segunda-feira, julho 31, 2006
Notas de segunda-feira
Roberto Tardelli, aquele promotor que atuou contra os assassinos do casal Richthofen, rebate as suspeitas de que teria sido ele o responsável pelo vazamento de trechos dos depoimentos ao programa Fantástico. “Repilo com veemência qualquer vínculo com o assunto. Não sou e nem nunca seria responsável pela guarda ou divulgação desse material”. Pra mim confessou o crime, só por ter usado a expressão “repilo veementemente”.
A coluna Ooops!, do UOL, avisa que um novo vírus na internet fala da morte do vencedor do concurso Ídolos, do SBT, e chega ao ponto de oferecer um link do tipo “clique aqui e veja as imagens do acidente”. Mais grotesco do que bolar essa maravilha e pior, do que cair nela, é a coluna terminar a notinha com um singelo “veja a imagem do email”. Humor sofisticado é outra coisa.
Os candidatos ao governo do estado que não se chamam Amazonino nem Eduardo têm tido dificuldades para aparecer na idônea imprensa local, toda já loteada pelos dois grandes. Artur Neto e Paulo De Carli por vezes me lembram aquela brincadeira de criança, em que todos tinham que sentar quando a música parasse. A música parou, e o punhado de cadeirinhas da imprensa já foi ocupado.
Oliver Stone é o novo herói da Direita americana. Sim, o diretor de Platoon, JFK e Assassinos por Natureza fez um filme sobre o 11 de setembro em que os americanos são machos e religiosos. Aqui.
Bessa Freire anda novamente cutucando gato com vara curta. Que bom, ainda há estômago por essas terras.
Zélia Cardoso de Melo foi absolvida da acusação de corrupção. Enfim, há sinais de que a justiça brasileira anda. Os próximos pareceres dizem respeito ao enforcamento de Tirandentes e ao suicídio de Getúlio Vargas. Aguarde notícias. Pra daqui a 20 anos.
Venda de camisetas do Hizbollah explode em São Paulo. Também, numa terra com a vocação pro besteirol e pro provincianismo, nada demais.
Dunga chamou Jorginho para coordenador técnico. Romário deve ser escalado, nos próximos dias, pra preparador físico.
Há jornalistas envolvidos na história fazendo piadinha com a nova (?) prostituta do pedaço, o jornal A Crítica. Corre nos corredores dos jornais o singelo slogan "A Crítica, de mãos dadas com o Correio". Campanha publicitária aqui, em breve.
A Churrascaria Boi Gordo contratou atores para estrelar seu mais novo comercial. Com o pretexto de uma pesquisa, figurantes meia-boca falam da maravilha que é a Boi Gordo. As churrascarias Búfalo e Gaúchos planejam entrar no TRE com uma ação proibindo a veiculação da peça.
Proponho a quebra do sigilo bancário de Galvão Bueno, que há 87 anos narra os fracassos de Rubinho Barrichelo sem nunca ter questionado a competência do rapaz, como faz tão facilmente na seleção brasileira, especialmente com jogadores que não são seus sofridos amigos.
segunda-feira, julho 24, 2006
Notas de segunda-feira
Alicia Silverstone disse ao site FemaleFirst que tiraria a roupa sim, se fosse por uma causa nobre. Alicia é uma das mulheres mais sexy do mundo. Eis uma causa nobre.
O Malfazejo recomenda: “O Caçador de Pipas”, de Khaled Rosseini. Dá vontade de pegar o primeiro vôo para a Cabul dos anos 70, dá vontade de ir atrás daquele garoto que machuquei aos 10 anos, dá vontade de ser pai, de ter um pai, de escrever, dá vontade de chorar e de rir. Leia, antes que o filme chegue às telas.
John Voight, digo, Artur Neto conseguiu judicialmente que A Crítica fosse impedida de publicar resultados de pesquisa eleitoral, feita em parceria com a UNISOL (empresa idônea, “acima do Bem e do Mal” (sic) para Mário Frota, vice-prefeito e maior oposicionista da Prefeitura). Hoje o jornal defende sua posição com a chamada “políticos condenam ação judicial de Artur”. Com uma chamada dessas fica tentador concordar com o tucano, convenhamos.
