sexta-feira, junho 30, 2006

quinta-feira, junho 29, 2006

Mas que petulância!


Thierry Henry declarou, nesta quinta-feira, que a habilidade natural do brasileiro para o futebol se deve à falta de escola. "Os brasileiros jogam futebol desde que nascem. Nós tínhamos de ir à escola das 8h às 17h e, quando pedíamos permissão à mãe para jogar ela dizia não. Eles [os brasileiros] jogam das 8h às 18h, então em algum momento a técnica aparece", disse. Parreira e Zagalo já cochicharam instruções específicas sobre o francês ao ouvido de Émerson. Cafu se disse irritado e ofendido, e atribuiu as declarações do atacante francês à inveja, pelo fato dos europeus terem apenas um campeonato. "Eles ainda precisam subir 4 degrais para chegar aonde estamos!", concluiu Cafu, que é titular absoluto da posição de jogador mais antigo da seleção brasileira.


quarta-feira, junho 28, 2006

Apesar de você, Parreira


Já em 1994, quando este mesmo Parreira comandava aquele timaço brasileiro formado por dois atacantes (Romário e Bebeto), um canal de televisão fez uma ótima e irritada edição de imagens do técnico brasileiro, acompanhada por “Apesar de Você”, de Chico Buarque. O gosto da iniciativa foi duvidoso, mas certeiro.

Parreira conseguiu a proeza, impensável desde sempre, de ser criticado mesmo estando invicto. O brasileiro sempre foi mais dado a elogiar ou criticar de acordo com o placar final. Agora, não. Um contra os croatas, dois contra os australianos, três contra os ganenses e quatro contra os japoneses. Ainda assim, o Brasil não convence. Não vence por causa de Parreira, vence apesar dele. É tão superior individualmente que se dá o luxo de jogar dessa forma e ainda vencer.

Fica mais dolorido ainda lembrar de Telê Santana. Porque com Parreira a vitória perde o gosto, a cerveja entra quadrada - como um “quadrado mágico” -, o placar é injusto. Se eu já nutria a vontade enrustida de que o Brasil não levasse essa (pra que ficasse mais gostoso ganhar depois), meu dissabor piora agora. Para Parreira, “show é ganhar”, como se o gol ilegal de Adriano sobre a suicida zaga ganense fosse resultado direto do futebol feio da seleção. Parreira quer nos convencer de que goleamos exatamente porque jogamos mal. Para Parreira a surra da Copa das Confederações sobre a Argentina foi um acidente lamentável, uma ocasião bizarra e inexplicável, em que o Brasil fez quatro gols jogando bem.

Não suporto ver o Brasil jogar. É chato demais ver o Émerson tocando pra trás, o Ronaldo tocando pra trás, o Ronaldinho Gaúcho proibido, por Parreira, de ser o melhor jogador do mundo. Esse timeco não me convence com seus gols em impedimento ou puramente individuais.

Somos insuperáveis. Provamos ao mundo que, mesmo numa perna só, embriagados e com um venda nos olhos, vencemos. Somos insuperáveis.

Ainda assim, prefiro perder com o Carrossel Holandês de Rinus Mitchell do que ganhar com o Tabajara de Parreira.

O Estado do Amazonas, 29 de junho de 2006



sexta-feira, junho 23, 2006

Entre meninos e homens


Nunca consegui entender como um homem consegue suportar o choro de uma criança, a bagunça com seus discos, a gritaria da beira da piscina, o pânico de um filho machucado, a obrigação de buscar e deixar na escola, reunião de pais, preocupação com drogas, companhias, festinhas, dentes nascendo, dentes quebrados, arranhões, galos, feridas, catapora, sarampo, papeira, vermes.

Nunca compreendi como um marmanjo consegue suportar um carro cheio de brinquedos, restos de pipoca, cadeirinhas, embalagens de biscoito e toalhas de natação molhadas. Sunguinhas encharcadas, então, embrulhadas em quimonos de judô, escondidos sob o banco... Como pode um homem suportar...

