terça-feira, novembro 30, 2004

O Malfazejo recomenda



A revista Veja a chamou de Billie Holiday do pop inglês com razão. A tristeza de sua voz é cortante, frágil, como a de quem luta contra um choro que vai sair em instantes. Era a vocalista do Portishead, banda inglesa dos anos 90 que fazia músicas tristes com arranjos eletrônicos meio feios. Já em carreira solo, aliada ao instrumentista Paul Webb, fez aquele que provavelmente foi o álbum mais triste do ano, Out of Season. 'Mysteries', o cartão de visitas, é lindíssima, com sua simplicidade de violão-e-voz fora dos moldes nacionais. Provoca reações, ou a falta delas, dignas de uma cena do Holocausto no meio de um pastelão italiano. Mas é 'Show', a terceira faixa, que transforma um dia de Disney em um inverno Norueguês. Recomendo essa música, a junção cruel dessa voz com um piano e um violoncelo satisfeitos como coadjuvantes, às pessoas que não prestam e têm armas de fogo em casa. Não tive a oportunidade de incluí-la numa brincadeira que fazia com o Christoph, na qual disputávamos a posse da música mais triste. Nossas bebedeiras sempre acabavam num silêncio de dar dó, depois de umas três rodadas de Nicks Caves, Leonards Cohens e Billies Holidays. Esse disco, Out of Season, desempataria qualquer concurso bobo assim. Até porque o Christoph, austríaco, pisou na bola ao incluir Yolanda, do Chico, no time dele. Gosto tanto dessa música que canto, no refrão, 'Yolanda, eternamente te odeio'.

Beth Gibbons é o que de mais triste eu conheço. E isso, em música, é qualidade garantida.

domingo, novembro 28, 2004

Para um amigo

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você

Oswaldo Montenegro

quarta-feira, novembro 24, 2004

O bom filho à casa volta

A foto é de A Crítica

Prostrado diante do sapientíssimo Google, pergunto sobre Gilberto Miranda, um dos maiores expoentes da política paulista, digo, amazonense, com três mandatos de senador. Coisa pra poucos. O sábio traz a folha corrida, digo, o histórico parlamentar do nosso suplente profissional. Lá encontro alguém sempre rodeado de personas ilibadas, de nobre caráter, como Paulo Maluf e Fernando Collor, Celso Pitta e ACM, o especulador Naji Nahas, o pastor evangélico Caio Fábio e Carlos Alberto de Carli, além do medalhão PC Farias e o brother Egberto Batista, que dispensa apresentações. Com Malufão, Collor, Nahas e Caio Fábio é suspeito de produzir o dossiê Cayman e o grampo clandestino do BNDES. Com ACM e Pitta protagonizou troca de favores, pelos pagamentos da prefeitura de SP à OAS, do painho, e a absolvição do marido da Nicéa na CPI dos precatórios. Abrigou, em uma de suas casas, em Ilhabela, PC Farias, que fugia da Polícia Federal, antes do tesoureiro do presidente fugir pro exterior. O currículo do nosso senador é bem mais colorido e estufado, mas não vou enlargecer demais o post. Conforta-me ver que até nisso o Google é amigo. Traz como resposta à mesma pergunta uma matéria sobre Gilberto Miranda, adestrador de estrelas, seguida de pequena, rara e franca entrevista. O site é o fofo PetSite, e a entrevista é bombástica. A seguir alguns trechos:

"Gilberto Miranda é um dos profissionais mais solicitados para treinar animais em campanhas publicitárias."

"Em sua propriedade na Granja Viana, em São Paulo, ele mantém 80 animais, entre estrelas reconhecidas ou futuros astros"

"Meu trabalho é muito satisfatório, muito gostoso. Lidar com animais é muito gostoso. Trabalho com caninos, felinos, aves, roedores..."

Bem-vindo, jamais votado nobre Adestrador de Animais, digo, Senador da República.

terça-feira, novembro 23, 2004

Junk food de responsa


Ferran Adrià, O Cara, sobre quem falo logo-logo, criou o Fast Good.

