sexta-feira, dezembro 31, 2004

Graças a Leonard Cohen

Refogava o recheio do peru.
Lembrou dos mortos, da irmã distante.
Sentiu saudade de algo, mas não sabia o quê.
A árvore, com enfeites cafonas, tocava Jingle Bells,
O sobrinho brincava com o carrinho novo.
O vinho barato trouxe um choro barato.
O telefone tocou, a campainha soou e a cerveja gelou.
Separou os miúdos do peru de que não gostava.
E chorou, enquanto o papa rezava o galo
Em latim, atrapalhado pela tradução.
Teve raiva do ano, dos jornais, dos fracassos.
A mãe tinha missa, a avó tinha culto.
Pensou palavrões, defendendo-se das emoções.
E percebeu, assim, o porquê do choro.
Era isso.
Parou de cortar a cebola.
Enxugou os olhos.

E a vida seguiu.