Eu tinha dó daqueles homens de barba mal-feita na fila da pipoca no cinema, fazendo malabarismos com baldes de refrigerante, barras de chocolate, sacos de pipoca e duas crianças histéricas lhes puxando as calças, uma por uma caixa de jujubas, outra por um saquinho de M&Ms. Enquanto eu tomava meu chope, os via inexplicavelmente sorrindo, sem mãos para sequer arrumar os óculos. Enquanto entrava com minhas compras (CDs) no meu carro compacto, no estacionamento do shopping, via sedans e vans estacionando, de onde saíam casais de zumbis – sorridentes – e uma turba de pequenos tornados, seres gritantes e famintos, entediados com uma viagem de 10 minutos, atravessando a rua sem olhar pros lados, puxando cabelos entre si.

Tinha pena do sono perdido, do salário se esvaindo em cadernos e remédios. Pena do anoitecer de sexta, numa fila de locadora, procurando desenhos animados, enquanto amigos solteiros afrouxam a gravata e combinam o chope. Pena da atenção às notas, ao termômetro, ao dever de casa. Pena da espera, no sofá da sala às duas da manhã, pelo filho que saiu com amigos, pela filha que saiu com o namorado...

Agora caminho para tudo isso, inexplicavelmente calmo. Talvez meu coração não veja o cansaço daqueles homens. Talvez enxergue apenas o sorriso que não lhes sai dos lábios.

O sorriso cansado e bobo dos homens felizes.


O Estado do Amazonas, 24 de junho de 2006



domingo, junho 18, 2006

O Complexo de Bichon-Frisé


Nelson Rodrigues disse que, com as vitórias nos mundiais, o Brasil definitivamente se livrara do “Complexo de Vira-Lata”. Como em tantas outras vezes, Nelson estava certo. O Brasil perdeu o complexo de pobre. Ótimo. Perdeu a vergonha de ser vira-lata. Que pena.

O Brasil é um time que não é time. Um retalho de belezas e feiúras, de habilidades e de defeitos, de qualidade e de preguiça, de dom e de desleixo, como é, afinal, o Brasil. Feito de donzelas, de socialites emergentes e de ex-favelados mal-criados. Mal-criados pelo paparico, pelo ôba-ôba de uma imprensa frívola, que não é dada a cobertura, mas a tietagem, sem crítica, sem coragem e sem apego à notícia. Um time feito de brasileiros natos, feitos não mais de vira-latas.

Esse é o timeco brasileiro, um vira-lata antes sarnento e apaixonado, que desacostumou-se aos restos misturados de baião-de-dois, lasanha com catchup e feijoada da infância. Feito de ex-moleques boleiros da periferia, novos ricos, garotos de condomínio fechado, queixando-se da devoção tática do adversário em defender-se. Vejo as justificativas: “o adversário se defendeu demais”. Vejo um dream-team de araque, acostumado a vencer apenas seleções menores – sem expressão, como gostam nossos cronistas.

Hoje viajamos rumo à Copa fazendo batucada no ônibus, no avião e no treino, num fingimento supérfluo de quem quer convencer o mundo de que a idéia é jogar com alegria, ganhando dinheiro com ingressos para treinos. Não, não fazemos batucada por alegria. Rimos, brincamos e cantamos por soberba, vaidade, como querendo mostrar que, mesmo sem estudar durante todo o bimestre, somos moleques superdotados, vamos arrebentar nas provas assim mesmo.

Foi bom enquanto durou, e isso foi há décadas, quando éramos realmente superdotados, mas quando ainda comíamos baião e macarrão quebrado. Fomos gênios, mas foi naquele tempo, quando éramos aplicados, quando usávamos chuteiras que já conheciam o nosso suor. Éramos gênios, mas não somos mais.

O futebol em preto-e-branco acabou, o romantismo acabou. Estourar bolas de chiclete no fundo da sala é promessa de sufoco no fim do bimestre - quando não reprovação. Certamente é por isso que assistimos, incomodados, a gana argentina de passar de ano com antecedência, somando notas 10 em provas difíceis, enquanto vamos assim, tão brasileiramente deixando o sufoco para o fim.

É claro, é futebol, podemos ser campeões mesmo assim. Como já fomos antes, ganhando de zero a zero em 94, e entregues à missão pessoal, ao desejo de revanche pessoal de um artilheiro em 2002. É futebol, podemos ser campeões. Como já fomos antes, como passamos de ano, durante esses anos todos, mesmo de recuperação. Seremos hexa, como terminamos o colegial, aos trancos e barrancos, “perigando” reprovar até em geografia e religião. Podemos sim, ser seis estrelas no futebol. Da mesma forma que na sala de aula, passando de ano sempre, sem aprender muita coisa.

