terça-feira, agosto 30, 2005
O que sinto hoje
"Olhai para mim, e pasmai; e ponde a mão sobre a boca, porque, quando me lembro disto, me perturbo, e minha carne é sobressaltada de horror. Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder? A sua semente se estabelece com eles perante a sua face, e os seus renovos perante os seus olhos. As suas casas têm paz, sem temor; e a vara de Deus não está sobre eles. O seu touro gera, e não falha, pare a sua vaca, e não aborta. Fazem sair as suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos andam saltando. Levantam a voz, ao som do tamboril e da harpa, e alegram-se ao som dos órgãos."
Jó, 21:5-12
Segundo a Bíblia, este é o trecho em que "Jó mostra que os ímpios muitas vezes gozam prosperidade nesta vida".
segunda-feira, agosto 29, 2005
Notas de segunda-feira
Pior do que a propaganda de uma construtora da cidade, que lançou um condomínio de apartamentos chamado Carlos Drummond e bolou a pérola “a poesia de Drummond não tem preço, morar no Drummond tem”, é a propaganda de uma marca de frigideiras antiaderentes. Dizendo que nada gruda nas frigideiras, a locução recomenda que se comprem apenas panelas com o selo de garantia da marca. O selo está lá, grudado bem no meio das panelas.
Hugo Chávez declarou no programa “Alô Presidente” que pretende ajudar famílias pobres, fornecendo combustível de calefação com descontos de 30 a 40%. O detalhe é que as comunidades carentes são dos Estados Unidos. Isso mesmo, Hugo Chávez oferece ajuda aos pobres americanos. Lula, Kirshner e Fidel estão irritadíssimos com o colega venezuelano.
Diz o portal IG que Lurdinha vai levar Glauco à falência. Não pelos exatos motivos, mas acabei lembrando do Axioma de Manson.
Em Ferraz de Vasconcelos, grande São Paulo, policias do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) apreenderam onze quilos de cocaína, além de outros materiais para o preparo da droga, como prensas, balanças e forno de microondas. O detalhe é que a refinaria de pó funcionava dentro de uma clínica de recuperação de drogados. As piadas são desnecessárias...
Os Estados Unidos, via satélite, indo pela latrina.
Digo, Catrina.
...péssima, eu sei.
Sharon Osbourne, esposa de Ozzy, admitiu ter sabotado o show do Iron Maiden no festival Ozzfest. Sharon cortou o som da banda durante o show. Tudo porque Bruce Dickinson andava dizendo que não participaria de um reality show e que sua banda não tocava as mesmas músicas em todos os shows. Boa, Bruce. Boa, Sharon.
Tarso Genro desistiu de sua candidatura nas próximas eleições do PT. Este país já melhoraria um pouco se os justos tivessem a coragem e a persistência dos iníquos.
Todos os jogadores de futebol citados e flagrados em diálogos pra lá de amistosos com traficantes cariocas estão sendo inocentados imediatamente pelos delegados. Palocci anda com inveja de Júlio César e Rrrrronaldo.
Aliás, Robinho arrasou na estréia no Real Madrid? Ótimo!
Estudar C++ ao som da voz de Fran Drescher, a pata rouca de The Nanny, me fez sentir saudade do trabalho. Incrível!
sexta-feira, agosto 26, 2005
Indispensável Português Fluente
“Sabe quê que é, Ismael, nós tamos precisando de um serviço rápido, a nível de terceirização, outsourcing mesmo. Nossa firma se usa dessa política, sabe, e nossos trabalhos são todos focados no nosso core-business, e a nível de budget nós temos limitações para a área de TI. Além disso, costumamos estar definindo nossos targets somente a nível de gerência. Sendo assim, você vai poder estar levando pra casa somente dados fictícios, aonde nosso database poderá ficar seguro. Information Security Policy, you know?”
Estamos próximos do dia em que as normas obrigarão que palavras em português sejam grifadas em itálico. Pensando bem, da forma como o português é falado nowadays, é melhor que caia no esquecimento mesmo. Até porque fica mais bonito um “we will be calling you soon” do que um “estaremos ligando para o sr. brevemente”. Não adianta esquentar. A porcaria é delivery.
quinta-feira, agosto 25, 2005
Enquanto não se vota a CPI da Cema...
