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O Brasil é um time que não é time. Um retalho de belezas e feiúras, de habilidades e de defeitos, de qualidade e de preguiça, de dom e de desleixo, como é, afinal, o Brasil. Feito de donzelas, de socialites emergentes e de ex-favelados mal-criados. Mal-criados pelo paparico, pelo ôba-ôba de uma imprensa frívola, que não é dada a cobertura, mas a tietagem, sem crítica, sem coragem e sem apego à notícia. Um time feito de brasileiros natos, feitos não mais de vira-latas.
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Hoje viajamos rumo à Copa fazendo batucada no ônibus, no avião e no treino, num fingimento supérfluo de quem quer convencer o mundo de que a idéia é jogar com alegria, ganhando dinheiro com ingressos para treinos. Não, não fazemos batucada por alegria. Rimos, brincamos e cantamos por soberba, vaidade, como querendo mostrar que, mesmo sem estudar durante todo o bimestre, somos moleques superdotados, vamos arrebentar nas provas assim mesmo.
Foi bom enquanto durou, e isso foi há décadas, quando éramos realmente superdotados, mas quando ainda comíamos baião e macarrão quebrado. Fomos gênios, mas foi naquele tempo, quando éramos aplicados, quando usávamos chuteiras que já conheciam o nosso suor. Éramos gênios, mas não somos mais.
O futebol em preto-e-branco acabou, o romantismo acabou. Estourar bolas de chiclete no fundo da sala é promessa de sufoco no fim do bimestre - quando não reprovação. Certamente é por isso que assistimos, incomodados, a gana argentina de passar de ano com antecedência, somando notas 10 em provas difíceis, enquanto vamos assim, tão brasileiramente deixando o sufoco para o fim.
É claro, é futebol, podemos ser campeões mesmo assim. Como já fomos antes, ganhando de zero a zero em 94, e entregues à missão pessoal, ao desejo de revanche pessoal de um artilheiro em 2002. É futebol, podemos ser campeões. Como já fomos antes, como passamos de ano, durante esses anos todos, mesmo de recuperação. Seremos hexa, como terminamos o colegial, aos trancos e barrancos, “perigando” reprovar até em geografia e religião. Podemos sim, ser seis estrelas no futebol. Da mesma forma que na sala de aula, passando de ano sempre, sem aprender muita coisa.
Não sofremos mais do “Complexo de vira-lata”.
Padecemos, sim, do “Complexo de Bichon-Frisé”.