Havia polêmica no Congresso Nacional sobre se deveriam ser revelados os nomes das sanguessugas das ambulâncias. Enquanto se discutia tamanha besteira, Veja trouxe a lista, com nomes e fotos. Ponto final.
A porto-riquenha Zuleyka Mendoza venceu o concurso Miss Universo, ontem à noite. A candidata mexicana era a favorita, mas foi surpreendida enquanto arrumava o meião na prova de vestidos de gala.
Mas a surpresa da noite foi a ausência da Venezuela entre as 10 finalistas. Nesta segunda ocorrem dezenas de mesas-redondas na tevê venezuelana, onde analistas e comentaristas tentam descobrir o que teria causado tamanho fiasco na competição internacional mais aguardada do país.
Com o salário de um produtor de vídeo da campanha do Negão (R$ 7.500,00), daria para comprar a casa do ex-governador, que vale R$ 56 mil, em sete meses. Bonito, né?
Mário Frota, vice-prefeito de Manaus e popularmente conhecido como Alice Cooper, aproveitou a internação do vice–presidente José Alencar e entrou na justiça contra a Prefeitura. Melhor do que xingar os juros. Mérito de Mário.
Pulguinha, vice-presidente da Gaviões da Fiel, exige uma retratação de Tevez, que mandou a própria torcida calar a boca depois de fazer um gol. “A torcida o Corinthians é muito grande. O Tevez tinha que pensar nisso. De repente, ele pode estar andando em um shopping e aí...”, insinua o inseto. Cláudio Manoel, do Casseta e Planeta, já anda escoltado.
Suzane Von Richtofen foi condenada a 39 anos e meio de prisão, mas pode voltar às ruas em 3 anos. E aí? Vai continuar segurando seus instintos assassinos à toa toda vez que alguém te contraria, adolescente mau-compreendido? Pra quê?!
Escolheram o Dunga pra técnico da seleção. Porra, como se estivessem todos satisfeitos com o Soneca que acabou de sair, neguinho vem colocar o Dunga? Desta vez o Brasil acabou mesmo, estragaram até o futebol da nação.
sábado, julho 22, 2006
Depoimentos de Páginas da Vida
Adolescente, 16 anos – “minha ‘ficante’ me deu de presente American Idiot, do Green Day, quando completamos 4 meses, zero hora e meio minuto de namoro. Já em casa, coloquei When September Ends no máximo. Dormi. Quando acordei, minha cueca estava toda babada. Desde então, sou hominho. Terminei com a Dani. Não preciso mais de mulher, aquela é a música mais docaralho de todos os tempos!”.
Mulher culta, artista plástica e cantora de MPB manauense, 46 anos: “Tinha acabado de cantar Esquadros, da Adriana Calcanhoto, pela sétima vez seguida, quando a Dona Encrenca me deu um tapa na bunda e o disco da Ana Carolina. Fui pro meu apê, me servi de uma dose de Jack Daniel’s cowboy e tasquei o dedão no ‘play’. Quando tocou aquela famosa, da Glória Pires, senti um treco estranho lá nas partes baixas. Tirei o coturno, a calça rajada e a cueca Zorba. Quando vi, estava toda babada. Desde então sou mais mulher, dispensei a Dona Encrenca e me resolvo sozinha”.
Reacionário e bon-vivant paulista, 36 anos: “Acabava de chegar de Manhattan quando minha noiva me presenteou com uma coletânea do Burt Bacharat. Fui pra casa, vesti meu suéter preferido, fitei saudoso minha biblioteca particular e liguei o som. Enquanto apreciava o buquê de meu Pinot Noir na janela do meu apartamento, senti um tremor estranho. Pensei 'what the hell!...'. Quando abri a braguilha, vi que estava todo babado. Desde então sou um homem feliz. Mandei a Chris de volta pro East Village e agora me resolvo sozinho. Não preciso mais de nada, só do velho Burt.”
