente da bandeira,
que um dia um povo heróico deu um grito à beira de um rio.
A liberdade teria brilhado bem no instante deste berro.
Me disseram que a gente conseguiu essa liberdade à força,
E que até morrendo eu deveria defende-la.
Então eu gritei, por anos, debaixo desse céu risonho e límpido,
Aquele “Salve! Salve!” no pátio da escola.
Cantei que somos gigantes, belos, fortes, impávidos colossos,
E que o meu futuro espelharia essa grandeza.

Disseram que meu país estaria pra sempre deitado
Num berço esplêndido, pois esplêndido este berço é.
Do som do mar nunca vieram ondas assassinas,
Nem do céu profundo vieram Katrinas,
O Sol do Novo Mundo sempre nos iluminou.
Nossos lindos campos sempre tiveram mais flores,
Nossos bosques sempre tiveram mais vida,
Nossa vida sempre teve mais amores.

E cantei, cantei mais,
O “Salve! Salve!” no pátio da escola.
Mas enquanto eu cantava,
Roubavam minhas flores e
invadiam meus bosques.

As estrelas e o verde dessa bandeira
Diziam “Paz no futuro e glória no passado”.
Esse hino dizia que eu não fugiria à luta,
Caso a justiça precisasse ser defendida.
Mas a justiça não mereceu a minha morte,
Essa justiça ainda não mereceu a minha morte.

Neste 7 de Setembro, dia de praia, cerveja e tevê,
Quero dizer, mais uma vez, como no pátio da escola,
Que das outras mil, o Brasil ainda é minha terra amada,
A minha terra adorada e idolatrada.

E que esses filhos da pátria, bastardos aprumados,
Crianças problemáticas e adolescentes rebeldes,
Vermelhos, azuis, canhotos ou destros,
Nunca me representaram.
Que essa gente feia, analfabeta, rococó e falastrona,
Nunca me representou.
Porque não cantei aquele hino, durante anos,
Pra acabar feito uma carcaça agonizante,
Disputada a tapas e pontapés por abutres e hienas,
gente torpe, baixa, desclassificada, letrada ou iletrada.

Nego, peremptoriamente, ser representado por Lula ou FHC, Severino ou ACMinho,
Porque minha pátria amada, idolatrada,
Não suporta mais. Nem o flosô da filosofia nem a esculhambação do improviso.
Nem a futilidade da loja cara, nem a futilidade do discurso revolucionário,
Nem o cinismo dos ora acusados, defendendo-se com a história,
Nem a hipocrisia dos acusadores, defendendo-se no discurso alheio.

Porque sou eu o filho deste solo, desta mãe gentil,
Que ainda teimo em chamar se Senhora. Essa terra chamada Brasil.