E então, no afã de ver a classe política sair da eterna berlinda do país, o presidente da Assembléia Legislativa do Amazonas, Belarmino Lins, conseguiu, após o encerramento da sessão de ontem e numa votação fora de pauta, a aprovação de lei de sua autoria, que vem sendo chamada de “Lei da Carteirada”. Diz a nova lei que a partir de agora os deputados terão espaços reservados em eventos culturais e comemorativos patrocinados pelo poder público. Ou seja, camarotes serão reservados para otoridades estaduais, que não precisarão pagar ingresso nem se misturar com os eleitores. Eron Bezerra, deputado comunista, esposo de Dona Vanessa e chato, muito chato, justifica: “Se o Poder Executivo tem esse direito, por que o Legislativo e o Judiciário não têm?”. E emenda: “No desfile das Escolas de Samba, por exemplo, onde há espaço para os deputados?”.
Que tal aqui, ó, deputado, onde estão as pessoas que os senhores vão bajular daqui a alguns meses?
terça-feira, agosto 23, 2005
Pires, por Pires
"Cléo Pires faz parte daquela categoria de mulher que é melhor não ver. Quando estava ali, na margem da trama, só abrindo a boca (e que boca) para dizer “Tiiiiio” e lançando sorrisinhos safados para sua vítima, o executivo Glauco, já estava entre as melhores coisas da novela – junto com Quartz, o labrador que rouba a cena do inominavelmente chato Jatobá, e Bandido, o boi que parece Alec Guinness perto do expressivo Tião. A diferença é que, além de roubar a cena com sua beleza, a filha de Glória Pires não é só filha da mãe, mas uma atriz e tanto".
Trecho da coluna de hoje de Paulo Roberto Pires, de NoMinimo. Confira o resto.
segunda-feira, agosto 22, 2005
O Amazonas fazendo bonito lá fora
Do Blog do Noblat
Severino quer proibir nudismo e sexo na tv
Da Agência Câmara:
"A Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática reúne-se na quarta-feira (24) e poderá votar o Projeto de Lei 5040/01, do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que classifica como crime a exibição, em qualquer horário, de cena de nudismo ou de relações sexuais na televisão aberta – durante a programação normal ou em anúncio publicitário.
A penalidade estabelecida pela proposta é reclusão, de dois a cinco anos, e multa de até R$ 180 mil para o responsável pela emissora e pelo programa ou anúncio. O relator, deputado Silas Câmara (PTB-AM), defendeu a aprovação do projeto."
Lançando hits pro Carnaval Baiano
Cante em ritmo de axé-music, moleca:
Vai abaixando, maninha, vaaai!
Repele, repele, repele até o final, maninha, vaaai!
Bate no peitinho, olha pro céuzinho,
E repete assim com o papai:
Nego veementemente, nego veementemente
Toca no joelhinho, vai até o chãozinho, maninha, vaaai!
E rebola peremptoriamente, uh!
Bota o dedinho na boquinha, maninha!
E nega peremptoriamente, ui!
Faz carinha de safada, e vai até o chão
Faz jeitinho de sapeca, maninha, vaaai!
Diz que gosta duma ilação, vaaai!
E geme assim com o papai:
Nego de forma cabal! nego de forma cabal!
Notas de segunda-feira
Do caderno Aplauso, do Correio Amazonense, o jornal sério, independente e forte do Amazonas, sobre a saída de Silvia Buarque da novela América: “Despedida com sabor de ‘Até Breve’”. É o “afro-descedentão” (pegou?) apelando para as mensagens subliminares. Alto nível.
Aliás, por que o Faustão não ganha logo um papel na novela, já que precisa, todo santo domingo, dedicar 1/3 de seu programaço a socorrer a última porqueira de Dona Glória?
O domingo nunca foi meu dia preferido, mas Faustão e Gugu elevam o sentimento a níveis sobre-humanos. Ontem, enquanto Faustão discutia com Déborah Secco os destinos de Sol, Ed, Tião e o ET de Varginha, Gugu recebia a banda Calypso, que lançou música com Bruno & Marrone. Artigo 288 do Código Penal.