Balofinha forrozeira, 20 anos: “Tava curtino um forrozão paidégua no Posto de Gasolina Disco Club, direto das caixas de som do Puma 71 do César, meu namorido secreto (se a mulher dele sabe...), quando ele me deu um disco pirata do Harmonia do Samba. Em casa, depois de dar de comer aos 3 meninos, deitei no sofá e abri uma Skol. Dormi ao som daquele ‘qué-tome-tome-tome’. Quando acordei, senti algo estranho. Tirei a calcinha e vi que estava toda babada. Dispensei o brocha do César e passei a gozar a vida sozinha desde lá. Sou uma mãe de família feliz”.
Fiel da Igreja Universal, 48 anos: “Eu participava do décimo sétimo culto da Fogueira Santa de Israel (estágio anterior às 32 ‘reuniões dos 311’), quando o irmão Isaque, obreiro muito abençoado da minha congregação, me presenteou com o disco ‘Diante do Trono 57’. Fui pra casa, orei agradecendo pela chuva abençoada da tarde não te-la levado embora e pedi pro vizinho tocar o disco pra mim. Dormi na janela, ouvindo aqueles gritos abençoados. Acordei transformado, um novo homem. Tirei a calça e percebi que estava todo babado. Desde então saí do meu ‘fundo de poço’, larguei a prostituição e as drogas e sou mais feliz. Não preciso de mais nada”.
Docinho, menina super-poderosa, 3 anos e seis meses: “eu salvava o mundo de novo, com minhas parceiras e nossos olhões, quando um simpático menino que salvei me presenteou com um DVD do Pica-Pau. Fui pra casa e liguei o home-theater. Fechei meus olhões e dormi vendo aquele mega-astro sempre se dando bem, com aquele bicão cafajeste. Quando acordei, senti algo estranho debaixo do meu vestidinho fofinho. Levantei e vi que estava toda babadinha. Desde então abandonei Florzinha e Lindinha e me divirto sozinha, vendo o meu DVD preferido”.
Tom Jobim, pra balancear.
sexta-feira, julho 21, 2006
O homem certo no lugar errado
É claro que a gente entra em quadra para vencer os outros, mas o mais importante é dar 100% do que tem a dar. O que frustra não é a derrota. É não ter conseguido dar o máximo, é saber que não fez o melhor, não se preparou da melhor maneira. O arrependimento não tem a ver com a derrota, tem a ver com aquilo que a gente deixou de fazer ou fez errado e eu tenho ojeriza ao arrependimento.
Bernardinho, técnico da seleção brasileira. De vôlei.
Roberto Benevides ajuda o Brasil a entender por que este homem venceu 14 dos últimos 17 torneios internacionais que disputou.
Mentir sozinho eu sou capaz
Uma pesquisa séria deveria ser feita em Manaus, para apontar até que ponto a guerra editorial dos grupos políticos, que se estende na cidade há anos, converte-se em votos para seus estrategistas. Estrategistas de meia-tigela, diga-se. É perfeitamente plausível, factível, exeqüível até, que se imagine que o leitor médio de jornais não cai na conversa mole de editorias parciais, que enxertam política nas entrelinhas de uma matéria.
Os jornais da cidade têm, cada um, seu jeito de ser, sua personalidade. Até aí, tudo bem, os grandes jornais do mundo têm caráter, opiniões, assumem posições e lados em seus editoriais. Não tentam aplicar golpes na mente de quem lê, imaginando ingenuamente que os leitores são burros. Ora, em se tratando deste país e deste estado, onde ler jornal é coisa de intelectual, investir milhões pra ludibriar gente que pensa é verdadeiramente a grande burrice. Não percebem, os donos dos jornais e seus diretores, que publicar opiniões não é proibido. É, aliás, sinal de caráter, de coragem. Mas no lugar certo.
The Independent, The Guardian e The New York Times revelaram, em bom inglês, quem apoiavam nas eleições americanas, respeitando a inteligência dos leitores, que gostam de ver transparência nas páginas de um jornal. Credibilidade, no meio jornalístico, é a alma do negócio. Pena que por aqui ainda se imagine que o público leitor é o mesmo que troca dentadura por voto.
