Quando eu assistia os vídeos antigos do Elvis e dos Beatles, imaginava como deviam ser loucos aqueles tempos, os anos 60. Meninas em prantos, gritos, histeria, tumulto. Acho que era inveja de quem viu aquilo. Mas nada acontecia desde então. Até que, em 1982, um garoto assombrou o mundo, com um álbum que venderia 60 milhões de cópias e com uma dança nada parecida com o que o mundo conhecia. Desse álbum sairiam músicas que, ao longo dos dois ou três anos seguintes, se revezariam no topo das paradas de todo o planeta. Eu vi meninas e meninos desmaiando, chorando, berrando, mesmo em frente à tevê. E já naquele distante 82 eu vi que algo grande acontecia, como um show de Elvis ou como a chegada dos Beatles aos EUA. Era algo sobre o que iríamos falar durante décadas, dava pra sentir. Mas hoje nada ilustra melhor a tristeza da história desse garoto do que uma busca por imagens suas no Google. Entristece, porque acima das culpas, da bizarrice e das algemas, ninguém mais consegue enxergar o que está ali, embaixo daquele nariz postiço, daquela expressão mórbida, infeliz, assustada. Elvis morreu como o rei que foi. Os Beatles acabaram como o furacão que foram. Esse garoto não, acaba todo dia, lentamente, na melancolia de um homem quebrado, desfigurado e pisoteado. É uma pena que tanta gente não tenha visto, como eu vi, História acontecendo. Já são 22 anos desde que aquilo aconteceu. O gênio morreu. Ficou uma carcaça doente, morta no meio da rua, sendo esmagada diariamente pelos pneus alheios e por sua própria doença. A nós, mortais, cabe apenas esperar, sem perceber, que ele morra, afogado como Jim Morrison e Jimi Hendrix, mas na própria loucura e nos próprios demônios, para que voltemos a escutar Billie Jean, Thriller e Beat It.