Palocci, Buratti, Maggioni, Poleto e Barquete. A Veja desta semana cala um pouco a boca de Gerald Thomas, que certa vez disse ao Pasquim que essa política brasileira dominada por nordestinos era de muito mau gosto. Talvez a porção italiana do Brasil esteja querendo dar um toque de requinte à roubalheira nacional. Ora, com um acusado chamado Pizzolato você vai querer o que mais?!
O cisto de Malu Mader era Benigno. Desculpa, Belotto.
O documentário Bastidores da Comédia (Comedian) foi lançado no Brasil. Estrelado por Jerry Seinfeld, mostra a vida dos “stand-up comedians”, aqueles humoristas que se apresentam em pequenos palcos, de frente para a platéia, contando apenas com o talento – e, no caso, a genialidade. Compre e mande um email pra mim, que te passo meu endereço para entrega.
Conta o UOL, via Reuters, que a maior parte das vacas russas precisará comer maconha no próximo inverno. Tudo porque as plantações de girassóis e de milho precisaram ser destruídas. Ficavam em meio a 40 toneladas de maconha. Um enorme protesto, com direito a caras pintadas, está previsto para ser realizado pelas vacas da Jamaica, que se sentiram ameaçadas pelas colegas russas.
Estamos há mais de uma semana sem ouvir o nome do carequinha. Sentiu falta?
Nesses tempos de crise, faça ao contrário duas coisas: almoçar num rodízio de churrasco e ler a Veja. Comece pelo fim. Dessa forma você vai saciar sua fome com picanha, em vez de lingüiça ou pão de alho, e vai se deparar com um anúncio da Bohemia na contra-capa, em vez da carranca de algum patife de Brasília na capa. Vá ao ponto. Preliminares são boas em outro departamento.
domingo, agosto 21, 2005
Lauren para todos, igualitariamente!
Lauren Graham
Lorelai Gilmore foi estatizada pela Nova Direita Brasileira. Meu Deus, eu era um deles e não sabia!
quinta-feira, agosto 18, 2005
Sua Excelência, o Fato.
A polícia britânica executou Jean Charles, que a despeito das versões anteriores dadas ao mundo, não usava casaco, não pulara a catraca do metrô e não correra dos oficiais. Ou seja, baixou o espirito do tira brasileiro nos sardentinhos por lá. Deu no que deu.
Diferentemente do modess operandi da grande esquerda brasileira, programada para defender seus pares até o último suspiro, a juventude direitista sabe repensar suas posições e admitir seus erros. Rafael Azevedo - pois é -, na falta de argumentos contra suas excelências, o fatos, dá uma de flip-flopper e revê suas idéias sobre a polícia britânica. Dia desses falava assim. Agora fala assim. Isso a esquerda não vê!
Rafael, aliás, tem dito outras coisas com as quais concordo plenamente. Sobre Carlos Nascimento e os âncoras-comentaristas, sobre a morte de Ibrahim Ferrer... Ele não vai ler isso, mas é verdade. Foi muito bom vê-lo mudar de idéia, sem nhém-nhém-nhém e sem frescura. Louvável, de verdade. Aliás, indeed.
quarta-feira, agosto 17, 2005
Nos olhos dos outros
Acher Weiss, judeu de 40 anos, casado e pai de dois filhos, roubou hoje a arma de um policial israelense durante o processo de retirada dos assentamentos judeus em Gaza e disparou a esmo contra palestinos civis e desarmados. Matou três e deixou feridos outros dois.
Talvez Weiss faça parte de um plano judeu para sabotar o processo de retirada do território palestino. Talvez tenha enlouquecido, talvez tenha sentido na pele o que sentiram os outros durante décadas e décadas. Talvez fosse um terrorista, simplesmente.
terça-feira, agosto 16, 2005
Hoo-ray!