Como os eleitores mais esclarecidos, os leitores de jornal nem dão ouvidos pra jornalismo vendido, visível facilmente a olho nu. Eleitor que se preze joga no lixo o que não presta e fica com o que serve. Da mesma forma faz o leitor de jornal. Joga fora o lixo e fica com o pouco que resta de notícia.
Enfim, o armazém de secos e molhados da mesmice. Os donos dos jornais trocando “reportagens bomba” nos primeiros cadernos e suas esposas dondocas fazendo pose, lá no final, nos “elencos de identificados”, pros colunistas sociais, as mesmas bibas provincianas de sempre.
Jornalismo, dizem.
Tá.
O Estado do Amazonas, 22 de julho de 2006
quarta-feira, julho 19, 2006
Eu, “cidadão”, com aspas
Interessante como a opinião pública, essa legião de banguelas agraciadas pela bondade dos nossos deputados, nada vale para os políticos que são flagrados cometendo crimes. Manaus vem, desde que aquela filmagem foi feita naquela fundação dedicada aos dentes do povão, esperando explicações de seu dono, que, em película, dizia que seus dentistas são pagos com verba de seu gabinete, com verba de gabinete de seu filho – ladeados por aquele outro vereador, mais conhecido por seus indiciamentos na polícia do que por seu trabalho na Câmara.
Mas o deputado, cujos salários e verbas de gabinete são pagos, também, por este “cidadão dublê de juiz e dublê de parlamentar”, não ficou nisso. Ameaçava suas ovelhas de deixa-las com dor de dente, caso não fosse reeleito. Ameaçava também, e com o fogo do inferno, as ovelhas evangélicas, que poderiam estar, espertamente, aproveitando seu tratamento dentário sem pretender pagar o tratamento com, seu voto.
Mas, apesar de toda a grita da sociedade, o deputado calou-se. No dia do flagra, gaguejou numa rádio, foi pego na mentira, tentando explicar o inexplicável: o fato de estar cobrando votos em troca de tratamento dentário, pago com dinheiro do Governo Estadual, ou seja, o meu e o seu dinheiro, leitor. Não pôs no bolso, usou pra ganhar voto, o que também é crime.
Esquece-se o deputado que respeito não é decretado, é conquistado. Finge não saber que, a cada manobra parlamentar que o livra e livra seus colegas de crime da Justiça, sua capacidade de cobrar respeito se esvai.
No lugar de responder a um insignificante “cidadão”, dublê de juiz como eu, o deputado deveria responder à opinião pública, dar ao povo as explicações que seus colegas, esses sim, dublês de juízes, não quiseram ouvir, arquivando seu caso.
Não pretendo trucidar a moral de parlamentares usando “apenas um fato”. Pretendo, sim, cobrar vergonha na cara dos políticos que eu sustento. Eu e os coitados dos banguelas que vão pro inferno.
Eles estão sem resposta.
Isso sim, é desrespeito.
O Estado do Amazonas, 20 de julho de 2006
sexta-feira, julho 14, 2006
Scooby-Doo pra gente grande
Os canais de desenho animado ensinam mais do que a TV Câmara. Percebi isso ontem, lendo a entrevista de Nelson Azedo nos jornais, enquanto assistia o episódio do Scooby-Doo em que o vilão se disfarça de monstro do pântano para afugentar os turistas e continuar roubando o ouro enterrado no parque da cidade. O roteiro da vida é basicamente o mesmo, uma historinha do Scooby-Doo.
O vilão arquiteta um plano mirabolante para ficar rico, franze as sobrancelhas e gargalha diabolicamente, gritando para seus comparsas “meu plano é infalível, ficarei milionário! Rá-rá-rá-rá....” Naquelas historinhas, o vilão, como todo vilão que se preze, se escondia num disfarce de monstro, num lençol de fantasma, na escuridão de um porão. Naquelas historinhas os vilões precisavam se esconder, enquanto tramavam a destruição do mundo, com a certeza da vitória do Mal.
