terça-feira, abril 25, 2006

O Triângulo das Bermudas, versão GSM



Tatiana, atendente de call-center, me guiando para o
abatedouro do setor de "cancelamento de contas" da TIM

Brasileiro tem mania de fazer piada sobre tudo. Até da desgraça, principalmente a alheia. Brasileiro não gosta de drama, só de comédia. Tenho visto piadinhas na tevê, em revistas, em blogs, em conversas, em todo canto, sobre o que é tentar cancelar uma linha de telefone celular. O filme é de terror, minha gente! Não tem nada de comédia romântica. Não tem nada de Selton Melo, é Paulo Autran puro. Aliás, mais, é Antônio Abujamra na veia!

Já pintei várias versões da cena na cabeça, mas fico com duas. Na primeira, eu via uma ficção científica bem sombria, na qual a simples citação do verbo “cancelar” abria um portal, um alçapão sob os meus pés, que me atiraria para o mais absoluto Nada no espaço sideral, de onde nunca mais eu voltaria. Ficaria eternamente - ou morreria de asfixia antes disso – boiando no limbo do universo, numa dimensão paralela, ouvindo Pour Elise ou algo como “sua ligação é muito importante para nós”. Você, que assistiu Matrix e lembra das pessoas sendo resgatadas pelo fio do telefone pode imaginar, só que ao contrário. Um deslize, um inocente “quero cancelar...” e um wuuuuush!!! me sugaria rumo à morte, do fundo das profundezas do mais sombrio inferno estelar, mais conhecido como "setor de cancelamento de contas", lugar de onde ninguém nunca voltou pra contar a história.

Outra versão teria um galpão gigantesco, cinzento e úmido, repleto de mesas apertadas, onde zumbis com olheiras enormes e tiques nervosos provenientes do estresse me atenderiam sempre com um sotaque caipira, no gerúndio, fingindo uma educação e uma paciência fictícias. Tudo correria bem no início da ligação, parecendo algo cor-de-rosa em forma de voz, até o apocalíptico “cancelar”. Então tudo mudaria. Gritos horrendos tomariam conta do galpão e zumbis correriam em desespero entre as mesas, berrando “Falaram a palavra! Falaram a palavraaaa!!! Corram, salvem-se!!!”. Numa cena típica do mundo da televisão, contra-regras agilíssimos desmontariam o cenário em segundos, picadores de papel seriam acionados aos montes e rostos se derreteriam, como naquela cena de Os Caçadores da Arca Perdida. Tudo viraria pó e sangue, e só o que restariam seriam os milhões de telefonemas sem fim. Gemidos, ranger de dentes, choros angustiados tomariam conta dos escritórios de call-center, com humildes jovenzinhas, aos prantos, conhecendo seu triste destino, e dizendo "Meu Deus, me salve, e juro que vou estar abandonando essa vida!"

A primeira versão é mais verossímil. Dos 30 milhões de clientes que eles gostam de exibir nas propagandas, faço parte dos prováveis 10 milhões que estão flutuando entre as estrelas, ouvindo Pour Elise e um singelo “no momento nosso sistema está fora do ar, senhorrr” ou um "senhora, nosso sistema subitamente ficou inoperante, a senhora poderia estar nos ligando em 30 minutos?".

Terror puro. Terror total.