A melancolia cega do Coronel Slade de Pacino
O personagem de Al Pacino no filme Perfume de Mulher tem significado muito pra mim. Lembrei do coronel linha-dura dia desses, acompanhando a saga petista da lealdade canina aos amigos. Porque é disso que o filme fala, da beleza da lealdade e dos efeitos dessa beleza sobre o que é certo, justo, constitucional; ético, enfim. Não quero fazer aqui juízo de valor e repilo peremptoriamente que atribuam minhas palavras a ilações maldosas, mas preciso, preciso muito saber onde andam os petistas de verdade. Ando lendo matérias e entrevistas de todo tipo de gente, quase sempre coroadas com a cautela em torno do impedimento do presidente. Mas não vou falar disso, vou falar da lealdade petista, essa lealdade que ganhava tamanha apologia no filme do coronel cego e do garoto pronto a aprender as lições da vida adolescente. No filme, garotos secundaristas pregavam uma peça no diretor da escola, uma das mais rígidas e tradicionais da América. Durante a investigação, sob a qual o diretor interrogava meninos assustados e lhes prometia expulsão sumária, surgia a figura da delação premiada. O Sr. Simms, aluno exemplar vivido por Chris O’Donnel que vira colegas seus armando o trote, recebia a promessa de uma bolsa em Harvard, caso apontasse os culpados. Resistiu até o fim, brindando o filme com um final tribunalesco, no qual foi saudado pelos aplausos de todos e por uma trilha retumbante, provavelmente de James Newton Howard.
Não há caras-pintadas nas ruas. Diversas organizações sindicais e estudantis organizaram uma manifestação de apoio ao governo, contra a corrupção – sim, as duas coisas ao mesmo tempo. Garotos pintaram os rostos e carros de som foram alugados. Mas depois de algum tempo, os estudantes sumiram, provavelmente porque a festa não bombou como esperavam. Ficaram algumas centenas de gatos pingados, além de um índio, sim, um índio, de calção e sem camisa, que estava por ali protestando contra os problemas da Funai. Na falta do que fazer juntou-se à manifestação, mas contra ela. Reclamava do presidente e do descumprimento de suas promessas às nações indígenas. Estava lá por não saber o que fazia lá.
Não há raiva nem indignação no peito do povo, isso é mentira. Há o sentimento constrangedor, a constatação dolorosa da burrice coletiva. Hoje o filme da vida do PT é a versão tosca e chinfrim de um Perfume de Mulher. Não há Al Pacino nem Chris O’Donnel, não há um belo tango sendo dançado num salão, não há música de James Newton Howard. Há apenas a lição do coronel de Pacino, cego e amargurado pela vida, ensinando a alguns garotos o valor da lealdade, mais valiosa do que a ordem e a decência de uma escola. Assim fizeram nossos baluartes da ética e da decência. Vão defender os amigos até o fim, negando com gestos, olhares e palavras a responsabilidade por algo que precisa ser punido.
Hollywood nunca me enganou. Na vida real o coronel cego e seus garotos trapaceiros não saem do tribunal sob aplausos, não há música de consagração, não há urros da platéia, de felicidade ou de desgosto. Não há nada. Só um silêncio constrangido nas ruas, um silêncio dos que sabem que não têm o direito de reclamar, como na manhã de segunda seguinte a uma derrota da seleção. Não há nada. Só um coronel cego e seus garotos premiados com a Harvard, mentindo a todos, se humilhando e humilhando a todos nós.
segunda-feira, agosto 15, 2005
Notas de segunda-feira
A guerra pela audiência na tevê Argentina está mais acirrada do que nunca. Vai ao ar hoje a primeira edição do programa de Maradona, “A Noite do 10”, em que o argentino entrevistará Pelé. Não se fala em outra coisa no país de Menem, da Evita e do Calote. O público ironiza, dizendo que o “Rei” estará na “Noite de Deus”, numa referência a Maradona.
O Canal 9, concorrente de “Deus”, a atração também é macaquita. Simplesmente Xuxa - que deve perder seu programa diário nos próximos dias aqui no Brasil. Esses argentinos não esquecem a gente mesmo...
Você sabe que há algo muito errado quando vê na tevê mais vezes a expressão “com várias passagens pela polícia” do que “ex-presidiário” ou “condenado”. Pense nisso.
O personagem de Murilo Rosa - que já foi casado com aquela fofura chamada Vanessa Lóes – em América anda pegando Eliane Giardini. Engraçado, Murilo sempre fez novelas de época. Agora que trabalha numa novela atual, anda pegando uma mulher de época. Essa só podia ser do Amaury.
