segunda-feira, outubro 31, 2005
Quiz
sábado, outubro 29, 2005
quinta-feira, outubro 27, 2005
Dream team, reunited
Enquanto isso, na Sala de Justiça, durante a reunião do G-8, o grupo das sete pessoas mais conhecidas do Brasil mais o Sr. Marcos Valério...
Super-herói não identificado – Sr. Delúbio, o senhor foi pressionado pelo PL para repassar dinheiro ao partido?
Delúbio – Vezja, depujztado... eu zjá ezsclareci essjza quesjztão na pergunta antezriorz.
Super-herói não identificado, irritado – Tudo bem, então me explique novamente, por favor.
Delúbio – Vezja, depujztado, eu acrezdito que zjá rejzspondi esszja quesztão...
Zulaiê Cobra (PSDB-SP) – SEU MARRRCOS VALÉRIO, O SENHORRR REPASSOU DINHEIRO, VIVO!, PARA O SENHORRR JACINTO LAMAS???!!!
Marcos Valério – Sim, senhor. Perdão, senhora...
Zulaiê – É SENHORA MESMO, PORRRQUE EU SOU MULHERRR!!!
...risos dos outros super-heróis...
quarta-feira, outubro 26, 2005
Oooohhhhhh!!!
Referendo
'Não' fechou acordo com indústria de arma
26 de Outubro de 2005
A frente parlamentar que defendeu o "Não" no referendo sobre proibição da venda de armas e munição fechou um acordo com duas fábricas do setor para custear a campanha. Conforme reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo, as indústrias Taurus e Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) concordaram em pagar dívidas deixadas pela campanha do "Não".
O acordo verbal firmado entre representantes da empresa e o deputado Alberto Fraga (PFL-DF), presidente da Frente Parlamentar pelo Direito da Legítima Defesa, ocorreu antes do referendo. Ficou acertado que as empresas não pagariam nada nem divulgariam seu apoio à frente do "Não" até a consulta popular, ocorrida no doming. Depois, contudo, poderiam contribuir com essa frente.
A ajuda viria através da cobertura das dívidas surgidas caso as doações à frente não cobrissem as despesas da campanha. Fraga confirmou a realização do acordo ao Estado. O presidente da frente do "Não" havia repetido várias vezes que sua campanha não aceitaria dinheiro da indústria de armas porque tinha "atuação independente". O caso, porém, não muda o resultado do pleito.
Estelionato - Conforme um ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que não quis ser identificado, o acordo não configura um crime eleitoral; portanto, a vitória do "Não" está assegurada. A prática representa, contudo, quebra de decoro parlamentar por parte de Fraga, algo que o deputado rejeita. "Não tem isso. Não estou nem aí. Minha honra todos conhecem na Casa", disse.
Na frente do "Sim", a informação provocou indignação. O vice-presidente da frente, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), disse que Fraga cometeu "estelionato político" e perguntou: "Por que não se colocou isso de público antes? Esconderam a parceria para iludir o público." Ele pode levar o caso à Comissão de Ética da Câmara. As dívidas do "Não" chegariam a 1,1 milhão de reais.
Fonte: Quem diria, Veja on-line
Cleptomaníaca que rouba cleptomaníaca...
Fernando Paulino Neto, do site NoMinimo, faz reportagem sobre um episódio no mínimo irônico. Lucy Mafra, atriz experiente em papéis sem destaque em novelas da Globo, é acusada de roubar R$ 300,00 de Christiane Torloni. Veja a matéria abaixo:
Enfim, célebre
Fernando Paulino Neto
25.10.2005 | Lucy Mafra é atriz. Trabalhou em 19 novelas, cinco minisséries, filmes, peças de teatro, posou nua para a capa do “Pasquim” na década de 70, tem 29 anos de carreira e 50 de vida. Ninguém nunca deu a mínima para ela. Nenhum jornalista telefonou para a sua casa, nunca foi fotografada numa noite de estréia, jamais protagonizou uma novela na TV, mas, do dia para a noite, virou uma celebridade. O que ela fez? Nada, pelo menos até prova em contrário.
Mas, do nada, Lucy foi colocada no redemoinho de uma fofoca de bastidores da novela “América”, em que interpretava (ou será que ainda interpretará?) quase despercebida Claudete, a vizinha de Islene (Paula Burlamaqui) que cuida de Flor (Bruna Marquesini). Alguém roubou R$ 300 do escaninho de Christiane Torloni, que vive a cleptomaníaca Haydée, nos camarins do Projac, o reino do faz-de-conta da TV Globo. Uma camareira viu Lucy mexendo no escaninho de baixo (o dela) e a chave do armário da Torloni balançando. Foi o que bastou: dentro do Projac, ela passou a ser olhada de modo atravessado. Logo, logo a coisa vazou para os jornais.