Mas nunca contavam com a inteligência de Velma, Scooby, Salsicha, Fred e Daphne. No fim, sempre acabavam surpreendidos pela polícia, que os desmascarava em público, para o espanto de todos, que faziam “ooohhh!” em coro. Trazidos à força das sombras à luz da Justiça (bonito, isso), reclamavam dos mocinhos, resmungando “eu teria ficado milionário, se não fosse por esses garotos intrometidos!”
Quando éramos crianças, não precisávamos nos preocupar com as contas, o conflito no Oriente Médio, a violência urbana, o caos da saúde pública. Não precisávamos nos preocupar com o Nelson Azedo, com o Azedinho nem com o Moutinho.
Hoje os vilões são flagrados arquitetando seus planos malignos, com gravação em vídeo e áudio. Hoje se dispensa o dom investigativo de Velma, pois os vilões agem à luz do dia. Sequer investigações são necessárias.
A diferença é que, na historinha da vida real, o vilão é desmascarado, todo mundo faz “ooohhh!” e nada mais acontece. E o vilão canta vitória, dá entrevista e continua gargalhando na nossa cara, dizendo “serei reeleito, isso não vai dar em nada”.
Aqui o roteiro do Scooby-Doo também se repete pra sempre.
Ao contrário.
quinta-feira, julho 13, 2006
quarta-feira, julho 12, 2006
As últimas notas da Copa
O estádio Allianz Arena, em Munique, que não foi mostrado pela Globo em suas trocas de cores, pois Ronaldinho Gaúcho fazia alongamento sempre na hora da operação
Há quem diga no Brasil que Cafu é o grande culpado pela cabeçada de Zidane em Materazzi. Cafu ainda não se pronunciou a respeito, pois está ocupado exigindo direito de resposta aos jornalistas que o acusam de ser o mentor dos ataques terroristas na Índia.
"Quero que me sirvam os ovos de Materazzi em uma bandeja". A frase da semana é de Malika, mãe do jogador francês Zinedine Zidane. As mães dos jogadores italianos morreram de inveja da frase, obviamente tirada de algum romance de Mario Puzo ou de um filme de Scorcese.
Pra mim, a imagem da Copa da Alemanha de 2006
Apesar da eliminação precoce da Copa da Alemanha, a seleção brasileira mantém-se firme na primeira posição do ranking de seleções da Fifa. Todas as outras seleções da competição se mexeram. Só o Brasil se manteve intacto, vendendo beleza na cabeça de área.
Lula tomou um porre de tristeza no último dia 1º de julho, dia do jogo-treino da França contra o Brasil. Confirmou, assim, as insinuações de Ronaldo a respeito de seu gosto por álcool. Ronaldo continua gordo. Mas Lula já está curado da ressaca.
Waldir Corrêa, o melhor comentarista futebolístico do Amazonas – o que explica um pouco do prestígio do futebol amazonense -, diz que, se fosse Zizou, teria dado duas cabeçadas e um soco no italiano. Uma com sua própria cabeça, outra com a cabeça do fantasma que recebia salário da antiga Prefeitura, com o nome de Waldir Corrêa.
Parreira, que renunciou ao cargo para escapar da cassação, pretende se candidatar às eleições de 2010. Não deverá trazer perigo ao país, pois nesse quesito o brasileiro tem ótima memória.
Manaus anda entulhada de patriotismo, praticamente intransitável. É patriotismo jogado nos córregos, amontoado nas valas, patriotismo obstruindo os bueiros. Isso sem falar nos quilômetros e quilômetros de patriotismo ainda pendurados nos postes, atrapalhando a visualização de semáforos. Faço apelo à SEMULSP, para que limpe todo o patriotismo que anda enfeiando a cidade.
O Mundo-Cão da ALE
Conheço muita gente que não gosta de política. E apesar de não conhecer os meandros dessa arte, frequentemente me atenho à política. Não porque goste dela, mas porque, queira eu ou não, ela me atinge. Entendo as pessoas que bocejam automaticamente à menor menção do assunto, como quem repete rezas vazias numa missa de domingo, mas ainda não consegui dormir em paz com ladrões no meu quintal.