O Noblat lista, cruel e friamente, o que pode vir por aí em se tratando de Brasil pós-Lula: Sarney, Garotinho, Itamar, Serra, FH, ACM, Severino, Babá...
O robô Opportunity, enviado pela NASA a Marte no ano passado, começa a enviar novas imagens do planeta vermelho. Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity e protagonista de 10 entre dez casos de roubalheira no Brasil, anda tendo que desmentir boatos de que estaria enviando dinheiro ilegal para o planeta. Não adianta, os próximos robôs da NASA devem se chamar SMPB e Dusseldorf.
Ana Paula Padrão estreou no SBT. Eu não vi, mas vi uma imagem há pouco, num site. A cara do SBT, com aquelas listras coloridas e nitidez de imagem meio questionável. Tudo bem, é ela. Até o Lula, que não fala com ninguém, foi à tevê desejar-lhe sorte. Te mete, Fátima!
Recado para Serafim Corrêa, membro involuntário dos “Três Patetas” de Paulo de Carli, vereador braço-direito de uma das famílias mais puras e éticas da cidade, os De Carli: “Sai daí, Sarafa! Sai daí logo, antes que você transforme em grandes vítimas os réus!”.
Collor confessou ter pensado em se matar durante o impeachment de 1992. Disse que caiu porque não gostava de dar tapinhas nas barrigas de deputados alterados pela bebida alcoólica nas festas de Brasília. Pelo jeito não conheceu Dona Jeane Mary Corner.
A partir desta terça-feira voltam ao ritmo normal – aliás, um pouco mais do que isso – os textos dO Malfazejo. Perdoem a ausência dos espaços amigos e acreditem, foi por umas boas causas. Vocês logo entenderão. Voltando à programação normal.
domingo, agosto 14, 2005
Any Given Sunday
Admito, nunca consegui sentir falta do meu pai. Morreu em 1977, quando eu ainda tinha 3 anos, alguns dias antes do nascimento do Renato, meu irmão mais novo. Essa data, o Dia dos Pais, sempre foi algo como o 4 de julho dos americanos, algo que nunca teve qualquer relação comigo. Os domingos dos pais passavam ao largo da casa. Nunca escolhi gravatas, meias ou livros sobre guerras. Nunca fui à taberna comprar cigarros, ou à banca comprar jornal. A figura do pai, essa sim, fez falta. Não a do chefe da família, a do defensor de todos, a do provedor e a da autoridade, mas a figura humana do pai. Talvez por isso me marcassem tanto os abraços dos tios, cheirando a cigarro com suas barbas mal feitas a me arranhar. Como eu gostava daquele cheiro ruim e daqueles arranhões no rosto, quando subitamente alguém mais forte me levantava no colo, enchendo a casa com um timbre grave de voz, esbanjando ares paternais.
Há algumas fotos antigas, sem foco. E há alguma razão científica que prove que as fotos amareladas são as mais fortes. Gravações caseiras tremidas e fotos na praia, com uns óculos Ray-ban e aquelas bermudas xadrez no calçadão de Copacabana são rimas de um poema, cenas de um filme que emociona, não importa quantas vezes eu assista. Hoje essa sensação de “feriado dos outros” volta, e esse saudosismo de coisas que não tive volta. Cheiros falam mais do que fotos ou palavras. O cheiro de cigarro e aquelas vozes bonachonas fazem falta. O que eu queria mesmo, de verdade, era o velho pra me ensinar a cortar a carne do churrasco, pra me presentear com a primeira Playboy, pra me ralhar com o primeiro porre. O que eu queria era poder dizer “não esquece a minha Caloi” e pedir conselhos. O que eu queria mesmo era ver a minha mãe feliz, descansada e apaixonada, até hoje. O que eu queria mesmo era bater a minha garrafinha de cerveja na dele, fazendo um brinde machão, de pernas abertas e sandália de dedo, no quintal quente da nossa casa.
Portanto, desejo o melhor Dia dos Pais aos que ainda podem fazer tudo isso.