Não sofremos mais do “Complexo de vira-lata”.

Padecemos, sim, do “Complexo de Bichon-Frisé”.

segunda-feira, junho 12, 2006

Notas de segunda-feira



Uma família feliz


A população amazonense está chocada, ainda sem saber o que lhe atingiu. As crianças estão jururus, os velhos dos asilos andam sem palavras. Motoristas de ônibus mal conseguem se concentrar no trabalho, os escritórios estão silenciosos. Há uma mistura de incredulidade e estado de choque em toda a cidade de Manaus. Ninguém, ninguém consegue conceber, acreditar, visualizar mentalmente o que e revista Veja contou, e ainda vai levar algum tempo para crermos que Amazonino tem algo a ver com o Correio Amazonense e com a editora Novo Tempo. Acho que a revista errou no tom. Não se dá uma notícia dessas assim, de supetão.

“Eu sou um cidadão comum, exatamente igual a você”. É com essa plataforma que Amazonino pretende vencer a eleição de outubro. Mas peraí, eu pago IPTU, não tenho ficha policial, minha casa está no meu nome e não vou concorrer a governador com uma campanha estimada em 300 milhões de reais! Como pode?

Toda vez que lembro, aliás, das histórias da COSAMA, do Porto de Manaus, da votação pela reeleição, de Ronivon Santiago, de Sabino Castelo Branco, de Liberman Moreno e daquela boca fofa falando que é “exatamente igual a mim”, me lembro daqueles sites pornô, especializados em sexo inter-racial. Negões cuidando de loirinhas, falando coisas lindas como “suck, biaatch!” – que nesse caso, com aquela dicção, seria “suck, viaatch!”.

A Austrália acaba de vencer o Japão, de virada, por 3 x 1. Injustíssimo. A julgar pela qualidade dos dois times, o placar deveria ter sido–5 x –3.

Cafu, acusado de falsificação de documentos desde 2001, pode ser preso pela justíssima justiça italiana. Em tese, portanto, nem poderia ter erguido aquela taça em 2002. Menos mal, o Brasil podia colocar Cicinho em seu lugar e experimentar o que é um lateral direito que saiba fazer um cruzamento...

Tem coisa mais ridícula do que um bando de brasileiros, atrás de uma repórter, quietinhos, esperando entrar no ar para ficarem eufóricos? Presta atenção, aquele bando de macho, ansioso, esperando pra gritar feito loucos para a televisão. Não, não tem nada mais ridículo.

Se bem que o delay entre as trasmissões no Brasil e os enviados à Alemanha é bem engraçadinho, também. Presta atenção na gracinha da Glenda Koslowiski, toda perdidinha...

Preciso saber, de uma vez por todas, o que o Itau quer de mim, me dizendo a cada 3 minutos, que está piscando pra mim, porque ele pisca pra mim, porque ele me quer, porque ele está piscando é pra mim, porque é a mim que ele quer, porque eu sou a sexta estrela, e é por isso que ele pisca é pra mim...

Sacanagem: já corre o boato que o problema de Ronaldo Fenômeno é novamente febre-amarela. Mas é mais do que isso: é um complô americano para tirar os favoritos do páreo. Figo, de Portugal, está com as mesmas bolhas de Ronaldo. A chuteira é a mesma, fabricada pela Nike.

Depois da experiência indigesta de improvisar numa conversa em vez de num discurso, Lula retomou o mais seguro: falar ao povo, sem chance de ser rebatido.

A quem possa interessar: meu livro vai de vento em popa. Escolhi um pseudônimo de respeito para o exigente mercado editorial brasileiro: "Marcos Personal-Trainerzinho". Que tal?

sexta-feira, junho 09, 2006

Pára, Brasil: Ronaldo está de cabeça cheia!


