quarta-feira, abril 26, 2006

Cumpuder, sempuder



"O Governo gasta muito pagando juros da dívida,
e muito pouco ajudando os mais pobres"


PSDB, psiu!, isso não te perteeeeeennnnnnce...


Juro, se eu fosse um cineasta, um animador, desses que pipocam nos botecos de Manaus falando em "desconstrução da idéia", essa terra sem cinema e sem animação, faria um filminho sobre a briga entre governo, qualquer que seja ele, e oposição, qualquer que seja ela, pelo poder. Não, quando falo poder não falo em influência, carisma ou capacidade de mudar o mundo. Não, nada de Churchill. Quando falo em poder, falo em nomeações, verbas indenizatórias para gastos com combustíveis e distribuição de cargos entre parentes. Infelizmente poder, aqui, é isso.

No meu filme haveria um muro, um grande muro, como o de uma fortaleza medieval, onde haveria um trono suntuoso (e portanto brega, pra ambientar o espectador na América Latina), onde estaria sentado o poderoso do momento, dando de ombros à gritaria lá de baixo, onde uma horda de oposicionistas gritariam palavras de desordem, em português fuleiro, babando como os orcs de Peter Jackson.

Mas tudo seria filmado em alta rotação, com oposicionistas assumindo o poder rapidamente, com governistas caindo ao chão rapidamente, numa repetição frenética, como numa dança das cadeiras. Repetiriam-se os gestos, ou seja, a empáfia e a arrogância da governança daria lugar à chatice e à hipocrisia da oposição, tudo a 40 quadros por segundo. O mesmo com a oposição, que a cada 5 segundos trocaria de lugar com os inimigos, trocando o discurso esquerdista pelo governista como quem troca de roupa em Manaus, ou seja, várias vezes por dia.

Uma turma estaria de nariz empinado num quadro, com foices e bonés revolucionários no outro. Outra turma estaria falando errado na tevê contra os juros numa tomada em close, noutra estaria defendendo as instituições democráticas, a estabilidade econômica e o superávit primário - ou seja, os bancos. E assim as duas turmas revezariam-se, durante o filme todo, em alta velocidade (claro, seria um curta, sem incentivo governamental), como o cachorro bobo de um desenho animado, dando voltas ao redor de uma árvore atrás do gato malandro.

Hoje meu horário nobre desprovido de tevê a cabo foi assim, com Alckmin duas vezes por intervalo de Belíssima, dizendo que Lula cobra muitos impostos, que não investe nos pobres. É a repetição eterna, ainda que bizarra e sem sentido, da cena do meu filme.

Não entendeu? Não conseguiu captar, pintar as cenas do meu filme na sua mente? Então estou feito, faço arte. Pra você que não entendeu as nuances sociológicas, antropológicas e jungianas do meu roteiro, simplifico: sabe aquela piadinha de escritório?

Experimente:

- Barbosa, rapá, passei a noite sonhando contigo!
- Quê isso, parceiro, tá me estranhando?!
- Não! Era muito estranho, a gente tava nu, correndo no meio da rua, de madrugada. Você corria atrás de mim!
- Não brinca! Sério?!
- É, rapá, eu fugia de você e você me perseguia, gritando "agora é minha vez, agora é minha vez!"


Pegou agora? É meu filme de arte, em versão nacional, dublada pelo Evandro Mesquita e pelo Diogo Vilela, com produção de Luís Fernando, pra ficar palatável pra você.