E me perdoem o mau jeito.
sexta-feira, agosto 12, 2005
quarta-feira, agosto 10, 2005
terça-feira, agosto 09, 2005
Notas de segunda-feira, na terça
Roberto Jefferson foi vaiado, tomou laranjada na cara e seu carro foi atingido por um ovo. Além disso, ouviu coros de “Ei, Jefferson, vai tomar no c...!” e “Picareta! Picareta!”. Tudo ocorreu em palestra (sim, Bob virou palestrante, percebeu?!) no centro acadêmico 11 de Agosto, da faculdade de direito da USP. Os agressores? Exatamente o pessoal que mais tarde vai bajular e tomar um uisquinho com esse tipo de cliente.
Morreu Ibrahim Ferrer. Ry Cooder foi o responsável pelo milagre que transformou velhinhos cubanos em sensação mundial, inaugurando as carreiras de alguns dos melhores músicos cubanos, na casa dos 70 anos de idade. Deu ao mundo o projeto Buena Vista Social Club, e agora as flores desabrochadas morrem. Compay Segundo já foi. Ibrahim o segue.
Lembra do Rambo, o policial que executou o conferente Mário José Josino na Favela Naval em 1997? Está livre desde março porque cumpriu 1/6 da pena de 15 anos de prisão. Precisa dormir na prisão todas as noites, mas confia na justiça brasileira, e vai pedir pra que sua pena seja passada para o regime aberto.
Genu amava Janene, que amava Corrêa, que amava Waldemar, que amava Lamas, que amava Palmieri, que amava Jefferson, que amava Genuíno , que amava Delúbio, que amava Bob, que amava Mexia, que amava Junqueira, que amava Valério, que amava Renilda, que amava Silvinho, que amava Dirceu, que amava Lula, que amava o Brasil. O Brasil merece.
Ninguém conhece Pelé como “Pelé, O Jogador do Século”. Ou Bento 16 como “Bento 16, O Papa”. Ou Lula como “Lula, O Presidente do Brasil”. Assim sendo, já chega de chamar Marcos Valério de “Marcos Valério, acusado de ser o operador do Mensalão”. Já pegou, pô.
Ah, sim, Marcos Valério estava de olho também na reserva de nióbio localizada no Amazonas, a segunda maior do Brasil. Já negociava com o banco BMG investimentos por aqui. Definitivamente Valério não pertence à raça humana. O Homem chegou aonde outro ser humano jamais chegou. O que torna um tanto injusto acusá-lo de ser ladrão, simplesmente. O cara é um visionário!
Xuxa vai participar do programa de estréia de Maradona na tevê Argentina, cantando e dando entrevista ao vivo. Com esse apresentador e com essa convidada, cantando e falando de duendes e fadas, o programa vai ser uma fofura, não?
O Discovery pousou com sucesso, sem uma derrapadinha, sem espuma na pista, sem qualquer problema. Podem voltar pra casa, bando de hienas. Ou vão me enganar dizendo que não esperavam outro espetáculo de luzes mórbidas no céu?
O Bradesco e o Itaú quebraram novo recorde histórico de lucros semestrais. Seus donos e acionistas, a elite brasileira, devem estar bufando de raiva de Lula.
Me desculpem os músicos e os fãs. Fui ver a nova banda Insight no fim de semana. Ótimos músicos, ótimos cantores, péssimo foco. Está faltando vontade de inventar na música da cidade. Repertório medíocre, pequeno e tedioso, com direito a repetição de petardos como I'll Remember You, do Skid Row. E ainda paguei 7 reais de couvert artístico.