Uma colega do “núcleo Vila Isabel”, aquele lugar onde se samba até em cerimônia de casamento, ligou para a colunista da “Folha de S. Paulo”, Mônica Bergamo, e soprou o nome de Lucy. Pronto. Tudo mudou. No sábado, pouco depois do meio-dia, um amigo de Lucy contabilizava cerca de 850 menções a seu nome no Google, o mais famoso site de busca Internet, citando o caso do roubo. Antes, seu nome aparecia de maneira discreta e esparsa, quase sempre como referência a seu trabalho com o grupo teatral carioca Tá na Rua, liderado por Amir Haddad, ou no meio das listas de “elenco de apoio” de novelas e minisséries.
Agora, transformada numa espécie de “campeã de audiência do Google” e citada por todos os sites de fofoca televisiva, Lucy tem pela primeira vez o reconhecimento público. Não tem sido bom para ela. “Outro dia, eu estava no frescão e uma senhora começou a me xingar”, conta. Andando pela Lapa, teve outra surpresa. Um conhecido e vizinho em uma das diversas oficinas de teatro e grupos de trabalho que ocupam sobrados do início do século passado no bairro não teve dúvida: ao vê-la passar em direção à sede do Tá Na Rua, gritou seu nome bem alto, abriu uma mão, fincou um polegar na palma e, com os dedos estendidos, fez um círculo completo no gesto tão característico. Alguns colegas de trabalho também ficaram contra ela. “Teve gente que disse que eu posei nua e que eu fumo maconha, só como forma de me denegrir. Mas sou só eu?” – pergunta a nova celebridade nacional.
Solidariedade punk
Indignada, Lucy desabafa: “Me sinto um deputado do PT. Hoje, no Brasil, estamos com uma tolerância muito baixo ao roubo, todo mundo fica muito zangado. E, mesmo depois que tudo passar, fica o estigma.” É verdade que ela encontrou solidariedade também entre seus companheiros de Globo. Cita Paula Burlamaqui, com quem contracenava na novela, e Renata Sorrah entre as colegas que lhe deram apoio neste momento difícil e confessa: “Se eu tivesse sido flagrada com a mão na mochila de alguém, pedia desculpas, saía de fininho e ia vender artesanato no Chile, porque eu sou uma atriz. E não sei fazer outra coisa”.
Enquanto recebia a reportagem de NoMínimo, no horário do almoço de sábado, Lucy leu uma mensagem de texto em seu celular. Dizia: “E aí, Lucy, você pode me dizer quem é a cleptomaníaca do núcleo Vila Ezabel (assim mesmo) de ‘América’?” E ela conhece o curioso dono do telefone.
Nem tudo é tristeza, porém. Da rua pode vir também a solidariedade. “Eu tava andando pela Lapa, às oito da manhã, e um grupo de punks malucos, virados da noite, gritou pra mim: ‘Tamo contigo!’”. Lucy diz que está tentando “separar o joio do trigo” – ou “os verdadeiros amigos de quem prefere se afastar em um momento ruim”.
Nos primeiros dias do episódio, ela ficou quieta, aguardando uma reação da Globo. “Esperava uma palavra, que me apoiassem, aumentassem meu papel, sei lá, mas eles só falavam para eu desmentir tudo”, afirma. Depois, passou pelo momento de maior tristeza: “Chorei muito, fui me agarrar na saia da minha mãe lá em Volta Redonda. Foi uma maldade que fizeram, minha mãe tem mais de 70 anos, ficou vendo isso tudo e ainda perguntou se eu ia voltar a trabalhar na novela.”.
Foi então que resolveu partir para a ação. Lucy não hesita em afirmar o que pretende tirar de bom de todo este episódio: “Dinheiro.” Para isso, contratou o “advogado das estrelas”, Sylvio Guerra, especializado em processos de artistas contra seus empregadores, jornais e revistas. “Teve um camera man do Faustão que foi zoado no ar, chamado de veado e levou R$ 500 mil do Faustão e R$ 500 mil da Globo. É um Big Brother”, sonha.
