segunda-feira, outubro 03, 2005

Veja a Veja



É por edições como a 1925 de Veja que eu sou assinante dessa revista. Há quem imagine que grandes jornais e revistas que se posicionam sobre assuntos espinhosos como o referendo do dia 23 sejam lobistas a serviço de interesses de clientes, leitores ou anunciantes. Pura bobagem. Assim como os grandes jornais americanos e europeus se posicionam durante eleições, Veja usou sua credibilidade para defender essa credibilidade, argumentando claramente por que é contra a proibição da venda de armas no Brasil. Expõe - e derruba argumentos bobos dos pacifistas de Ipanema -, em 7 tópicos, as razões para que o brasileiro mantenha seu direito de possuir armas.

Eu sou contra a proibição. Sempre fui. Para mim as passeatas em favor da paz, as camisetas brancas com o dizer "BASTA!" e o sinalzinho da pomba da paz, feito com as mãos pelos artistas e pensadores pelas ruas do Rio sempre foram em grande embuste, uma tentativa simpaticazinha e inócua de se resolver o problema da criminalidade brasileira. Somos craques em tapar o sol com a peneira, somos contra guerra, o racismo, a violência, o bairrismo, a separação entre Igreja e Estado, a fome mundial, a poluição da atmosfera e as armas. Somos bonzinhos. Queremos a paz.

Quem não quer essa deliciosa utopia, a Paz?

Não tenho arma - na verdade sou averso a elas - e não pretendo ter uma. Me sinto mal na proximidade de uma, tenho medo mesmo. É o tipo de artefato que me traz nervosismo. Mas eu sei por quê. É porque não conheço a índole e a personalidade de quem anda armado perto de mim. Já me apontaram uma arma numa discussão de trânsito, uma situação que não recomendo a ninguém. Um homem completamente embriagado podia ter me matado. Não o fez. Até hoje penso no que poderia ter acontecido, se aquele senhor, e não sua arma, tivesse decidido dar fim à minha vida. O estatuto do desarmamento, lei (ó bela e desprezada palavra..) em vigor há dois anos, proíbe o porte de armas no Brasil. Você sabia disso? Mesmo quem tem o porte só pode usá-la dentro de casa, pra defender (ou tentar defender, quase sempre inutilmente) sua família. Se aquele homem que quase me matou dirigia embriagado e armado, isso nada tem a ver com a liberação da venda de armas. Tem a ver com a polícia, que permite que se dirija embriagado e armado pelas ruas. Já há lei contra a embriaguês no trânsito, e já há lei contra o porte ilegal de armas. Ponto final, assunto encerrado, é isso. Não precisamos dessa lei, burra e baseada na idéia de "solução fácil", a preferida no país. Precisamos cumprir as leis vigentes, precisamos de polícia, de justiça. Só.

Se um dia eu quiser ter uma arma, vou procurar os órgãos oficiais para registrá-la, fazer um curso de manuseio daquilo e procurar fazer exames de sanidade mental. Não porque eu tenha bom senso, mas simplesmente porque - e me desculpe as maiúsculas - A LEI VIGENTE ME OBRIGA A ISSO. Se essa lei não é cumprida e vigiada, esse é o problma desse país, que não respeita a Consituição mas acredita no futuro da nação. Se o trânsito brasileiro, que mata milhares todos os anos, tivesse suas regras cumpridas e os maus motoristas fossem punidos, tudo estaria diferente. Ou estamos caminhando para um referendo popular que consulte a população sobre a proibição da venda de carros no país?

Quem são os responsáveis por tantas mortes? Os carros ou os motoristas? As armas ou seus portadores?

Recomendo a leitura da matéria a todos, e a leitura de tudo o que houver disponível a respeito, inclusive as informações e slogans gritados pelos atores, cantores e artistas famosos engajados na proibição da venda de armas e munição no Brasil. E que mais jornais e revistas tomem sua posição sobre o assunto, que é importante, porque não fala de criminalidade, banditismo, violência ou mortes de inocentes, mas de Liberdade, pura e simples.


Como se não bastasse a inteligência e sobriedade com que a revista brinda seus leitores na reportagem de capa, ainda ganho de brinde uma matéria chamando a novela América de "pródiga em personagens idiotizantes" e outra, sobre outro mito nacional, a filha de Elis Regina, também chamada de Maria Rita, sobre quem ninguém se atreve a falar mal. Veja denuncia, como fez no caso Sivirino, o "Mensalinho da filha de Elis", um esquema de jabás e presentinhos dados aos críticos da imprensa, diz que o disco novo da moça é ruim e desmistifica esse monstro sagrado (com vasta carreira de um disco só) da música brasileira. Veja falou e disse. De novo.