segunda-feira, agosto 08, 2005
Para o garoto do clipe que acabei de ver
Esqueça esses discos, vá por mim. Eles se espatifarão contra a parede, morrerão espalhados pelo chão, e lá ficarão até que o espasmo da raiva passe, quando já não poderão mais ser consertados. Aí você vai perceber, doloridamente, que eles valiam mais do que ela, até porque você não a ama, você ama a história, essa história de risos, amassos e choros, digna desse drama mal escrito de Montechios e Capuletos - sem o principal, a poesia. Esqueça a mesa de vidro, o aparelho de som na estante, esqueça a própria estante. Eles se perderão, e não poderão dizer-lhe do absurdo de serem alvo do mais intenso e fugaz desespero. Eu garanto, daqui a alguns anos você vai lembrar disso com certo desconforto – misturado a algum prazer, é verdade. Como um cinqüentão, que em segredo sente vergonha daquelas letras dos Beatles, você vai lembrar do choro e da sensação de morte que só os bêbados e adolescentes sentem pelas mínimas coisas. Esqueça tudo isso, porque daqui a algum tempo esse ardor será apenas a lembrança saudosa de um filme de terror, que assustava muito há dez anos, mas que hoje só rende risadas amarelas e críticas técnicas. Esqueça tudo isso, porque você vai viver pra rir de si próprio, e isso não é tão gostoso quanto dizem aqueles livrinhos de conselhos óbvios que você anda lendo pra fugir da tristeza. Acredite em mim, você está ridículo, e só vai perceber isso muito tarde. Acredite em mim, esses discos farão falta, essa paixão é biológica, feito ácido lático, que só dói em músculos mal usados. Não resistirá a dois minutos de desdém. Acredite em mim, vocês não envelhecerão juntos, simplesmente porque crescerão. Poupe essas paredes e esse fígado mal amaciado, porque tudo isso passa. E repito, guarde esses discos, por favor. Eles são o que você vai levar desse transe patético. Tudo bem, exceções são permitidas: se houver algum A-ha ou algum Guns, mire bem ali, ó, naquela parede mais dura, na altura da viga de ferro.
quinta-feira, agosto 04, 2005
Concorrência Baré revisited
Reproduzo aqui texto publicado em A Crítica no dia 5 de junho de 2003. Listava sugestões para melhorar o ambiente comercial da cidade e evitar que injustiças sociais sejam cometidas. Eis as sugestões daquela época:
Obrigar o Jokka Loureiro, lá do São Raimundo, a aumentar o preço do jaraqui frito, que, além de ser o melhor da cidade, é um dos mais baratos. É um absurdo que duas ou três grandes peixarias da cidade sejam prejudicadas e corram o risco de precisar demitir funcionários. Tudo por causa dum caboclo espertalhão da beira do Rio Negro cobra apenas cinco reais pelo melhor peixe da praça.
Obrigar os produtores regionais de hortaliças a aumentar seus preços. É um absurdo que também os funcionários dos grandes hipermercados de Manaus corram o risco do desemprego por causa de uns ribeirinhos desonestos que fazem dumping com sua alface e sua banana.
Obrigar as cabeleireiras dos pequenos salões de beleza de Manaus a aumentar o preço do corte de cabelo de R$ 5,00 para R$ 40,00. Afinal, de que viverão as donas dos salões do Vieiralves e do Amazonas Shopping, com a concorrência desleal da periferia?
Obrigar os flanelinhas da periferia a tabelar os preços de seus serviços (extorsão e destruição de propriedade alheia) a R$ 4,00 pela hora de trabalho. Assim estarão protegidos os empregos dos flanelinhas que cobram esse valor em eventos especiais, nos arredores do Vivaldão e dos restaurantes mais caros da cidade.
Obrigar os ambulantes que vendem doces e balas a aumentar seus preços, preservando, assim, os milhares de empregos gerados pelas redes de conveniência dos postos de gasolina, que vendem cervejas e refrigerantes a preços 60% maiores que os desleais das ruas.
Obrigar os vendedores de açaí, buriti e bacaba, que vendem seus vinhos em carrinhos de mão a absurdos R$ 2,00. Onde já se viu um lucro de apenas 50%?! E as famílias dos fabricantes de refrigerantes?!
Obrigar os lojistas da Marechal Deodoro a cobrar R$ 200,00 por uma calça jeans, R$ 80,00 por uma camiseta e R$ 600,00 por um par de óculos de sol. É angustiante pensar que as lojistas dos grandes shoppings têm custos altíssimos com aluguel, propaganda e mensalidades de franquia. Por que permitir que malandros do centro da cidade cobrem R$ 20,00 por uma calça, ganhando apenas 30% de lucro, enquanto as dondocas amargam lucros de 300% sozinhas?
Obrigar todos os botecos da cidade a cobrar R$ 3,30 por uma tulipa de chope de 300ml. Dessa forma as cervejarias da moda e os restaurantes finos serão poupados da concorrência injusta do Ceará, lá no João Bosco, que cobra R$ 2,50 por uma cerveja gelada feito bunda de pingüim.