Sylvio Guerra entrou com uma interpelação judicial para que a Globo informe se afastou Lucy da novela e, em caso positivo, qual a razão disso, já que ela está bem de saúde e tem contrato em vigência. Dependendo da resposta, ele entrará com uma ação de perdas e danos. Lucy pretende processar também a colega que a entregou à jornalista. Jura que sabe o nome, mas não revela - pelo menos, até buscar reparação na Justiça.
Da Globo para o SBT
A Central Globo de Comunicação informa, por e-mail, que “nunca fez qualquer acusação contra a atriz ou contra quem quer que seja. Lucy Mafra é contratada por obra certa, tem contrato até o fim da novela e o contrato será cumprido. O personagem saiu da trama por razões dramatúrgicas, já que no final da novela personagens de apoio perdem força. A atriz, contudo, continua no elenco, recebendo até o fim do contrato.”
No entanto, Lucy tinha falas previstas nos capítulos 187, 188 e 190, que já foram ao ar, e não foi chamada para gravar. O roteiro com as falas da personagem Claudete nestes capítulos faz parte das provas que Guerra pretende apresentar à Justiça.
Guerra não é um advogado barato. Depois de uma negociação, chegaram no valor mínimo pelo qual ele estaria disposto a defendê-la: R$ 10 mil. Lucy não tinha esse dinheiro. O próprio advogado deu a solução. Depois de uma entrevista coletiva no início da semana passada, no escritório do advogado, Lucy se calou e só voltou a falar no “Programa do Ratinho”, no SBT, na quinta-feira. Pela participação, recebeu um cachê de R$ 10 mil. Entregou tudo ao advogado.
Gostou da experiência. “O Ratinho foi um gentleman. Me respeitou no programa dele. Não teve baixaria”, afirma. Ela aproveitou para pedir, no ar, emprego no SBT. Não é que deu certo? Foi chamada para ficar mais um dia em São Paulo e negociar a mudança. Como seu contrato com a Globo termina no dia 15 de novembro e “não deve haver interesse em renovação”, está propensa a aceitar a proposta da emissora paulista. “Eles me querem. Fiquei famosa”, ironiza.
A atriz nunca se importou de fazer papéis pequenos. “Dava pra tirar um salário decente e me permitia fazer o que mais gosto, que é trabalhar em teatro”, diz. Ela está há 20 anos no Tá Na Rua. E o chefe da trupe, Amir Haddad, afirma categórico: “Aqui, nesse tempo todo, ela nunca roubou nada.” Amir conheceu Lucy na época em que ela apareceu no “Pasquim” e recorda: “Era uma cover-girl muito bonita e pintava o cabelo. Eu disse a ela: ‘Vem trabalhar comigo que eu quero conhecer a cor do seu cabelo.’ Ela veio e, um tempo depois, me disse: ‘O meu cabelo é esse.’ Lucy é uma pessoa muito interessante.”
Haddad fica apavorado com o que a antiga colaboradora está passando: “O que me assusta é esse linchamento sistemático que a imprensa faz, com base na liberdade de imprensa. Está sempre demolindo. Hoje, tem um linchamento por dia. É uma Imprensa adjetiva e dramática, não é reflexiva. Este modo de tratar as coisas. emocionando e não informando, é a mãe de todas as formas de fascismo.”
Lucy prefere pensar que pode estar desconstruindo tudo para iniciar um novo tempo. “Sou muito apegada a Nossa Senhora Aparecida. Agora que estou fazendo 50 anos, enchi o saco da santa para ela me ajudar no fim do meu contrato com a Globo. Ela deve ter dito: ‘Tá, eu vou ajudar, mas você não está esperando que vá acontecer um milagre.’ Quem sabe, tudo isso não é trabalho de Nossa Senhora e, no fim, vai ficar tudo pra melhor”, diz, sorrindo.
E, logo depois, entristece o semblante e afirma: “Ainda não estou bem”.
terça-feira, outubro 25, 2005
Frente por um Brasil sem Pacifistas
O pacifista, como o vegetariano, o religioso e o vendedor da Herbalife, é acima de tudo um chato. Não há gente mais chata do que alguém que ama a paz, alguém que quer um mundo melhor, sem guerras, sem assaltos e sem bombas caseiras nos estádios. Mas eis as novas, pessoal da paz: não há paz. A paz é a utopia essencial do mundo, e por ela não vale a pena lutar. A paz, essa paz que vocês almejam – mas não perseguem -, é apenas um John Lennon, nu numa cama, tocando uma balada boba qualquer sobre uma chance a ela, a Paz. A paz que vocês almejam – mas não perseguem – é a mais fácil e efêmera de todas, é aquela paz do calçadão carioca, é aquela paz trazida por uma camiseta branca na manhã de domingo. Essa paz, a paz dos sinaizinhos manuais e das faixas penduradas nas sacadas dos apartamentos – protegidos por seguranças armados – é sem valor. A paz dos anti-guerra, a paz dos anti-globalização, a paz dos anti-armas, a paz dos anti-EUA é boba. Boba como um John Lennon, tola como qualquer um que se defina anti-qualquer-coisa. Repilo, repilo veementemente a companhia de ativistas anti-alguma-coisa.
