terça-feira, dezembro 28, 2004

Ele se mexeu. O monstro se mexeu.


Não sei. Às vezes acho que o mar não gosta da gente. Presto atenção ao movimento dele e parece que ele nos cospe de volta à terra, regurgitando corpos estranhos. Sempre que vejo um surfista remando mar adentro, e voltando depois numa parede de espuma, penso nisso. A gente tenta entrar, mas ele sempre nos devolve. Os surfistas são felizes. São os bicões que entram na festa escondidos, rumo aos fundos, mesmo sabendo que serão apanhados. Antes de escurraçados, porém, curtem um pouquinho. Tiram onda com a cara do mar, tomam tubos petulantes e deslizam sobre o seu topete espumante. O mar é talvez o que temos de mais bonito pra ver, mas mata. E precisamos dele, claro. Os gnus também precisam beber água. À beira do rio, ali, ao alcance do monstro. E o monstro não gosta da gente.

Talvez 30 mil tenham morrido ontem. É, o monstro pegou pesado.

O pior é que a natureza não se vingou. Deu só uma tussidinha.

Agora é chorar, reconstruir e esperar a próxima golfada.