Você era roqueira, eu engravatado. Sabíamos, porém, que você era o Norte, eu a dúvida. Sofríamos dores de amores quebrados, varávamos noites falando dos outros, como um casal de seres assexuados, cegos e surdos, devotados apenas às amarguras passadas...
Mas não éramos assexuados. Te ensinei a beber, te mostrei meus discos dos Cramberries e te apresentei meu lado vagabundo, que ainda contradiz, até hoje, minha fantasia engravatada. Adorávamos nos enganar. Aquelas fitas velhas eram a sombra do que você já não era mais. Pra me conquistar, você as ressucitou do seu acervo de truques de sedução. Fui fácil. Sempre sou fácil.
Hoje estamos aqui, à beira da estrada, a dois passos do Paraíso. Depois de todo esse tempo, nossa caipirinha primeira ainda não secou. Nossas conversas mudaram, nossos cabelos mudaram, nosso peso mudou. Mudaram as estações, mudaram as paisagens. A poda das plantas será por outras razões, o cuidado com tudo será diferente.
Hoje tudo está diferente. O frio na barriga é constante, e um misto de gozo e tensão encharca meu pensamento. Hoje, mais do que nunca antes, tudo mudou. A grama está mais verde, a chuva passou e o vento esfriou. As cores estão mais vivas, a vida ficou mais colorida.
Minha porção vagabunda vai crescer, a tua porção marota vai amadurecer.
Ainda não sei o que esperar. Mas sei que vai ser muito bom.
Obrigado pelos seis anos de felicidade, Hellen.
Obrigado por me deixar sem palavras.
Me dê um garoto, pra eu ensinar e aprender a ser homem.
Me dê uma menina, pra eu mimar, pra eu proteger, pra eu admirar.
Eu te amo.