O NÃO venceu. Confesso ter ficado preocupado com o resultado desse referendo. Votei NÃO, mas a vitória do NÃO não deve ser boa coisa, dada a capacidade brasileira de se votar errado. Mas torço, torço para que a violência acabe, para que ninguém mais cheire cocaína, para que a camada de ozônio se recupere, para que Bush assine o Protocolo de Kyoto, para que a China pare de executar cidadãos, para que o gado brasileiro fique curado, para que as galinhas malaias fiquem boas. Torço pra tudo isso. E se um dia decidir agir de alguma forma, vou cobrar o que me tomam à força, e pelo que não recebo nada em troca. Segurança. Segurança pública. Segurança coletiva.
Pacifistas não deviam ficar no país. Têm muito mais trabalho lá fora, onde as tensões são culturais, raciais, étnicas – não há poder público que dê jeito. No Sudão ocorre, nesse momento, um genocídio comparável ao de Ruanda em 1994. Por que os pacifistas brasileiros não vão para lá, fazer a diferença? O Brasil não precisa de paz, precisa de vergonha na cara, de cumprimento de leis. O Brasil não precisa de artistas globais jogando confete nas ruas, precisa ver gente ruim entrar – e ficar – na cadeia. Precisa reverter o quadro das ONGs, onde pouquíssimas existem para fiscalizar e monitorar o comportamento dos políticos e outras centenas ficam no blá-blá-blá da Paz.
Paz não existe. Nem na Islândia, nem da França, nem da Dinamarca. Se eles estão muito melhor, não é por causa de paz, de passeatas nem de campanhas anti-violência. É porque eles cumprem as leis. Diriam os nobres brasileiros, encabulados, então: aí complicou.
segunda-feira, outubro 24, 2005
Cenas de um feriado
Bob Esponja, cachaceiro feito uma esponja, em flagrante embriaguês no feriadão manauara!
Do ótimo Conversa Cruzada.
terça-feira, outubro 18, 2005
Só porque é ele
Sou um democrata. Ribamar, meu ídolo, é do SIM. Ok, ninguém é perfeito (ele é até petista). Mas como sou - ou quero ser - essa metamorfose ambulante, estou disposto a virar a casaca do NÃO para o SIM assim que ouvir o primeiro argumento que valha. Não foi esse, mas vale dar uma conferida. Ei-lo.
SE EU COZINHO, É MEU?
José Ribamar Bessa Freire
16/10/2005 - Diário do Amazonas
O bairro de Aparecida está numa sinuca de bico . Seus moradores, confusos e angustiados, não sabem como enfrentar o referendo popular . Se responderem ‘ não ', contrariam direitos individuais . Se disserem ‘ sim ', abdicam de princípios sagrados e, dessa forma , acabam dando aquilo que o Nêgo Valdir deu: a própria honra . Muitos preferem fugir pela tangente , dizendo: ‘ talvez ', ‘depende', ‘sei lá '. Mas essas alternativas não existem no referendo . Não há meio termo. É ‘ preto ' ou é ‘ branco '. Não tem ‘ cinza '. De todo jeito , a gente se ferra . Com o ‘ sim ', é créu. Com o ‘ não ', é crau. A diferença é apenas de uma mísera vogal?
Manaus viveu drama similar no referendo do peixe que aconteceu há 50 anos . Na época , desnorteado, busquei orientação com tia Eulália. Ela era freira , da Congregação das Adoradoras do Preciosissimo Sangue . Uma santa . Estava mais perto do céu do que eu , pecador empedernido . Quem sabe, a titia podia me iluminar sobre os enigmas do mundo e da vida ? Era domingo , dia de visita ao convento , ali na av. Constantino Nery, bem em frente à igreja de São Geraldo. Cheguei, pedi a benção – benstia – e, à queima roupa , fui logo fazendo a pergunta do referendo do peixe que atormentava, então , os amazonenses .