O maior chef do mundo agora vende xis-saladas.

Os franceses, com seu foie gras, ainda não entenderam o que os atingiu.

Mais de quem é O Cara aqui, comentado por Helena Rizzo, e aqui.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Brasil, um país de todos


É um sucesso a primeira lanchonete Hooters no Brasil. A rede americana, que tem 300 filiais espalhadas pelo mundo, enfim conseguiu, a duras penas, aterrissar no Bananão. Recebeu 1 milhão e 300 mil reais do BNDES. Mas antes que você reclame que não consegue nem aquele microcrédito para comprar sua máquina de costura, façamos justiça e divulguemos: a Hooters contratou 30 garçonetes e ajudou a melhorar os números do desemprego paulista, digo, brasileiro. Mais detalhes sobre esse caso de orgulho nacional, vá lá na matéria da IstoÉ Dinheiro. A dica é do Fábio Danesi, que também cita o sempre, sempre oportuno Millôr:

"Dinheiro público é dinheiro que o governo tira dos que não podem escapar e dá aos que escapam sempre".

A vida imita o adágio


O caçador de veados Chai Vang teve uma caçada dominical cheia.

Matou 5 caçadores.

A história está aqui.

sábado, novembro 20, 2004

Saturday Night Notes

  • Há um funcionário do UOL dedicado exclusivamente a medir o tamanho diário do congestionamento paulistano. Quase um serviço de cotação on-line do dólar ou uma moça do tempo. Algo como se um portal carioca avisasse o resto do país, diariamente, sobre as reviravoltas que o samba-enredo da Mangueira dá ao longo do processo de criação. Ou seja, e daí?


  • Alguém que come um ovo, assim, socialmente, à luz do dia, é um insensível. Não só extirpa a vida que brota dentro daquela frágil casquinha como ainda usa requintes de crueldade, mergulhando a criança em água quente ou a chapeando numa frigideira, pra depois, céus!, comer aquele indefeso feto. Será que um dia poderemos discutir livremente sobre quando um ovo deixa de ser ovo e passa a ser pinto, ou seja, vida? Cadê os valores morais desse mundo?!


  • "Todo estudante universitário deveria ser obrigado a fazer um 'exame da ordem', fosse qual fosse o seu curso. Por que só os bacharéis em Direito têm esse dever?" Era o que eu pensava, antes de pensar melhor. Mas vi um cenário desolador se isso virasse moda. A julgar pelos índices de reprovação da OAB, seríamos, brevemente, ainda mais desdentados, ainda mais doentes e ainda mais ignorantes.


  • Os suecos não precisam de horário de verão. Lá você só é enganado pelo outros, não por si próprio. Também porque dado o tamanho deles, os fusos seriam divididos por bairros, não por estados - impraticável. E também porque eles não doam energia a paises vizinhos enquanto correm risco de sofrer apagões.


  • Um cinegrafista embedded (aqueles que vão na garupa dos tanques de guerra) acidentalmente filmou um marine executando um iraquiano ferido e desarmado. Escândalo! O episódio resultou em reuniões tensas na Casa Branca e no Pentágono. Decisão unânime, registrada nas atas: a presença de jornalistas no front será revista, pois está prejudicando os esforços cristãos pela libertação da demoníaca Faluja.


  • Estou preso em casa, sem dinheiro pra pedir sequer uma pizza. Quase uma prisão domiciliar, como a do Nicolau. A diferença é que ele tem dinheiro pra pedir a pizza.

  • Jesus W. Christ faz o alerta: O Irã e a Coréia do Norte estão preparando suas bombas nucleares. Ao que me recorde, nunca se usou - com uma irônica exceção - armas nucleares contra um inimigo antes, na história do mundo.


