Dona Janete, a diarista que nos visita duas vezes por semana, não me entende. Na verdade Dona Janete não entende muita coisa – até hoje me chama de Seu Isaque, mesmo que eu já tenha explicado, quase de bíblia na mão, a diferença entre os dois. Mas o que Dona Janete menos entende é minha fixação por CPIs, por depoimentos em CPIs.
Ontem Nosso Delúbio voltou à CPI dos Bingos, e até falou menos fofo, estava mais desenvolto, mais à vontade diante dos deputados e senadores.
Eu já disse aqui, gosto das CPIs. Só nelas a gente pode brincar de país, de quem pisca primeiro, lembrar da infância, quando a gente brigava na escola. É só prestar atenção. Qual a diferença entre frases como “Olha o Tiago aqui, tiiiiaaa!” e “Foi o Silvinho quem disse isso, não eu!”? Qual a diferença entre perguntas como “Onde tá o lápis que eu deixei aqui, Carlinha?!” e “O senhor era amigo do Marcos Valério?”? Me diga, leitor, qual a diferença entre a “repreensão pública” que Ângela Guadagnin recebeu de Aldo Rebelo e ter que escrever 50 vezes na lousa “Nunca mais vou chamar o Marquinho de mariquinha”? Me diga a diferença entre a carranca da Zulaiê Cobra e a pior fessôra que você já teve!
Dona Ângela foi condenada a devolver R$ 10 milhões à cidade de São José dos Campos, da qual foi prefeita. Dona Ângela é Flórida, igualzinha à Paulinha da minha infância, a 1ª “B”. Paulinha era criança, mas já era mau caráter. Adorava o Tiaguinho, malandrinha que era, porque Tiaguinho vivia roubando a borracha dos colegas e nunca era castigado, Quem levava a culpa, quase sempre, era o Marquinho, coitado.
Êta gostinho saudoso da infância, quando a gente não tinha nenhuma preocupação, afinal, a gente não precisava pagar por nada daquilo. É isso que estou vendo agora: Delubinho acusando Silvinho, protegendo Luisinho. A Tia Zulaiê tenta pôr medo, mas não adianta. Delubinho tá quase rindo, sabe que vai escapar e, ainda por cima, vai ganhar uma dancinha da impunidade da Paulinha.
E é sempre essa turma que se dá bem quando cresce.
O Estado do Amazonas, 24 de maio de 2006