- Titia , se eu pesco um peixe , se eu cozinho, é meu ?
Minha mãe ralhou: “ Deixa de ser abestado, menino ”. Mas tia Eulália me levou a sério . Não respondeu de chofre . Primeiro , me abençoou: - “ Deus te faça feliz ”. Naquela época , sobrinho pedia benção, tia abençoava e a gente falava “de chofre ”. Hoje , é a maior esculhambação . Minha sobrinha Ana Paula, por exemplo , não me concede sequer a graça do título de ‘ tio ', me trata simplesmente de ‘Beibe', sem qualquer cerimônia . Nunca , nunquinha, me pediu a benção. Essa é mágoa que guardo no fundo do meu coração . Sei que é uma questão familiar , mas preciso compartilhar esse sofrimento com os leitores .
Digo não ao não
Mas onde é mesmo que eu estava? Ah, na titia . Depois de me abençoar , ela coçou a cabeça . Não , pera lá ! Minto! A cena , com certeza , exige uma coçada reflexiva . No entanto , as freiras usavam uma espécie de capacete de plástico , coberto por véu branco , que não deixava coçar a cabeça . Se fosse homem , titia coçaria outra coisa . Acabou mesmo coçando o queixo , enquanto repetia baixinho, quase rezando: “Se eu pesco um peixe , se eu cozinho, é meu ?” Aí , como se descobrisse a pólvora , sentenciou: -“É seu , meu sobrinho . É seu ”. Fez uma pausa e confirmou inapelável : - “ Sim , meu sobrinho , é seu . Indubitavelmente, é seu ”.
Meio século depois , Tia Eulália – a inocente - está morta , mas sua lição orienta o rumo que devo tomar nesse plebiscito nacional sobre o desarmamento , cuja pergunta também é capciosa : "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. Há uma evidente manipulação da linguagem , como no referendo do peixe . Quem responder ‘ sim ', está querendo dizer “ não quero que vendam armas ”. Quem marcar ‘ não ', diz o contrário : “ sim , eu quero que a venda seja permitida”. Está tudo de revestrés. O ‘ não ', que é negativo , libera. Já o ‘ sim ', que tem conotação positiva , proíbe. Eraste! Eu , einh!
Como se isso não bastasse, os partidários de um lado e de outro usam o horário da propaganda política obrigatória na rádio e na televisão para confundir ainda mais . Não discutem princípios , nem esclarecem dúvidas , querem apenas vender ‘o não ' ou o ‘ sim ', usando uma linguagem marqueteira abjeta , como se estivessem anunciando sabão em pó , margarina , telefone celular ou um deputado qualquer do PFL (viche! viche!). Não pretendem nos fazer pensar e refletir , querem apenas nos obrigar a aderir .
A turma do ‘ não ', em vez de provar porque é bom vender arma e munição adoidado , faz terrorismo , jurando que se o ‘ sim ' ganhar , o povão vai se ferrar , o mercado negro de armas vai crescer , o Estado ficará sem o controle sobre revólveres e pistolas , os bandidos vão invadir nossas casas , as empresas de segurança privada vão faturar , enfim , fazendeiros , grandes empresários , lideres políticos , juizes e advogados famosos continuarão a se armar legalmente , enquanto a plebe ficará desarmada. Como se a plebe , hoje , estivesse armada .
Esse é o argumento da revista VEJA, que apresentou sete razões – sete é conta de mentiroso – para provar que é bom vender armas e munições e que , portanto , os leitores devem votar ‘ não '. Quase todas as razões são terroristas , tentam nos amedrontar e desestabilizar , jurando que os bandidos vão se sentir mais seguros para assaltar e invadir as casas , já que sabem que seus proprietários estão desarmados. A revista invoca ainda , cinicamente, o princípio da liberdade : por que impedir o cidadão , que paga impostos , de comprar uma arma e de exercer com ela o direito de legítima defesa ? Depois da novela ‘O direito de nascer ', VEJA roteiriza ‘O direito de matar '.
Digo sim ao sim
O meu amigo Rubem Rola , que mora na Bandeira Branca , discorda da VEJA. Ele e sua mãe Marina votam ‘ sim ' nos dois referendos – o do peixe e o do desarmamento . São pequenos empresários , donos da Rolamar Produtos Alimentícios Ltda.- que fabrica broas . Sua empresa familiar não será prejudicada pelo resultado da consulta popular . Estão conscientes de que os únicos que vão lucrar com o ‘ não ' são os fabricantes e comerciantes de armas . Para eles , a questão é saber se queremos mudar ou se queremos que a situação fique como está. Quem vota ‘ não ', quer que fique como está. Quem vota ‘ sim ‘ quer mudar .
