Me agrada pensar no amazonense como um boa-gente. Que se permita, assim, que nos chamem de passivos, dóceis e mansos, whatever. O estado do Amazonas, histórica e contemporaneamente povoado por migrações nordestinas e paraenses, sempre foi, e continuará sendo, uma mãe para todo tipo de visitantes. Paulistas sem lugar ao sol em Sumpáulo, cariocas fugindo dos milhares de Zé Pequenos do Rio, maranhenses procurando melhores condições e paraenses buscando uma prazerosa dor saudosista de suas Beléins, Santaréins, de seus Remos, de seus Paysandus e de seu açaí. Manaus é mulher fácil, sorridente, calorosa e ingênua. Acolhe fugitivos do Linha Direta sorrindo, como acolhe a arrogância de paulistas, paranaenses e gaúchos. Uma Geni, que todos comem e em quem todos cospem. Por isso gosto de pensar, já que nasci numa província metida a cidade, cercada de províncias metidas a metrópoles, que somos mais felizes. Nesse rodamoinho de ilusões, bairrismos e tolices medíocres, estamos mais perto da realidade do que paulistas, cariocas e paraenses, pra citar três. Os primeiros com seu sangue bugre e sua pose européia – baixa auto-estima eu perdôo; os do meio achando que são bons malandros – saudosismo eu também relevo; e os últimos achando que sua Canaã, linda nos porta-retratos sobre as tevês da sala, será sempre a última Skol – desculpem, Cerpinha - nesse seco e inóspito deserto de medíocres amazônidas. E que venham, todos os felizes, para a minha capital do mormaço, a terra dos infelizes.
Temperado com generalizações ao gosto do autor.