Sou um teimoso. Insisto em dar atenção a essas coisas. Mas não falo de política, falo de polícia. Não procuro saber os desdobramentos eleitorais que o caso Prodente, por exemplo, trará. Penso em Ari Moutinho, em Nelson Azedo e em Nelson Amazonas, e não vejo clima pra falar de política, porque isso não é política, é bandidagem.
Sou teimoso, insisto em me indignar. Pela higiênica distância que teimo em manter dessas pessoas, não entendo o clima que gera a simples menção, minha, do nome de algum político cafajeste. Se falo de Belarmino, que me chama de otário toda semana com suas manobras imorais e seu cinismo arrogante, livrando amigos cafajestes da justiça, me dizem pra ter cuidado. Se falo de Amazonino ou Eduardo, então, nem se fala, posso acidentalmente engatar minha mão na maçaneta de algum carro assassino. Se falo da imprensa de mentirinha de Manaus, o mundo cai, como se eu, do fundo de minha insignificância, pudesse mudar algo. Não posso, infelizmente.
Apenas 3,5% do eleitorado brasileiro têm nível superior. Grosso modo, é como dizer que 96,5% dos votantes não saberiam dizer o que é emenda parlamentar, decoro, improbidade administrativa, verba indenizatória, nepotismo cruzado, cláusula de barreira. É tanta palavra difícil que essa brava gente boceja na hora.
A vida é polícia. A roupagem que se dá é diferente, mas é a mesma coisa. Enquanto para uns, bandidagem é arquivar processos contra bandidos, como fazem Belarmino e Balieiro, pra outros, bandidagem é roubar um tênis e acabar no “Bronca no Rádio”.
É tudo a mesma coisa.
Bandidagem.
Na ALE tem muito, mas lá eles chamam de Política.
O Estado do Amazonas, 11 de julho de 2006
E o Cafu tem culpa de ser reeleito?
Vou pôr em prática meu plano de ir embora. Claro, a médio ou longo prazo, por motivos óbvios. Cansei desta Nigéria, deste Sudão civilizado. Vão certamente me fazer mal à saúde, daqui a pouco tempo, as notícias. Abro os jornais ou ligo a tevê, e vejo a Câmara Federal, no que chamou de "Esforço Concentrado", sem trabalhar. Esforço Concentrado é a decisão, essa sim, adotada sem polêmica, dos deputados de trabalhar três dias por mês, até as eleições. Sim, esse é o Esforço Concentrado.
Aquele que será conhecido - por pouco tempo, estou certo - como o pior Parlamento da nova democracia brasileira, está atolado de trabalho. Com sua reeleição. A sensação de bagunça e de "não tem mais jeito" é tamanha que praticamente todos os ladrões do Congresso estão empenhados não em sua defesa ou em salvar sua imagem, mas em conseguir um novo mandato!
Culpa deles? Claro que não. Não se pode culpar o ladrão por ser ladrão. Deve-se culpar a vítima por continuar convidando o ladrão prum cafezinho, isso sim.
180 milhões de técnicos de futebol.
E nenhum cidadão que preste.
terça-feira, julho 11, 2006
Zizou não ‘pega lá fora’
Instala-se, na crônica esportiva e nas discussões de enchimento de linguiça dos Avalones da vida, a dedução de que, para que Zidane fizesse o que fez a 10 minutos de sua aposentadoria, devia ter sofrido algum insulto horrendo. É óbvio. Muçulmanos são cordiais e educados (mesmo), mas não toleram insultos à sua família. Fica fácil perceber isso quando assistimos a cena completa, desde o agarrão que Zizou toma de Materazzi. Os dois trocam uma ou duas frases, Zidane dá as costas ao italiano e tudo parece resolvido. Mas Materazzi ainda fala algo, e isso é o suficiente para que Zidane vire novamente e, sem discutir, lhe aplique a cabeçada. Nada de grito, discussão, xingamentos. Nada de Simeone com sua filhadaputice dissimulada, nada de Edmundo dando tapinha e virando as costas. Zidane ouve o que Materazzi lhe diz, vira e ataca.
