quinta-feira, agosto 04, 2005

Concorrência Baré revisited


Reproduzo aqui texto publicado em A Crítica no dia 5 de junho de 2003. Listava sugestões para melhorar o ambiente comercial da cidade e evitar que injustiças sociais sejam cometidas. Eis as sugestões daquela época:

Obrigar o Jokka Loureiro, lá do São Raimundo, a aumentar o preço do jaraqui frito, que, além de ser o melhor da cidade, é um dos mais baratos. É um absurdo que duas ou três grandes peixarias da cidade sejam prejudicadas e corram o risco de precisar demitir funcionários. Tudo por causa dum caboclo espertalhão da beira do Rio Negro cobra apenas cinco reais pelo melhor peixe da praça.

Obrigar os produtores regionais de hortaliças a aumentar seus preços. É um absurdo que também os funcionários dos grandes hipermercados de Manaus corram o risco do desemprego por causa de uns ribeirinhos desonestos que fazem dumping com sua alface e sua banana.

Obrigar as cabeleireiras dos pequenos salões de beleza de Manaus a aumentar o preço do corte de cabelo de R$ 5,00 para R$ 40,00. Afinal, de que viverão as donas dos salões do Vieiralves e do Amazonas Shopping, com a concorrência desleal da periferia?

Obrigar os flanelinhas da periferia a tabelar os preços de seus serviços (extorsão e destruição de propriedade alheia) a R$ 4,00 pela hora de trabalho. Assim estarão protegidos os empregos dos flanelinhas que cobram esse valor em eventos especiais, nos arredores do Vivaldão e dos restaurantes mais caros da cidade.

Obrigar os ambulantes que vendem doces e balas a aumentar seus preços, preservando, assim, os milhares de empregos gerados pelas redes de conveniência dos postos de gasolina, que vendem cervejas e refrigerantes a preços 60% maiores que os desleais das ruas.

Obrigar os vendedores de açaí, buriti e bacaba, que vendem seus vinhos em carrinhos de mão a absurdos R$ 2,00. Onde já se viu um lucro de apenas 50%?! E as famílias dos fabricantes de refrigerantes?!

Obrigar os lojistas da Marechal Deodoro a cobrar R$ 200,00 por uma calça jeans, R$ 80,00 por uma camiseta e R$ 600,00 por um par de óculos de sol. É angustiante pensar que as lojistas dos grandes shoppings têm custos altíssimos com aluguel, propaganda e mensalidades de franquia. Por que permitir que malandros do centro da cidade cobrem R$ 20,00 por uma calça, ganhando apenas 30% de lucro, enquanto as dondocas amargam lucros de 300% sozinhas?

Obrigar todos os botecos da cidade a cobrar R$ 3,30 por uma tulipa de chope de 300ml. Dessa forma as cervejarias da moda e os restaurantes finos serão poupados da concorrência injusta do Ceará, lá no João Bosco, que cobra R$ 2,50 por uma cerveja gelada feito bunda de pingüim.

Obrigar todos os motoristas de Manaus a candidatar-se a cargos públicos ou a fazer concurso para juiz. Assim todo mundo passa a receber auxílio-combustível, deixa de pagar pela gasolina que consome e fica em seu gabinete apenas se preocupando com causas sociais. Assim, pagar pela gasolina vai passar a ser, para todo mundo, problema dos outros.