Taí, dessa vez estou com o Presidente. Não fez nada demais em perguntar se Ronaldo Fenômeno-de-Frescura está gordo. O que Lula queria era ser gente boa, como sempre é. Desde que entrou em ritmo de Copa, o Presidente anda fazendo o mesmo que todos, do engraxate do boteco à DPZ ou à DM9. Seu vasto acervo de metáforas (uma sobre o orçamento familiar e ourra sobre futebol) lhe permite apenas isso. O presidente está até no lucro, comparado à população que o adora e às premiadíssimas agências de propaganda - tem uma a mais.

Me incomodo demais, sinto pena, me constranjo quando alguém brinca inocentemente com assuntos inocentes, e é veementemente repelido pela vítima de sua piadinha. Foi o que vi na video-conferência entre Lula e Parreira, e o que imaginei sobre os recônditos do Palácio da Alvorada, com Dona Marisa disfarçando o misto de concordância e de raiva do craque ofendido. Lula não merecia isso. Não, isso não.

Como é o sumo representante do povo brasileiro, ressona e reflete as angústias, dúvidas e anseios da população, vi a resposta de Ronaldo como uma ofensa a todo o povo, que tinha, naquele momento, Lula como seu porta-voz.

Ronaldo, aliás, precisa deixar de ser mimado, senão vai acabar como Barrichelo, fazendo cara de choro toda vez que é chamado de Pé-de-Chinelo. Está na mesma posição do coitado do Marcos Pontes, nosso valoroso "astronauta brasileiro", sendo muito bem pago para nos representar no único momento da política externa nacional em que somos respeitados. Ou Ronaldo acha que o Brasil não se incomodaria se, depois de oito anos de intenso treinamento, Marcos Pontes sentisse febre, dor no calcanhar ou uma caganeira no momento de seu lançamento às estrelas?

Ronaldo precisa parar de ser cheio de não-me-toques. Precisa parar de achar que estão todos lhe perseguindo, como se novamente tivesse que provar que não é epilético, tã-tã ou drogado, como ocorreu em 1998.

E nossa imprensa, essa precisa parar de fazer as vezes daquele moleque de recado, tentando, na falta de notícias pra tanta cobertura, achar uma polêmica besta pra se entreter, pra entreter o povo.

Ronaldo não deveria ter dirigido seu ataque, seu chilique ao presidente, mas à toda a imprensa nacional, dizendo, bem na cara do Tino Marcos ou do Mauro Naves, algo como "Ora, vocês não têm mais o que falar, não?!"

Ronaldo pode até arrebentar na Copa, mas perdeu meu voto. Só pra deixar de ser mariquinhas, mulherzinha, fresquinho e complexado. E se tocar que, como Rubinho, que já se tocou e sabe que é incompetente. Ronaldo precisa dar uma de Preta Gil, assumir-se gordinho, ganhar um trocadinho e deixar nosso presidente em paz. Já é tanta coisa pro Lula pensar, pô!

quinta-feira, junho 08, 2006

Preciso de um pseudônimo, urgente!


Decidi, vou escrever um livro. Foi ontem, na fila do pão. Ou terá sido enquanto afivelava o cinto de segurança? Enfim, foi num daqueles momentos entre o troco da padaria e a puxada na alavanca do pisca-pisca. É mais provável que eu já estivesse virando a esquina, onde pequenos grupos de estudantes secundários se paqueravam, sob a penumbra, com as solas dos tênis nas paredes. Sim, foi ali, no momento em que eu me imaginei comprando pão e leite – e um doce pro meu filho.

Então tentei, enquanto procurava uma estação com música brasileira no rádio, pensar num esquema, no esboço de um roteiro, nas características dos personagens. Concordei com o pensamento que veio logo a seguir, como as primeiras bolhas de ar que sobem à tona num mergulho, grandes, brilhantes e cheias de vento: era necessário descrever cenários meticulosamente, de preferência com metáforas como essa das bolhas de ar. Era preciso traçar as pequenas nuances do cotidiano, como os pés dos colegiais no muro. Sim, eu tive essa certeza, todinha, enquanto aguardava, tamborilando os dedos no volante do carro ao som de João Bosco, aquele clique oco, como o de uma pequena pedra numa caixa de alumínio, que apagaria a lâmpada vermelha e me deixaria seguir. Sim, essa metáfora meio longa demais foi sobre o esperar do sinal verde.