Rubem e Marina são produtores de broas e não de armas. Querem mudança , e por isso votam ‘ sim '. Não desejam ficar do mesmo lado do pistoleiro Bolsonaro e do porquinho Fleury. Raciocinam da seguinte forma : hoje é permitido vender armas e a situação está – com o perdão da palavra – uma merda. Portanto , precisamos mudar . O ‘ sim ' significa mudança , não necessariamente para melhor , é certo . Por isso , depois de proibir a comercialização , devemos pressionar o governo para melhorar a segurança pública . De qualquer forma , o que não pode é ficar como está.
Todos nós sabemos que não haverá diminuição da violência no Brasil, enquanto houver desemprego, miséria , ignorância , fome , doença e corrupção . Votamos no ‘ sim ', sem esperar milagres , mas acreditando que a sociedade com a qual sonhamos não pode ser construída com cada um organizando individualmente sua defesa pessoal . Essa não é a sociedade que quero para meus filhos e netos: um aglomerado de pistoleiros onde cada um é responsável por sua segurança , no lugar de uma comunidade de cidadãos, cuja segurança é responsabilidade do Estado. É preciso ter coragem para não tirar o fiofó da reta e dizer ‘ sim ', como fizeram tia Eulália, Rubem Rola e Marina . Com o ‘sim', sinalizamos a sociedade que queremos, onde a segurança n&atild! e;o é um problema individual e privado, mas é uma questão de política pública.
Quanto ao referendo do peixe , não há nada a temer , leitor (a). Responde “ sim ”, corajosamente , porque o peixe é de quem o pescou e o cozinhou. Se eu cozinho, é meu , indubitavelmente. Não podemos negar isso , só por causa de um joguinho de palavras . Se tens medo de ficar como o Nego Valdir, exige a tradução da pergunta ao inglês : “If I fish a fish, if I cook it, is it mine?”. Ai, podes responder “yes”, sem comprometer tua honra . Afinal , se o Berinho, secretário de Cultura , colocou avisos em inglês para orientar os cavalos das charretes da praça São Sebastião, por que não podemos traduzir aos humanos a pergunta de um referendo ?
P.S. - Por falar em inglês , recebi a seguinte notícia , que é uma forte razão adicional para votar no ‘ sim ': “On October the 11th at 12:35 a.m. was born the princess Maria Rafaela do Espirito Santo Fontoura Nogueira , weighing 3,359 kg and measuring 51 cm. Her Highness and Her Majesty are very well. (assinado) The King”. Agradeço ainda ao José Amaro Júnior e à Ana Paula, pela sugestão do tema da crônica de hoje .
segunda-feira, outubro 17, 2005
Notas de segunda-feira
Bardot, nossa dogo argentino, vulgarmente conhecida como Fezes, precisa de novo nome. Depois de se soltar misteriosamente e destruir parte do jardim novinho da Mansão Benigna, chamar-se-ia Katrina. Agora, depois de desfazer novamente o engate de sua correia, se lambuzar inteira em terra preta e amanhecer alva feito camiseta de comercial de sabão em pó, precisa de nova alcunha. Já pensei em McGyver, Carrie, a Estranha e Mãe Diná. Mas o concurso “Dê um nome para nosso ET” está lançado.
Genial como só ele sabe ser, o Brasil agora divide sua nação de ignorantes indefesos nos eixos do Bem e do Mal. Quem vai votar NÃO é amante de armas, quem vai votar SIM é pela vida. E segue a ladainha de que a democracia brasileira está sólida e de que o povo aprendeu a votar.
O Jornal Hoje acaba de noticiar que um garoto matou um colega, dentro de sala, acidentalmente, quando mostrava duas armas aos colegas. Sabe-se que as armas foram adquiridas há dois anos, por duzentos reais cada uma. A Globo só não investigou, ou não quis contar, qual foi a loja legalizada que vendeu as armas ao rapaz.
Delúbio Soares acaba de dizer, em entrevista, que “as denúncias de corrupção vão virar piada de salão”. Depois ainda tem gente que acusa o cara de nunca falar a verdade...
Os blogs “do Josias de Souza” e “do Fernando” encabeçam as manchetes do UOL. E ainda tem gente torcendo o nariz e fazendo “hummmm” pra quem mantém blogs na Internet...
