quarta-feira, janeiro 05, 2005

Goodfellas, based on a true story


Tommy fuzila o garção que demorava a atendê-lo

Em Os Bons Companheiros (1990), Tommy DeVito (Joe Pesci) é um mafioso sanguinário e estabanado, que mata Billy Batts, importante figura do mundo do crime nova-iorquino, apenas por ter sido lembrado de suas origens humildes, quando engraxava os sapatos dos figurões da cidade. Tommy é assim, grita muito, faz muita besteira e por várias vezes quase põe a perder o ganha-pão de seus amigos criminosos, por simples burrice. Impulsivo, imprevisível, desarticulado e virulento, mata a esmo e fala demais, causando mais estragos em casa do que no inimigo. Mas é quando aceita fazer parte do esquema de tráfico de cocaína de Henry (Ray Liotta), o garoto do Brooklyn, que fica evidente que Tommy não serve à máfia. Paulie Cícero (Paul Sorvino), o big boss, não aceita drogas nas atividades da máfia italiana. Mas Tommy, convencido por Henry, vai atrás do pó. Quando é finalmente aceito no exclusivo mundo da máfia siciliana, seu sonho de mafioso amador, recebe tapinhas nas costas, beijos nas bochechas e... um balaço na nuca. A máfia não esquecera Billy Batts. A máfia nunca esquece.

Fosse a máfia amazonense baseada no código de conduta de Goodfellas, o nosso Tommy DeVito, que é louco para ser aceito na exclusiva roda de seus ídolos, já teria tomado uma bala na nuca. Já vimos os beijos nas bochechas, os tapinhas nas costas. Falta a bala, falta a bala. Nosso Tommy também atrapalha mais do que ajuda. Numa demonstração de amadorismo e falta de imaginação, inventou histórias fantas, de filhos bastardos, sobre seus inimigos. Talvez seja essa trapalhada o Billy Batts do nosso Tommy. Tommy faz muito barulho, não tem estilo, inteligência e habilidade. Se envolveu também com pó, mas os chefões já o haviam perdoado, bem como a justiça. O nosso Tommy também tem sangue puro, exigência da tradicional máfia siciliana, onde mestiços não podem entrar.

Mas a paciência dos chefões sempre acaba. Tommy DeVito que se cuide. A máfia nunca esquece quem a atrapalha, corta na própria carne quando necessário.

E eu vou torcer para isso. Não gosto de finais felizes.