Pois bem, cheguei em casa e, todo protetor, chequei as trancas do carro, chacoalhei as orelhas das minhas cadelas e senti, em silêncio, que o pão já estava apenas morno, dentro do saco marrom-ocre de papel. Joguei as chaves, que tilintaram no braço do sofá, uma sobre a outra, e imaginei, novamente, meu filho reconhecendo a minha presença, daqui a alguns anos, ouvindo a mesma espécie de ruído gostoso. Liguei o computador e lembrei da disciplina dos grandes escritores, enfurnados em seus escritórios enfumaçados, em suas escrivaninhas de mogno, entre notas, canetas, lapiseiras, um cinzeiro cheio e uma tela em branco bem à sua frente.

Pra dar sorte, acendi também um cigarro, que estalou diante dos meus olhos, o fumo prensado cedendo à fúria insensata da chama e à minha vontade de escrever um grande livro. Aqui vou eu, como a mocinha do filme de terror, que não liga para a platéia e segue adiante, no corredor escuro da mansão assombrada, rumo ao desconhecido. Estou neste exato momento procurando por sites que ensinem a escrever livros. Os vejo em breve, na minha tarde de autógrafos, fingindo lembrar o nome de todos vocês, com um sorrisinho amarelo e uma caligrafia imponente, onde escreverei coisas como “pro irmão de ótimas conversas” ou “para uma mulher que admiro muito”.

Um grande beijo do Ismael.

Desejem-me sorte.

quarta-feira, junho 07, 2006

As ironias involuntárias são as melhores


Ontem, dia 6 de junho, o IMTRANS, Instituto Municipal de Trânsito, entregou os prêmios aos 26 ganhadores do VI Prêmio Denatran, um concurso que tinha como mote a Educação para o Trânsito. Muito bonito, muito bonito.

Mas bonito mesmo foi passar em frente à sede da Prefeitura, ali na Avenida Brasil, e ver dois “azuizinhos” de prontidão, com a missão de evitar que os funcionários e visitantes da Prefeitura estacionassem, como fazem diariamente, na calçada do prédio, obrigando os pedestres a caminhar uns 150m pelo asfalto.

Claro, durante um evento de premiação num concurso de Educação no Trânsito, seria de péssimo tom permitir que a deseducação diária estivesse ao alcance das lentes dos desafetos. Bom, pra mim isso não importa. O que importa é ver aquele monte de gente reclamando da rigidez da medida, que durou uma manhã, um pouco mais do que a cerimônia em si. Só se calavam quando ficavam sabendo os motivos da truculenta medida.

Estacionei por perto dali, de sorrisinho contente nos lábios, em área de estacionamento permitido. Faço isso sempre. Foi divertido ver tanta gente desnorteada, olhando para o meio-fio, onde é permitido estacionar a 50m de distância dos portões, sem enxerga-lo. Foi divertida a ironia da situação.

Enfim, cerimônia terminada, ordem restaurada. E à tarde, de volta à ordem normal da vida, ali estavam os carros estacionados e os pedestres no asfalto. Nada de “azuizinhos”.

Nada de Educação no Trânsito.

Paz, de novo.

O defeito está na fôrma


Há corruptos inclusive na Finlândia. Talvez os finlandeses nutram macabra curiosidade por pessoas com esse tipo de desvio de caráter, mas há. Há, até que sejam pegos. Muito da leniência institucional que causa o Nada em que os escândalos brasileiros se transformam se deve a coisas intangíveis, como o medo da instabilidade econômica, que apredemos, recentemente, a temer - com a graça de Deus-Pai. Deduz-se que, com um ministro de economia de pé, os investimentos externos estejam garantidos.

Eu chamaria isso de "O Grande Conchavo Nacional", uma mansidão moral baseada no medo Keynesiano de se perder regalias - nesse caso, o arroz, 6% mais barato, graças à tal Estabilidade, à confiança externa em nossas instituições democráticas e comerciais.

Há quem imagine, e se orgulhe disso, que o Brasil é rico, mas tão rico, que consiga, só por isso, sobreviver aos saques bilionários que sofre. Essas pessoas têm essa visão ignorante e cínica porque esforçam-se, sem chance de trégua, para não dependerem da ponta em que o dinheiro não chega, os consultórios e farmácias do SUS, a pobreza tradicional do ensino primário e médio.