Zidane foi um artista, um oásis de futebol bonito numa Copa sem graça. Até a melancolia de seu olhar e a frieza azeda de suas feições me enchiam os olhos. Como me deram prazer os gols que fez pela Juventus, pelo Real Madrid, pela França. Comentou-se que Zidane é tímido, reservado e triste. É disso que gosto. De olhares ameaçadores antes das partidas, como dois pugilistas a se intimidar. Chega de pagode, de jogo-treino, de rachão, de Robinho fazendo graça, de Ronaldinho fazendo batucada. Isso era pro tempo em que éramos deuses do futebol, Globetrotters dos gramados, invencíveis.
Zidane aposentou-se por não querer mais fazer o que fazia. Não criou desculpas esfarrapadas, não fez drama, não posou pra fotos. Até a simplicidade de Zidane me encheu os olhos. Se era pra revidar um insulto, que fosse pra valer. Se fosse pra parar de jogar, que fosse por falta de prazer.
Zidane me encheu os olhos, não por seus dribles sobre brasileiros, mas pela estética de seu jogo, de cortes simples, sem firulas ou enfeites, sem trivelas ou pedaladas. Zidane não inventou, apenas fez. Desfilou, inovando com seus movimentos tradicionais, entre macaquinhos de circo enfeitados com tiaras da Nike. Entrou para a lista dos meus ídolos do futebol neste domingo. Por fazer o que fez pelo futebol e por ter honra.
Deixou uma agressão, não apesar de ser craque, mas exatamente porque foi craque.
Como Pelé, que sabia bater muito bem.
Coisas de quando ainda havia brios no futebol...
segunda-feira, julho 10, 2006
Notas de segunda-feira
Fontes seguras – provavelmente gente do Daniel Dantas – da Fifa afirmam que Marco Materazzi, o italiano agredido por Zidane em Berlim, chamou o meia francês de “terrorista sujo”. Zidane é filho de argelinos, e só deu a cabeçada no carcamano porque não tinha nenhuma banana de dinamite, nenhum AK-47 e nenhum 767 por perto.
Que sorte a de Silvio de Abreu. Não tivesse terminado dois dias antes da final da Copa, o mistério sobre a identidade da filha de Bia Falcão teria sido abafado pelo mistério sobre o que disse Materazzi a Zidane.
Enquanto isso, a Globo se faz de morta no caso. É que a alta cúpula da Fifa está interessada em saber o que Materazzi disse para o francês, mas os garotos surdos do Fantástico não lêem lábios em italiano. O programa mostrou uma versão com o que seriam xingamentos à mãe e à irmã do francês.
À boca miúda, no entanto, comenta-se que Materazzi teria dito a Zidane que o francês é um blefe, pois dar chapéu em Ronaldo e ganhar da seleção brasileira teria sido mais fácil do que tirar canelone da boca de uma criança. A menção a Ronaldo teria desencadeado memorandos internos pela Globo, proibindo os garotos de revelar a verdade.
Materazzi diz que é "ignorante" e que nem sabe o que quer dizer a palavra "terrorista". Com essa explicação, já há analistas que vêem chances de Materazzi lançar-se à política nas próximas eleições italianas.
Rita Kirder, professora, foi assaltada, na última quinta-feira, quando jantava, em casa, com o marido e amigos. Os assaltantes levaram tudo, inclusive um computador que guardava 1,5 ano de trabalho num projeto - em educação. Rita Decidiu protestar estendendo faixas no muro de casa. A polícia, que tem uma cabine a 200 metros da casa de Rita, apareceu.
Nicholas Bartha explodiu, hoje de manhã, o prédio em que morava, de três andares. Aconteceu em Nova Iorque, não em Karachi. A polícia e os bombeiros acreditam que Nicholas pretendia se matar e, de quebra, evitar que sua mulher ficasse com o prédio. E sobreviveu, o coitado. A Casa Branca já estuda fazer emendas ao Patriot Act.