  • Falando nisso: eu vou para o Oriente Médio - ou pro Chile, quem sabe - vender bandeiras americanas. Vou ganhar muito dinheiro. Já pensei até numa promoção microsoftiana: o isqueiro sai de graça, meu patrão.
É quase meia-noite. Relevem, por favor.

sexta-feira, novembro 19, 2004

A popularidade segundo Josias

Josias tinha dessas. Moleque, às vezes coração mole, mexia com a vida das pessoas, curando cegos e coxos quando não tinha trocado. Querido pelo bairro, deu um beijo na mãe e saiu, ainda penteando a longa cabeleira com os dedos. Chegou à casa do velho amigo Luiz pra comer o tradicional pão asmo de sábado e encontrou uma pequena multidão à porta da humilde casa, incrédula, chorando pela morte do boa-praça da rua. Luiz tivera um tilt de noite, enquanto dormia. O povo chorava, e Josias chorou, apegado que era ao finado.

Mas revoltado com os caprichos do velho, decidiu agir, e colocou as mãos sobre a fronte do amigo morto. Depois de trazer Luiz de volta à vida, saiu da casa, e os vizinhos e amigos não acreditavam naquele prodígio. Andar sobre a água não causara tamanho furor, meses antes, pois se sabia da capacidade de Josias de inovar. Além disso, o preço da passagem de barco andava pela hora da morte. A alegria voltara ao bairro, e Josias, vaidoso, regozijava-se, sorrindo discretamente.


Aí, Cezar, amigo interesseiro de Josias, mais tarde, no boteco do Filisteu, perguntou: você não acha que passou dos limites dessa vez? O que o Luiz te fez para merecer morrer duas vezes? O Filisteu, dono do boteco, maranhense que ficara rico vendendo vinho feito de água batizada às custas de Josias, desesperou-se em silêncio. Uns pigarros constrangidos ecoaram no silêncio da pergunta, e Josias sentiu falta da época em que discutia com os sábios da Igreja, velhos esnobes, apegados apenas a rezas decoradas e roupas solenes.

Mais gente chegava em euforia, e os pães ficaram poucos. Luiz, ainda tonto, mal acostumado pelo amigo camarada, procurava Josias para ajudá-lo com aquele pequeno problema alimentar. Josias nada mais poderia fazer. Tinha ido pra casa, chorando discretamente.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Oops, I did it again!

Joseph Bartucci, de 28 anos, passou os últimos dez* anos sem ter a menor noção de quem era o astro de Billie Jean e Thriller. Agora, ao ver os restos do que um dia foi Michael Jackson na tevê, subitamente lembrou de seu terrível drama. Alega que em 1984, aos 18, foi forçado pelos seguranças do astro, com armas apontadas para sua cabeça, a lambuzar-se nos desejos doentios de Jacko. Como todas as outras angelicais e indefesas criancinhas que frequentaram a Terra do Nunca Fiz Isso, Bartucci não quer Michael preso. O que ele quer? Dou um pirulito - ôpa! - pra quem adivinhar. Sim, Uma indenização em dinheiro, ainda não informada, por danos psicológicos e pelo infindável sofrimento causado pelo episódio.

Os irmãos de Michael, sabendo de sua propensão a comer criancinhas feito um comunista das antigas, deviam parar de ir à tevê defendê-lo e fazer algo mais eficaz: ficar à porta de NeverLand, dispersando, com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, a aglomeração de pais e mães que insistem em empurrar seus fedelhos, com suas lancheirinhas do Peter Pan, para dentro da propriedade da fera, na esperança de que a criança saia dali com os shortinhos sujos e uma expressão de horror no rostinho.

Agora uma pergunta de um ignorante: Como alguém fica traumatizado, com sequelas psicológicas, por algo que não se lembra que ocorreu?

Em agosto esse blog já falou nesse assunto.

* Com a ajuda do Jan, percebi um erro no texto. Onde lê-se 10 anos, troque-se por 20, ok? Obrigado, Jan, só agora percebi o deslize. Aproveitando: a fonte foi a France Presse.

segunda-feira, novembro 15, 2004

É com grande pesar...