O profundo silêncio das ruas é como o silêncio de um refeitório de caserna, no qual milhões de esfomeados são calados e distraídos por uma concha de feijão, duas colheres de arroz, umas rodelas de pepino e um bife cheio de colorau, enquanto se lhes roubam a dignidade. Hoje temos mais comida, e comida mais barata, à mesa. Hoje temos investimentos externos garantidos pelo espírito ordeiro e tímido com que nos deixamos ser assaltados.

Eis o nosso preço, um prato de comida. Um preço diferente do preço que se paga na Helsinke, com certeza, onde desenvolvimento não é presente alheio, moeda de troca, passaporte para o assalto. Somos diferentes, isso não é novidade. Não é de hoje, afinal, nossa tradição de estabilidade política já tem quase década.

Um país cuja tolerância ao banditismo político é flexível, é flexível.

Moralmente flexível.

O Estado do Amazonas, 8 de junho de 2006.


terça-feira, junho 06, 2006

O Movimento dos Sem Cadeia


400 militantes do Movimento de Luta dos Sem Terra, uma dissidência (facção) do MST, invadiram o prédio da Câmara dos Deputados e depredaram tudo que encontraram pela frente - móveis, portas de vidro, equipamentos eletrônicos de controle de entrada. Viraram um Fiat Uno que estava estacionado na entrada do prédio. Usaram o carro para forçar a entrada no Salão Verde da Câmara.

Bruno Maranhão, líder do atentado e integrante da executiva nacional do PT, queria falar com Aldo Rebelo, presidente da casa. Ao recebê-lo, Rebelo anunciou: “Não o receberei. Vocês serão presos e autuados pelo que fizeram”. Não ficou um, meu irmão!

O saldo? Muita quebradeira, 15 seguranças feridos a pedradas (um em estado grave, atingido na cabeça e com parada cardíaca), vidraças estilhaçadas, carro tombado, pose pra fotografias de Sibá Machado (PT-AC), faixas contra o atraso na votação do orçamento (que já foi votado) e contra lei que obriga a vistoria de terras ocupadas.

O atentado estava agendado havia vários dias. O crime foi premeditado. “Aqui é a casa do povo. Se não entrar por bem, vamos entrar por mal”, bradava Marcos Prachedes, dirigente da quadrilha, que não é empresa, não tem identidade jurídica e não tem CNPJ – mas tem dirigentes.

Prachedes está certo, a casa é do povo – não do MST, do MLST ou de qualquer outra organização criminosa. Não é de Sibá, de Aldo nem de ACM. Não foi paga por Bornhausen nem por Calheiros. Foi paga pelo povo. As avarias serão pagas pelo povo, que ainda não cansou de ter seu nome usado em vão por todo tipo de bandido.

Os líderes foram presos, os outros 400 meliantes também serão. Vão passar algumas horas detidos. Maranhão, o líder da quadrilha, passou mal assim que foi detido, burguesamente acompanhado de advogado. Deve seguir a cartilha de seus financiadores: pedir hábeas-corpus preventivo, cumprir pena em liberdade. Ou aparecer de pantufas e agasalho cor-de-rosa, no Fantástico, debochando da cara de seus milhões de financiadores compulsórios: nós.

O Estado do Amazonas, 7 de junho de 2006


segunda-feira, junho 05, 2006

Notas de segunda-feira


Fonte: NoblatLula, democrata nato, certa vez tentou expulsar um jornalista americano do país - um boliviano certamente teria tratamento melhor. Tudo porque foi chamado de cachaceiro. Agora Alckmin, que preferem chamar de chuchu pra não chamarem de bundão, vira o copo pra ganhar voto de bêbado também. Essas coisas Larry Rohter não mostra!


Dizia ontem o UOL pra mim: "Clique e confira o ensaio da supergata da semana", com um link para essa foto. Honestamente, acho que curtir meninas anoréxicas é tão hediondo quanto curtir fotos de criançinhas peladas. Eu hein!


E pra terminar o flog das notas de segunda...


Geraaaaaaldo Alckmin, um sopro de novidade e renovação na
política nacional, montado num jegue em Pernambuco



Quem diria, Paulo De'Carli é hoje o vereador manaura que mais inspira confiança, graças a sua luta pelo fim do nepotismo na Câmara Municipal de Manaus. Por aí, leitor, dá pra ter uma idéia da qualidade dessa legislatura...

