quinta-feira, setembro 02, 2004

Uma saudade sem dono

O ar rarefeito do trigésimo andar (onde cheguei arfante no último fevereiro) tem cobrado seu preço. O álcool sempre me causou lapsos de memória recente, mesmo nos andares de baixo, mas hoje a coisa complicou. Acordei triste, inexplicavelmente pensando no meu pai, que não conheci. Morreu quando eu tinha três anos, e se havia uma chance de que um dia um pop-up de lembrança saltaria na minha tela, os anos de mé a anularam. Quando alguém me fala dele, um misto de tristeza e conforto me pega. Meu Deus, como as pessoas o amavam... e eu não o conheci. Então eu penso, covardemente, que estou livre da dor de perdê-lo. Mas como eu queria que ele estivesse aqui, pra eu poder chorar, como os outros. Confesso, eu o quis, mesmo que depois chorasse. Sei, preciso cuidar de quem ficou, mas essa ausência doeu muito hoje. Não tive a dor, mas também não tenho as lembranças.

Ah, vai ver só preciso de uma xícara de chá de boldo e de uma boa chorada. Voltemos à luz do dia, por favor.