Um dos homens mais sortudos da recente história nacional, João Alves, anão do orçamento, ganhador de 221 prêmios de loteria, mór-reu. Tinha câncer de pulmão e estava internado numa UTI há duas semanas. Como se vê, não era tão sortudo assim. Confesso-me um tanto confortado, eu que assisti ótimas pessoas morrerem assim esse ano, sobre o que eu já falei antes. Nada nobre, admito. Paciência.

O bom é que agora o nosso combalido e desvalorizado Amazonas sobe no ranking. Nosso ilustre Francisco Garcia, com seus pífios 43 prêmios, entra na briga pela sucessão, como atesta a Folha. Nossa gente tem valor mesmo, um dia o Brasil reconhece, ah, se reconhece.

E que chorem os ímpios.

Só pra equilibrar um pouco a balança.

sexta-feira, novembro 12, 2004

O Senhor é o meu pastor, não o dele!

Exercício pessoal de honestidade e liberdade de expressão.

A tolerância religiosa me impõe a mentira, a falsidade de dizer levar a sério religiões. Cheias de rituais medonhos como orações em jejum, com testas viradas para Meca, da proibição do álcool combinada ao cultivo do ópio; Com procissões e sírios em homenagem a santos e santas, como fiéis que chicoteiam a si próprios por Alá. Dói ver o planeta depender de gente que mata pelo que acredita. Dói imaginar gente se explodindo, explodindo desconhecidos, pela promessa de um paraíso com 72 virgens, assim como dói saber que há santos, entidades divinas, que se ocupam em proteger os endividados e taxistas.

Fosse eu honesto, admitiria que nada há de sagrado em roupas e cruzes, em lágrimas e batinas, em turbantes, em templos, mesquitas e sinagogas, em dízimos ou em rifas, em quermesses pelo telhado da igreja, em jejuns e terços, em promessas e velas, no mês de fome do Ramadã, em bíblias cristãs com 37 versões ou em torás judias com 613 mandamentos. No fim tudo é ritual, e só. Se Deus valesse mais do que isso, não seríamos um planeta refém de gente que se mata por causa de um pedaço de terra, sagrado (!), menor que o Sergipe, onde teria Jesus apanhado até morrer, onde teria Davi vivido e onde teria Maomé virado purpurina.

Acho injusto não poder falar de coisas que, independente do que faço, digo ou quero, mudam a minha vida, quase sempre pra pior. Se hoje pago mais caro pela gasolina que uso, é por causa de religião. Se hoje sou revistado por tentar tirar fotos em Washington como turista, é por causa de religião. Se hoje as bolsas caem, os prédios ruem e os restaurantes explodem, é por causa de religião. Jerusalém é a Terra Santa para as três maiores religiões monoteístas do planeta. Para as três, Deus, seja o nome que Ele tenha, é acima de tudo Amor, e por esse Amor as três assassinam inocentes.

A manter-se o quadro mundial atual, piorado com a morte de Arafat, herói da paz e terrorista ao mesmo tempo, estaremos no mais tecnológico, avançado e livre dos mundos. Mundo ironicamente refém de Beatos-Salús, Jims Jones e Reverendos Moons, ratos de igreja, religiosos fariseus, hipócritas, que para ficar com sua terra sagrada são capazes de coisas nada sagradas. Continuações não costumam superar o filme original, como se sabe. A prova é que religiosos e líderes responsáveis pelo fim nuclear do mundo se confundem nas mesmas pessoas, com suas orações à mesa, com suas velinhas de oito dias, com suas bananas de dinamite e seus tanques M-1. Você gostaria de Henri Sobel, Bispo Macedo e a CNBB como donos de nossas vidas?

Resta a mim continuar a minha prece diária: Senhor, protegei-me dos teus seguidores!

quinta-feira, novembro 11, 2004

Bem-vindos ao casamento


Não importa quão linda, loura e rica é sua esposa. Se já é sua esposa, é assim que você faz perante um topless marital. Um livrinho na mão, a outra mão apoiando a cabeça, a esposa meio entediada... E isso porque os dois se casaram dia desses, hein...

Numa coisa os petistas têm razão: essa tucanada é um bando de chatos mesmo.

