Acabo de receber mais um arquivo powerpoint fofinho, com gatinhos abraçados e letrinhas caindo, uma a uma, ao som de Yesterday naquela versão midi que mais parece tocada por um chimpanzé num pianinho de brinquedo. Enfim, uma bosta de bom dia. O autor – desconhecido, por supuesto - me informa que se eu não sonhar minha vida não vale a pena. “Um homem sem sonhos não vive, apenas existe”. Bonito, bonito. Nasci, cresci, existo, não atrapalho ninguém, não incomodo ninguém – até onde sei. Não roubo o que é dos outros, trabalho pra comer o que a Bíblia diz que eu ganhei de Deus. Pago impostos que aqueles que os roubam não pagam, sigo as leis de trânsito, não urino nos muros e postes, não ouço música alta tarde da noite, não fumo em lugares fechados e desligo o telefone no cinema. Mas não, não é o suficiente. Além disso preciso fazer algo, fazer a diferença, me destacar, ser lembrado. Todos os outros à minha volta precisam do mesmo. Precisamos ter sonhos, almejar algo, deixar algo para a humanidade, um livro, uma empresa de sucesso, um exemplo de vida, filhos com nosso nome, nossos genes.
Há dias em que dá vontade de apenas existir. Chega de sonhos, chega de ambições, chega de competição. Carpe Diem o cacete.