A Rede Amazônica finalmente, depois de alguns meses cobrindo os projetos artísticos das companhias de teatro infantil da cidade e das feiras de móveis do Studio 5, deu uma notícia. Foi na visita do presidente a Manaus. Mas nada que reflita o prestígio de Lula, não. É que o jornalista Felipe Daou estava lá. Ah, se o jornalista Felipe Daou estivesse sempre presente assim...

Há certos tipos de bactérias (estafilococos, se não me engano) que podem levar à morte. Mas não sem antes provocar dores, calafrios e convulsões. Às vezes eclodem numa simples espinha no rosto - às vezes podem nascer de uma bolha no pé. Quando Ronaldão começar com tremelique de novo na final da Copa, não digam que não avisei.

O julgamento de Suzane, que seria hoje, foi adiado pra depois da Copa. É que o advogado dos Cravinhos faltou. Como o juiz adiou o julgamento deles por conta disso, os advogados dela, que não conseguiam de forma alguma adiar o julgamento, pegaram as maletas e foram embora. Assim, adiou-se o julgamento dela também. Simples, né?

Mais simples ainda? Suzane pode ficar livre, mesmo que seja condenada. Engula o susto, leitor. É que há um precedente conhecido, o caso de Pimenta Neves, o diretor de jornal que matou a namorada pelas costas. Ele está condenado, mas livre. Como Salvatore Cacciola, Lalau, Maluf, Sabino, Estevão...

A Câmara dos Deputados amazonense se faz de lesa para levar adiante o processo de cassação de Nelson Azêdo, o deputado que, junto com o indiciado Ari Moutinho e o filho azedinho, arrancam o sorriso dos pobres em troca de voto. Estou providenciando um dossiê com a ficha de cada um dos vereadores e deputados safados de nossa terra. Vai já sair.

Enquanto isso, vá anotando os nomes dos defensores do nepotismo: Glória Carrate, a do V3 Pink; Gilmar Nascimento, líder do Prefeito; Ayr José, o mineiro anti-migração; Coronel Vicente, que entregou o acordo contra a Lei; Costinha, cujo nome dispensa maiores comentários; Braguinha, idem; Nelson Amazonas, o azedinho que cobra voto em troca de flúor; Francisco Gomes e Irailton, que só aparecem quando o assunto é de seu interesse; Isaac Tayah, Jéferson dos Anjos, Jorge Maia, Jorge Luiz, Luiz Fernando e Mario Bastos, que não fedem nem cheiram (pensando bem...); Massami Miki, japa com jeitão de malandro, acusado de ficar com parte do salário de seus assessores; Tony Ferreira, Amaury Colares, Williams Tatá e Roberto Sabino, outros bostas n'água.

Daqui a três meses essa moçada vai estar lhe enchendo o saco. Quando usarem expressões como "vou defender os interesses do povo no Parlamento" (e vão usar), se estiverem no raio de ação (e vão estar), enfie a mão na cara.

Andaram dizendo hoje que o metrossexual Beckham não está mais com nada. O lance agora é Ronaldinho Gaúcho, que é hexassexual.

De uma angústia dolorida ver as caras de Leonardo (seleção de 94), Arnaldo Cézar Coelho e Falcão em frente à simpatia que é Galvão Bueno, ao vivo, depois daquela porcaria chamada "Sob Nova Direção". Não tenho nada contra o locutor Galvão, que é o melhor do Brasil. Mas como pessoa o cara parece realmente ser uma lástima.

Exijo saber quanto Tony Ramos está ganhando pra ficar dizendo "faz favor!", "não entende esse!", e "aquele cassoro zem-vergonha do André!". Eu faço melhor.

domingo, junho 04, 2006

O Malfazejo recomenda




Mark Twain, em Dicas Úteis para uma Vida Fútil, da Editora Relume Dumará.

Na opinião de Gregg Camfield, autor de The Oxford Companion to Mark Twain, "este é o livro perfeito para dar de presente para um fã de Mark Twain, para quem gosta de rir ou para qualquer almofadinha que precise de estofo".

A minha opinião?

Compre.