domingo, agosto 14, 2005

Any Given Sunday


Admito, nunca consegui sentir falta do meu pai. Morreu em 1977, quando eu ainda tinha 3 anos, alguns dias antes do nascimento do Renato, meu irmão mais novo. Essa data, o Dia dos Pais, sempre foi algo como o 4 de julho dos americanos, algo que nunca teve qualquer relação comigo. Os domingos dos pais passavam ao largo da casa. Nunca escolhi gravatas, meias ou livros sobre guerras. Nunca fui à taberna comprar cigarros, ou à banca comprar jornal. A figura do pai, essa sim, fez falta. Não a do chefe da família, a do defensor de todos, a do provedor e a da autoridade, mas a figura humana do pai. Talvez por isso me marcassem tanto os abraços dos tios, cheirando a cigarro com suas barbas mal feitas a me arranhar. Como eu gostava daquele cheiro ruim e daqueles arranhões no rosto, quando subitamente alguém mais forte me levantava no colo, enchendo a casa com um timbre grave de voz, esbanjando ares paternais.

Há algumas fotos antigas, sem foco. E há alguma razão científica que prove que as fotos amareladas são as mais fortes. Gravações caseiras tremidas e fotos na praia, com uns óculos Ray-ban e aquelas bermudas xadrez no calçadão de Copacabana são rimas de um poema, cenas de um filme que emociona, não importa quantas vezes eu assista. Hoje essa sensação de “feriado dos outros” volta, e esse saudosismo de coisas que não tive volta. Cheiros falam mais do que fotos ou palavras. O cheiro de cigarro e aquelas vozes bonachonas fazem falta. O que eu queria mesmo, de verdade, era o velho pra me ensinar a cortar a carne do churrasco, pra me presentear com a primeira Playboy, pra me ralhar com o primeiro porre. O que eu queria era poder dizer “não esquece a minha Caloi” e pedir conselhos. O que eu queria mesmo era ver a minha mãe feliz, descansada e apaixonada, até hoje. O que eu queria mesmo era bater a minha garrafinha de cerveja na dele, fazendo um brinde machão, de pernas abertas e sandália de dedo, no quintal quente da nossa casa.

Portanto, desejo o melhor Dia dos Pais aos que ainda podem fazer tudo isso.

E me perdoem o mau jeito.