Obrigar todos os motoristas de Manaus a candidatar-se a cargos públicos ou a fazer concurso para juiz. Assim todo mundo passa a receber auxílio-combustível, deixa de pagar pela gasolina que consome e fica em seu gabinete apenas se preocupando com causas sociais. Assim, pagar pela gasolina vai passar a ser, para todo mundo, problema dos outros.
quarta-feira, agosto 03, 2005
Caçando as bruxas
Certa vez um juiz de direito aqui de Manaus obrigou que alguns postos de gasolina aumentassem seus preços, dando razão ao pedido do cart... sindicato dos donos de postos da cidade, que alegava concorrência desleal. Como alguns postos teimavam em não seguir os preços combinados pelo cart... sindicato, foram à justiça, que obrigou os postos teimosos a aumentar seus preços. Fiz, inclusive, um texto no qual enumerava outras áreas da nossa economia que poderiam sofrer o mesmo tipo de ação. Pois agora a Drogaria Pague Menos é obrigada a aumentar seus preços, dando menos desconto aos clientes. A Drogaria Pague Menos passará a chamar-se Pague Um Pouquinho Mais. Impressionante como a lei da concorrência não funciona em Manaus.
segunda-feira, agosto 01, 2005
Notas de segunda-feira
O poodle toy Twingo perdeu na justiça uma ação em que os moradores do Edifício Palládio, no Rio, o querem despejado. Segundo os vizinhos, Twingo late, chora, suja o prédio e incomoda muita gente. Que seja esse um precendente para outras ações de despejo pelo país. Incluam aí também a raça Pincher, por favor.
Manchete do jornal britânico Financial Times: “No Brasil, políticos admitem uso de dinheiro ilegal”. Está ocorrendo, provavelmente, uma reunião de ministério no Palácio do Planalto, na qual se discute a expulsão dos repórteres ingleses do território nacional.
Uma das retumbantes provas de que a governabilidade está intacta no país, que as instituições republicanas estão blindadas e que a democracia brasileira é de uma maturidade exemplar é matéria da revista Caras, com manchetona no UOL: “Caroline Bittencourt leva filha para conhecer avestruzes”.
O clipe da canção "Dirrty", de Christina Aguilera, foi eleito o mais sensual já feito, segundo uma votação realizada pelo canal de TV FHM Music, ligado à revista masculina britânica "FHM". Aguarda-se para breve uma, uminha só, música que preste, pra variar. Claro, com as mesmas tanginhas. Não vejo nenhum problema nelas.
É gostoso estar certo. Minha antipatia – antes solitária – por Robinho anda se alastrando até entre torcedores santistas. Depois que o pedala-pedala-mas-não-faz-nada deu piti e bateu pé pra não jogar mais pelo Santos do seu admirador Pelé, a torcida do Peixe, que antes implorava “Fica Robinho!” agora já exibe adesivos nos carros com os dizeres malfazejos “Vaza, Robinho!”.
Tiririca está no programa do Tom Cavalcante. E a Hellen está vendo.
Já Rubinho vai para a BAR. Deixará vaga para Felipe Mafa-Mafinha. Seu desempenho vinha agradando a Ferrari, é verdade – sempre em sétimo, décimo primeiro, dentro dos planos de Jean Todd. O problema era a cara de choro. A escuderia italiana fez intenso processo seletivo, com dinâmicas de grupo e avaliação psicológica, e concluiu que Mafa-Mafinha é o mais indicado, pois é passivo, não tem grandes ambições nem se irrita com ultrapassagens de colegas.
O presidente Lula pediu que ligassem para a presidente do Sindicato dos Taxistas de Brasília, informando que ele, em pessoa, participaria de reunião com 200 taxistas da capital brasileira. A presidente do sindicato se disse surpresa com a notícia. Como brinde ainda ganharam – os taxistas – um discurso em nome da “do direito das pessoas, sabe, de viver com dignidade e decência nesse país”. Que presentão.
Roberto Pompeu de Toledo disse na Veja desta semana exatamente o que eu penso. Com o depoimento de Renilda à CPI, a famiglia deu um banho no Estado. É assim que funciona “esse país”.
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