quarta-feira, junho 28, 2006

Apesar de você, Parreira


Já em 1994, quando este mesmo Parreira comandava aquele timaço brasileiro formado por dois atacantes (Romário e Bebeto), um canal de televisão fez uma ótima e irritada edição de imagens do técnico brasileiro, acompanhada por “Apesar de Você”, de Chico Buarque. O gosto da iniciativa foi duvidoso, mas certeiro.

Parreira conseguiu a proeza, impensável desde sempre, de ser criticado mesmo estando invicto. O brasileiro sempre foi mais dado a elogiar ou criticar de acordo com o placar final. Agora, não. Um contra os croatas, dois contra os australianos, três contra os ganenses e quatro contra os japoneses. Ainda assim, o Brasil não convence. Não vence por causa de Parreira, vence apesar dele. É tão superior individualmente que se dá o luxo de jogar dessa forma e ainda vencer.

Fica mais dolorido ainda lembrar de Telê Santana. Porque com Parreira a vitória perde o gosto, a cerveja entra quadrada - como um “quadrado mágico” -, o placar é injusto. Se eu já nutria a vontade enrustida de que o Brasil não levasse essa (pra que ficasse mais gostoso ganhar depois), meu dissabor piora agora. Para Parreira, “show é ganhar”, como se o gol ilegal de Adriano sobre a suicida zaga ganense fosse resultado direto do futebol feio da seleção. Parreira quer nos convencer de que goleamos exatamente porque jogamos mal. Para Parreira a surra da Copa das Confederações sobre a Argentina foi um acidente lamentável, uma ocasião bizarra e inexplicável, em que o Brasil fez quatro gols jogando bem.

Não suporto ver o Brasil jogar. É chato demais ver o Émerson tocando pra trás, o Ronaldo tocando pra trás, o Ronaldinho Gaúcho proibido, por Parreira, de ser o melhor jogador do mundo. Esse timeco não me convence com seus gols em impedimento ou puramente individuais.

Somos insuperáveis. Provamos ao mundo que, mesmo numa perna só, embriagados e com um venda nos olhos, vencemos. Somos insuperáveis.

Ainda assim, prefiro perder com o Carrossel Holandês de Rinus Mitchell do que ganhar com o Tabajara de Parreira.

O Estado do Amazonas, 29 de junho de 2006