Beto, eu não te pedi, mas obrigado pela foto.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Spell Checking

This is Taiti

This is Haiti


Se hoje você ganhar a Megasena, meu amigo considerado, tenha muito, mas muito cuidado com a diferença que uma solitária letra faz. Na agência de viagens soletre, vagarosa e pausadamente, pra onde você quer ir.

terça-feira, novembro 09, 2004

Ben-di-ta Ge-ni!

Me agrada pensar no amazonense como um boa-gente. Que se permita, assim, que nos chamem de passivos, dóceis e mansos, whatever. O estado do Amazonas, histórica e contemporaneamente povoado por migrações nordestinas e paraenses, sempre foi, e continuará sendo, uma mãe para todo tipo de visitantes. Paulistas sem lugar ao sol em Sumpáulo, cariocas fugindo dos milhares de Zé Pequenos do Rio, maranhenses procurando melhores condições e paraenses buscando uma prazerosa dor saudosista de suas Beléins, Santaréins, de seus Remos, de seus Paysandus e de seu açaí. Manaus é mulher fácil, sorridente, calorosa e ingênua. Acolhe fugitivos do Linha Direta sorrindo, como acolhe a arrogância de paulistas, paranaenses e gaúchos. Uma Geni, que todos comem e em quem todos cospem. Por isso gosto de pensar, já que nasci numa província metida a cidade, cercada de províncias metidas a metrópoles, que somos mais felizes. Nesse rodamoinho de ilusões, bairrismos e tolices medíocres, estamos mais perto da realidade do que paulistas, cariocas e paraenses, pra citar três. Os primeiros com seu sangue bugre e sua pose européia – baixa auto-estima eu perdôo; os do meio achando que são bons malandros – saudosismo eu também relevo; e os últimos achando que sua Canaã, linda nos porta-retratos sobre as tevês da sala, será sempre a última Skol – desculpem, Cerpinha - nesse seco e inóspito deserto de medíocres amazônidas. E que venham, todos os felizes, para a minha capital do mormaço, a terra dos infelizes.

Temperado com generalizações ao gosto do autor.

segunda-feira, novembro 08, 2004

Não seja apenas mais um

Acabo de receber mais um arquivo powerpoint fofinho, com gatinhos abraçados e letrinhas caindo, uma a uma, ao som de Yesterday naquela versão midi que mais parece tocada por um chimpanzé num pianinho de brinquedo. Enfim, uma bosta de bom dia. O autor – desconhecido, por supuesto - me informa que se eu não sonhar minha vida não vale a pena. “Um homem sem sonhos não vive, apenas existe”. Bonito, bonito. Nasci, cresci, existo, não atrapalho ninguém, não incomodo ninguém – até onde sei. Não roubo o que é dos outros, trabalho pra comer o que a Bíblia diz que eu ganhei de Deus. Pago impostos que aqueles que os roubam não pagam, sigo as leis de trânsito, não urino nos muros e postes, não ouço música alta tarde da noite, não fumo em lugares fechados e desligo o telefone no cinema. Mas não, não é o suficiente. Além disso preciso fazer algo, fazer a diferença, me destacar, ser lembrado. Todos os outros à minha volta precisam do mesmo. Precisamos ter sonhos, almejar algo, deixar algo para a humanidade, um livro, uma empresa de sucesso, um exemplo de vida, filhos com nosso nome, nossos genes.

Há dias em que dá vontade de apenas existir. Chega de sonhos, chega de ambições, chega de competição. Carpe Diem o cacete.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Groupies ricas, ídolos jecas

Eu comecei a entender a distância que separa a riqueza dos Estados Unidos da pobreza brasileira. Basta pensar que os eleitores jecas, caipiras, gordos, fundamentalistas e retrógrados de Bush são aplaudidos por parte da elite intelectual brasileira. E quando a nata pensante de um país suspira pelo que há de pior noutro, fica fácil entender a disparidade entre ricos e pobres - e isso vale para Bushs, Fidéis e Hugos. Os mauricinhos brasileiros não chegam aos pés dos Zecas Diabos americanos. O Brasil é a favela intelectual do mundo. Uma Rocinha, com tevê a cabo, clínica particular e academia de ginástica, mas ainda uma favela.