A pior coisa de estar em casa, sem tevê a cabo, é ouvir aquela voz legal comentando o filme da Sessão da Tarde: “Agora essa turminha vai viver altas aventuras e loucas armações!”
Alguém tem, de cabeça, o nome do remédio pra depressão pós-parto? Falo do meu.
Brainstorming: Não há nada mais anti-romântico do que, no motel, escolher os discos românticos que se quer que ela ouça. Aliás, há sim, algo mais anti-romântico: vinho Peter-brum do frigobar ou Mioranzas e Galiottos comprados na lojinha de conveniência próxima ao motel.
Não estranhe, estou ouvindo um discaço chamado Sexy Vibes.
Brainstorming 2: a música é sempre espontânea nos filmes. Cenas de amor, mesmo numa cabana dos Alpes, sempre têm à disposição um Chet Baker ou um Damien Rice por perto. Já que você não tem, finja que aquele Eagle Eye-Cherry ou aquela Billie Holiday tocando assim que ela entra no carro estavam tocando ao léu, despretensiosamente. Isso é metade da conquista, meu caro. A outra metade é saber dançar.
É, ainda estou ouvindo Sexy Vibes, sozinho.
Cadê você, Meu Amor, que não chega?...
sexta-feira, outubro 14, 2005
Tipo assim... não entendi... explica de novo?
Fumo torna pensamento lento e diminui QI, diz estudo
O consumo contínuo de tabaco torna o pensamento mais lento e reduz o QI (Quociente de Inteligência), segundo um estudo publicado nesta quarta-feira pela Universidade de Michigan.
"Os resultados levarão aqueles que pesquisam o alcoolismo a reavaliar as informações que possuem sobre o impacto do tabagismo. Este fator geralmente não é levado em consideração nos estudos sobre os efeitos do alcoolismo no cérebro", disse a responsável pelo estudo, Jennifer Glass.
"Entre 50% e 80% dos alcoólatras também fumam", acrescentou a pesquisadora do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Michigan.
Os resultados da pesquisa contradizem a crença de que um cigarro ajuda os fumantes na concentração, especialmente em momentos de muito trabalho ou estresse.
Os pesquisadores analisaram a relação entre o consumo contínuo de tabaco e a redução na capacidade mental de 172 homens alcoólatras e não-alcoólatras.
A equipe de cientistas confirmou a conclusão de estudos anteriores que relacionavam o alcoolismo a problemas na rapidez e na clareza da função cognitiva e a uma redução do QI. No entanto, o trabalho revelou ainda que o consumo contínuo de tabaco tem um efeito similar.
"As conseqüências na memória, na capacidade de solução de problemas e no coeficiente intelectual foram maiores entre as pessoas que fumaram durante anos", acrescentou.
quinta-feira, outubro 06, 2005
Tudo na mais perfeita ordem
Brasil é o nono país mais feliz
05 de Outubro de 2005
Pesquisa do instituto britânico GfK NOP mostra que a população brasileira é a nona mais feliz do mundo. Os pesquisadores entrevistaram 30.000 moradores de 30 diferentes países dos cinco continentes, entre dezembro de 2004 e fevereiro deste ano.
De acordo com o levantamento, a população mais feliz do planeta é a da Austrália. Em segundo lugar, ficou a dos Estados Unidos, seguida por Egito, Índia, Reino Unido e Canadá.
Assolado por escândalos e denúncias de corrupção, o Brasil teve índices surpreendentes. Segundo a pesquisa, 53% dos entrevistados no país se consideram "satisfeitos" com a vida que levam e 29%, muito felizes. Os desapontados somam 14%.
Entre os brasileiros, a saúde foi considerada o principal fator para uma vida feliz por 75% dos pesquisados. Ter uma casa própria é sinônimo de felicidade para 63% dos brasileiros. Em terceiro lugar, está a estabilidade financeira.
Os dez países mais felizes do mundo:
1) Austrália (46% da população se disse muito feliz)
2) EUA (40%)
3) Egito (36%)
4) Índia (34%)
5) Reino Unido (32%)
6) Canadá (32%)
7) México (31%)
8) Suécia (30%)
9) Brasil (29%)
10) Arábia Saudita (28%)
Fonte: Veja on-line
segunda-feira, outubro 03, 2005
Veja a Veja
É por edições como a 1925 de Veja que eu sou assinante dessa revista. Há quem imagine que grandes jornais e revistas que se posicionam sobre assuntos espinhosos como o referendo do dia 23 sejam lobistas a serviço de interesses de clientes, leitores ou anunciantes. Pura bobagem. Assim como os grandes jornais americanos e europeus se posicionam durante eleições, Veja usou sua credibilidade para defender essa credibilidade, argumentando claramente por que é contra a proibição da venda de armas no Brasil. Expõe - e derruba argumentos bobos dos pacifistas de Ipanema -, em 7 tópicos, as razões para que o brasileiro mantenha seu direito de possuir armas.
