terça-feira, maio 23, 2006

"Essa elite branca má e egoísta"


O Amarar, de quem já falei antes, é de uma elegância atroz, mesmo quando força a barra e tenta partir pro escracho pedante dos Wunderblogs. Dia desses, meses depois de postar pela última vez (tietando o São Paulo em Tóquio), escreveu esse primor de bom gosto na forma e de gosto duvidoso na essência:

"O PCC ataca lá fora. Aqui dentro, aquecido, me regozijo com um banho quente. Ouço alto Deep Forest tocando Sweet Lullaby. Também ouço, mais baixo, um estalo reprimido do gelo no meu copo de uísque. Resolvo acender um charuto. Já faz tempo que não fazia isso, fumar essa dádiva socialista. Da janela do meu escritório a luz amarelada de um abat-jour art déco, cuidadosamente escolhido e disposto, ilumina charmosamente minha pequena biblioteca. Agora a algazarra da tarde já acabou. Faz silêncio lá fora. Todos os habitantes de Higienópolis já se recolheram e trancaram-se em seus prédios de pé-direito alto e janela escancarada, como se a Gestapo estivesse dando batidas lá embaixo. Da minha janela do escritório, sozinho e cercado de todos os mimos, comporto-me tipicamente como aquilo que se convencionou chamar pejorativamente de 'elite'. Não sinto qualquer remorso. A não ser não ter provisionado mais gelo."

O blog do Amarar, um dos meus preferidos (pena que ele não tenha mais tempo pra escrever) tem uma montagem, deixa eu soar paulistano, "super-bacana" de fotos, com o autor sentado, claro, elegantemente, sobre o MASP, o Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista.

Hoje, por falar nisso, o MASP ficou às escuras. Sim, o MASP, museu símbolo do apego paulistano à cultura, estava há só 7 anos sem pagar a conta de luz. A dívida? Algo em torno de R$ 3 milhões. Sugiro uma exposição de Rembrandt ou Caravaggio, um algum outro pintor de gostos e tons mais sombrios. Vai dar um toque a mais no ambiente.

E dia desses houve uma Virada Cultural paulistana, uma iniciativa do povo contra a violência dos últimos dias. Os museus do estado, salientam os organizadores, tiveram o dobro de sua lotação habitual. É uma pena que ninguém, nenhum Amarar dê, há anos, sequer um centavo pra manter o museu.

Quem diria, Cláudio Lembo, o 'trotskista de direita', cutucou o formigueiro. E pena, nenhuma formiguinha se insurgiu contra o ataque. Por que, nunca saberemos...

Quer saber, sou mais o viradinho à paulisssta - ou como maliciosamente me sugeriu o Google, "você quis dizer: 'viadinho paulista'".