Fico com o SSoB, que elaborou um novo mapa, com grandes oportunidades turísticas, da América do Norte. Junta-se Canadá, Califórnia e Nova Iorque num país novo. Vou ganhar dinheiro, assim como o Smart, fretando vôos para lá. Quem topa?

quinta-feira, novembro 04, 2004

Esquema? Não? Então a fila é ali, ó.

Tento abrir minha empresa há 4 meses. Há dois meu processo viaja pela IMPLURB - Instituto Municipal de Planejamento Urbano, que hoje, depois de um feriado de 7 dias, foi indeferido. A atendente, bronzeadérrima pelo sol de Maués, guarda seu Sabrina e sua serrinha de unhas, mas não diminui o volume do toca-discos, que vai de Bruno & Marrone. Sugere um recurso, e que eu procure alguém que conheça os trâmites (alguém de dentro) para agilizar o processo. Me apresento então como Antônio Cordeiro, primo de Bosco Saraiva, genro de Ari Moutinho, cunhado de Amazonino Mendes, filho de João Gomes, assessor de Eduardo Braga. Ela não gosta da gracinha, mas sorri, como quem faz côro com os colegas desse mundo de almas sebosas: Vai, otário.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Four More Years



Ele venceu.

E que caiam mais bombas.
E que explodam mais crianças.
E que degolem mais inocentes.
E que mais 100.000 civis morram no Iraque.
E que mais 215 bi sejam gastos.
E que mais desmoralizado fique o Ocidente.
E que mais simpatizantes consiga Osama.
E que mais homens-bomba se apresentem.
E que mais guerras venham, em nome da paz.

segunda-feira, novembro 01, 2004

Agradecimentos

O melhor desse genuíno Halloween foi constatar, cético que sou, que o novo prefeito já começou a mostrar serviço. Resolveu o problema do trânsito de Manaus em 45 minutos. Dirigir, desde ontem, deixou de ser drama, virou benção.

Às 18:00 senti um passamento, e corri pra dentro de casa, lembrando do Velho Testamento. Lá Deus anunciou o dilúvio, que limparia toda a iniqüidade humana. Entrei com minha família e esperei a tormenta acalmar. Passados 40 minutos (o tempo da bíblia tem outro ritmo), soltei uma pomba, e eis que ela nunca voltou, decerto por ter encontrado pouso para seus pés. Abri a janela e vi que a terra estava enxuta, lavada, e que todos haviam sido levados na enxurrada. As picapes, as camisetas, os adesivos, as bandeirinhas. Nélson deles.

Presto aqui justa homenagem a Bruno Sabbá, à Juventude Amazonista, a todos os secretários estaduais e municipais militantes, aos milhares de assessores de porra nenhuma, ao funcionalismo público-particular, a Arlindo Jr., Braz Silva, Sabino Castelo Branco, Bosco Saraiva, Francisco Garcia, aos financiadores - como faço pra tirar o sorriso da cara? - da campanha mais cara da história da cidade, a Egberto Batista, José Lopes, Robério Braga, Josué Filho e agregados, [musica crescendo e microfone diminuindo...], meu Deus, é tanta gente... àqueles que agora trocam os adesivos nas garagens e se preparam para puxar um saco novinho em folha. A todas essas pessoas, que brindaram a população durante esses longos meses com seu carisma, seu cinismo, seus programas de tevê, rádio, seus jornais - e revistas -, suas festinhas e baladinhas politizadas, seus indiciamentos, suas prisões, suas médicas grávidas, enfim, a todos, e me perdoem se esqueço de alguém [música aumentando mais...], o meu desejo sincero é que todos vocês, igualmente, sem distinção de idade, cor, religião, raça, vão pras putas que lhes pariram.

Fuck you very much, fuck you very much.