Eu sou contra a proibição. Sempre fui. Para mim as passeatas em favor da paz, as camisetas brancas com o dizer "BASTA!" e o sinalzinho da pomba da paz, feito com as mãos pelos artistas e pensadores pelas ruas do Rio sempre foram em grande embuste, uma tentativa simpaticazinha e inócua de se resolver o problema da criminalidade brasileira. Somos craques em tapar o sol com a peneira, somos contra guerra, o racismo, a violência, o bairrismo, a separação entre Igreja e Estado, a fome mundial, a poluição da atmosfera e as armas. Somos bonzinhos. Queremos a paz.
Quem não quer essa deliciosa utopia, a Paz?
Não tenho arma - na verdade sou averso a elas - e não pretendo ter uma. Me sinto mal na proximidade de uma, tenho medo mesmo. É o tipo de artefato que me traz nervosismo. Mas eu sei por quê. É porque não conheço a índole e a personalidade de quem anda armado perto de mim. Já me apontaram uma arma numa discussão de trânsito, uma situação que não recomendo a ninguém. Um homem completamente embriagado podia ter me matado. Não o fez. Até hoje penso no que poderia ter acontecido, se aquele senhor, e não sua arma, tivesse decidido dar fim à minha vida. O estatuto do desarmamento, lei (ó bela e desprezada palavra..) em vigor há dois anos, proíbe o porte de armas no Brasil. Você sabia disso? Mesmo quem tem o porte só pode usá-la dentro de casa, pra defender (ou tentar defender, quase sempre inutilmente) sua família. Se aquele homem que quase me matou dirigia embriagado e armado, isso nada tem a ver com a liberação da venda de armas. Tem a ver com a polícia, que permite que se dirija embriagado e armado pelas ruas. Já há lei contra a embriaguês no trânsito, e já há lei contra o porte ilegal de armas. Ponto final, assunto encerrado, é isso. Não precisamos dessa lei, burra e baseada na idéia de "solução fácil", a preferida no país. Precisamos cumprir as leis vigentes, precisamos de polícia, de justiça. Só.
Se um dia eu quiser ter uma arma, vou procurar os órgãos oficiais para registrá-la, fazer um curso de manuseio daquilo e procurar fazer exames de sanidade mental. Não porque eu tenha bom senso, mas simplesmente porque - e me desculpe as maiúsculas - A LEI VIGENTE ME OBRIGA A ISSO. Se essa lei não é cumprida e vigiada, esse é o problma desse país, que não respeita a Consituição mas acredita no futuro da nação. Se o trânsito brasileiro, que mata milhares todos os anos, tivesse suas regras cumpridas e os maus motoristas fossem punidos, tudo estaria diferente. Ou estamos caminhando para um referendo popular que consulte a população sobre a proibição da venda de carros no país?
Quem são os responsáveis por tantas mortes? Os carros ou os motoristas? As armas ou seus portadores?
Recomendo a leitura da matéria a todos, e a leitura de tudo o que houver disponível a respeito, inclusive as informações e slogans gritados pelos atores, cantores e artistas famosos engajados na proibição da venda de armas e munição no Brasil. E que mais jornais e revistas tomem sua posição sobre o assunto, que é importante, porque não fala de criminalidade, banditismo, violência ou mortes de inocentes, mas de Liberdade, pura e simples.
Como se não bastasse a inteligência e sobriedade com que a revista brinda seus leitores na reportagem de capa, ainda ganho de brinde uma matéria chamando a novela América de "pródiga em personagens idiotizantes" e outra, sobre outro mito nacional, a filha de Elis Regina, também chamada de Maria Rita, sobre quem ninguém se atreve a falar mal. Veja denuncia, como fez no caso Sivirino, o "Mensalinho da filha de Elis", um esquema de jabás e presentinhos dados aos críticos da imprensa, diz que o disco novo da moça é ruim e desmistifica esse monstro sagrado (com vasta carreira de um disco só) da música brasileira. Veja falou e disse. De novo.
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