quinta-feira, abril 27, 2006

Ah, desliga primeiro você, vai...


Na política tudo corre à boca pequena. Contar o que todo mundo fotografa, ouve, filma e vê, não é nada. É necessário ter fontes “no intestino dos governos”, como diria Roberto Jéferson. O jogo de cena da imprensa, misturado à incapacidade e à preguiça latentes em se investigar esses intestinos, rege a parca opinião pública, que ainda se vale de jornais para saber o que acontece em seu quintal.

Durante a semana passada muito se falou da abortada CPI da CEMA. Eron Bezerra, com suas pistolinhas d’água, conseguiu assinaturas favoráveis às investigações, Precisava de mais duas, precisava de mais duas, só mais duas.

Liberman Moreno fez jogo de cena, assinando o papel de caso pensado, sabedor que era (olha a boca miúda aí) de que outros dois deputados retirariam suas assinaturas mais tarde, inviabilizando a CPI. Por fim, aconteceu o que todos os praticantes da boca pequena esperavam, Evilásio Nascimento e Francisco Balieiro retiraram suas assinaturas. A CPI estava morta, mal paga e enterrada.

Evilásio viajou no final de semana. Com quem? Eduardo Braga (sem compromisso algum). Evilásio é irmão de Alfredo Nascimento, presidente do PL, partido do mensalão. Leonel Feitoza, que agora nega ter relações com Alfredo, também fez pose, ameaçando uma CPI sobre o Expresso. Resultado? Evilásio, irmão de Alfredo, retirou sua assinatura da CPI da CEMA, pra que Leonel, representando os anseios da população, desistisse de investigar seu irmão quanto aos ônibus.

Por motivos que só mesmo à boca pequena seríamos capazes de entender, alguém, na administração passada, comprou remédio suficiente pra 100 anos de doença no Amazonas. Alguém, também não sei por quais motivos, incinerou boa parte desses medicamentos. Alguém roubou e malversou dinheiro durante a implantação do sistema Expresso na cidade.

Alguém mentiu, alguém fraudou e alguém ganhou. Todos sujeitos ocultos.

O único sujeito determinado é o alguém que se ferrou.

Já adivinhou quem?

Pensa, leitor, pensa...


O Estado do Amazonas, 27 de abril de 2006