segunda-feira, dezembro 12, 2005
Mas que jaraqui caro e passado, esse!
Faz parte da cultura artística da minha capital o tripé ócio-álcool-governo. Escutando os eternos programas de música brasileira de Manaus, posso ouvir os artistas locais, freqüentadores assíduos do Bar do Armando e do Galvez Botequim, reclamando da falta de apoio das autoridades aos artistas da terra molhada e do cheiro de peixe. É que esse pessoal não sabe criar sem uma mesadinha do povo. E o problema não é esse, pois pra gravar, se apresentar, viajar e fazer pose, essa turminha de dez ou doze intrépidos cantadores de Porto de Lenha ganha muito bem do Governo do Estado, ou seja, eu e você. E haja choro no programa Mesa de Bar. Todos os empurrõezinhos que essa turma recebe de Robério Brega não adiantam, em parte porque o povo não agüenta mais ouvir esse ufanismo regional sobre as tarrafas e o cheiro de peixe que tem a cabocla – que por isso deve ser uma cabocla meio fedida. Se há outro motivo, é essa panelinha Célio Cruz – Lucilene Castro – Zezinho Corrêa – Torrinho – Márcia Siqueira – Lucinha Cabral e outra meia dúzia de eternos funcionários do Governo do Estado (ou seja, eu e você) cantando as mesmas músicas que cantavam quando ainda éramos todos néscios ouvintes do sempre paupérrimo Festival Universitário de Música da UFAM. Deve haver motivos para essa mesmice regada a dinheiro do povo. Um deles eu conheço: falta tempo pra compor algo (ainda que seja algo que não preste) entre umas e outras, cervejas e discussões frívolas sobre os efeitos das novelas globais na cultura popular, sempre travadas ali no Galvez. Não falta apoio governamental a essa gente – o que, aliás, sobra. O que falta é mais ostracismo, mais horas de sobriedade e uma pitada de vergonha na cara.