segunda-feira, janeiro 03, 2005

O Conde e as Raimuringas**


Dizia o sábio Conde Weissefüderr* que, entre outros efeitos indesejados, a exposição sistemática e continuada ao álcool - e ao arremedo de samba chamado pagode - afeta a escala de valores pessoais que cada um de nós traz durante a sobriedade. Por isso, pontificava o Conde, para o que sóbrios costumamos apreciar, embebidos em cerveja criamos asco. Embriagados encontramos uma beleza exótica, mas enorme, nas coisas mais feias. O álcool tem dessas. Meros conhecidos tornam-se amigos, feios ficam lindos, pobres ficam ricos, beócios subitamente falam línguas perdidas.

Também constantemente embriagados passamos a catar milho muito mal, trocando letras muito próximas no teclado, como Us e Is, ésses e zês. Claro, balela pura. Há gente que justifique um "servisso" com a coitada da pressa, que não fez mal a ninguém. Mas são os Us e Is, ali, feitos unha e carne nos teclados, que teimam em se estapear e brigar por um lugar ao sol. Quando os bêbados observados pelo Conde queriam falar U, saía um I, e vice-versa.

Conhecido pela sisudez e pela ranzinzice, o Conde não perdoava. Como castigo pelos erros de grafia, condenava suas ébrias e gargalhantes cobaias ao confinamento de sua empoeirada e escura biblioteca e a escrever repetidamente na lousa verde-musgo a grafia correta das palavras. Certa vez irritou-se muito com três letrinhas bobas, com um U no meio. A palavra era VUP, sigla em inglês que designa pessoas muito feias, Very Ugly People. Mas seus pupilos teimavam em escrever VIP, catando milho com suas unhazinhas pink.

Eu sei, eu sei. Uma tela em branco dando sopa é a oficina do diabo, indeed.
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* A pronúncia é Vaize-fiúderr!
** Raimuringa é o nome de guerra genérico daquela feia de cara, e de bunda pior ainda.