sexta-feira, maio 13, 2005

Eu me abstenho


O extremo do partidarismo (vamos chamar assim) de Danilo Amaral está na faixa em que o bom senso e a elegância máxima ainda prevalecem, e fica extremamente difícil discordar, ainda que se discorde, de seu habilíssimo texto sobre os Wunderblogs. Seu discurso soa, aos ouvidos dos gritalhões, Direita pura, mas isso é um reducionismo injusto. Ademais, como eu já disse, não enxergo Direita e Esquerda no Brasil. Como em quase todos os outros aspectos da inteligentsia brasileira, não passamos de um protótipo de nação, cuja construção foi abortada por falta de verba e de vontade política – com o perdão do jargão esquerdista.

Mas Danilo, e isso não é culpa dele, divide demais o obscurantismo que imperava até os Wunder e aquilo no que o mundo se tornou depois que esses craques da escrita decidiram agir, ainda que com o discurso (sofisticado ou frívolo?) da total inércia orgulhosa. Se é jeca gritar frases empoeiradas nas portas das fábricas contra o que seria “isso tudo que está aí”, é também de extremo mau gosto orgulhar-se por um conservadorismo que, num país tão caolho, patife e imoral como esse, não passa de piada sem graça. Ser conservador no Brasil é assinar um atestado de canalhice. Ridicularizar a insatisfação alheia (vamos simplificar assim) é tão sofisticado e tão profundo quanto zoar de quem – veja só – não sabe se vestir adequadamente no inverno londrino. Se essa moçada divertida e interessante (justiça seja feita, é verdade) de que Danilo fala tem um defeito, é exatamente empunhar uma bandeira ideológica que nivela por baixo, junto à esquerda, o que é o pensar político. Rebater a idiotice comunista (a gritaria contra a liberdade, a propriedade privada e o lucro) com a idiotice paulofrancista (escrever artigos sobre “a honestidade do uísque” servido dos lobbies dos hotéis europeus) é um desperdício enorme, um chute pra fora debaixo das traves do adversário.

Querem os Wunder, o Danilo e boa parte da classe média brasileira, dizer apenas que está tudo ótimo, que sua biblioteca anda imponente, que seu vinho está com um buquê fantástico e que o dólar está quase dizendo “se dê esse presente, vá a New York visitar seus amigos!”. Essa direita brasileira (vamos chamá-la assim) não renasceu com a sofisticação e o toque de “dane-se” dos Wunderblogs. Esses rapazes e moças, que engatinhavam quando Figueiredo ainda cavalgava, apenas tiveram a mesma idéia – e as mesmas oportunidades tecnológicas – que todos nós, maiores ou menores ‘escritores’, tivemos, o que, em resumo, é tentar aparecer. Vaidade, nada mais. Os ‘haves’ brasileiros, provocados pelo português trôpego de um governo esquerdista que dá motivo a todo momento, não resistiram. Quando, enfim, a tal esquerda dos ‘not haves’ assumiu, com sua ignorância, essa Direita pensante, com suas armas de precisão, limitou-se a se posicionar em cantinhos estratégicos e curtir uma de franco-atiradores. Olha, passou uma gafe ali, pega, pega! Esta, a proposta da Direita pensante brasileira. Seinfeldizar a vida, reduzir tudo aO Nada, mas um Nada sofisticado, não um Nada qualquer, jeca e suado.

No final das contas, como diria Rita Lee (cujas posições políticas desconheço), tudo vira bosta. A Direita pensante, esses rapazes e moças tão sofisticados quanto fúteis, ri de quem não sabe diferenciar um Merlot de um Chardonay, enquanto a Esquerda gritalhona repete-se latinoamericanamente. Se já era escassa a paciência dos “sem lado” com a chatice e a burrice da esquerda, agora tudo ficou pior. A trincheira que se levantou do outro lado é careta, preconceituosa, botocuda e arrogante. Ou seja, meus amigos do meio: ponham seus capacetes e defendam-se; de um lado chovem balas de AK-47 e volumes nunca lidos dO Capital, do outro latinhas de caviar e sapatinhos Jimmy Choos.

Quem diria, era Rita Lee quem tinha razão, afinal.