Violeta Martinez, uma espanhola de 70 anos, foi presa num bairro nobre de São Paulo, por crime contra a saúde pública. Tudo porque acumulou, ao longo de 20 anos, todo tipo de lixo em sua casa - restos de comida, caixas de papelão e iogurte. Durante o dia, 26 caminhões abarrotados de lixo saíram da casa. Violeta está revoltada, porque garante que tem as notas fiscais genuínas de todos os produtos que guardava. E provocou, dizendo para fazerem o mesmo com Eliana Tranchesi. Gente fina é outra coisa.
Belarmino Lins arquivou o processo contra Nelson Azêdo e sua Prodente. A canalhice perdeu a compostura mesmo.
sexta-feira, julho 07, 2006
Assim, até eu!
Dias atrás eu decidi escrever meu primeiro livro. Contei isso aqui. Não devo lhes dizer, mas quero. Apesar de estar levemente entorpecido naquela noite, levei o projeto à frente. Hoje tenho algo pra chamar de meu, ainda que seja apenas um início. Confesso, também já pensei em desistir. Sorte minha que visito, com certa e inadvertida frequência, os sites e blogs de grandes leitores da atualidade. Sim, eu disse "leitores" e não "escritores". É que chegamos à era da imagem. Acompanho a desenvoltura com que muita gente discorre e cita filósofos malditos, enumera grandes obras da literatura mundial e brinca com a fluidez convencional da escrita. Expressões espirituosas, tiradas exoticamente nonsense, piadas com sétimo sentido. Ao chegarem às livrarias, não passam de involuntários e boquirrotos genéricos, bem pioradinhos, de Luis Fernando Veríssimo. Não passam disso. É o que me encoraja a seguir essa vida.
quinta-feira, julho 06, 2006
Stephen King está entre nós
Dizem que notícia ruim chega rápido. Pra mim o ditado murchou. Falhou porque fiquei sabendo apenas com dois dias de atraso que Vera Lúcia, esposa do injustamente acusado de condenação por tráfico de cocaína Sabino Castelo Branco, havia prendido sua mão na maçaneta do carro do marido enquanto o mesmo arrancava, perdendo, assim, seu equilíbrio, e vindo a espocar sua cara no chão. Quando ainda tentava me recompor do baque – eu, não ela – de saber que esse tipo de trágico e cruel acidente pode acontecer até nas mais respeitadas e ilibadas famílias, fui submetido a uma saraivada de boletins, informações e ângulos da tragédia. Nem bem havia absorvido a surpresa do ocorrido, já tive que escutar, no rádio, os angustiantes e dramáticos detalhes daquele que pode ter sido o mais grave caso de defeito de fabricação registrado em carros no país. Sim, porque ouvindo, condoído com o estado emocional de Sabino, seu relato, imaginei a trágica seqüência de infelicidades que cercou o acidente de Vera Lúcia.
De posse das fotos tiradas do celular de Marco Antônio Chico Preto, repórter free-lancer, dentro de um carro, pude deduzir que a infelicidade que sofreram Sabino e sua esposa pode acometer qualquer pessoa. Assim, é importante que toda a sociedade amazonense saiba as verdadeiras armas que podem ter em suas garagens.
Vamos lá. De posse do sofrido relato do marido, sei que Vera Lúcia segurava a maçaneta do carro quando foi levada ao chão. Ali, teria machucado o olho e quebrado os dentes. Em seguida o cinto de segurança do carro teria se enroscado no pescoço da coitada, que presa numa “gravata”, teria sido arrastada por alguns metros, o que explicaria as escoriações pelo seu corpo.
As testemunhas do caso, ainda com medo de sofrerem represálias da máfia das montadoras de carros, teriam “inventado” a versão politiqueira do espancamento. Afinal, como disse o vereador mais votado de Manaus, Sabino é muito homem pra admitir que espancara a mulher, se isso tivesse ocorrido.
Ah, bom. Assim, sim.
quarta-feira, julho 05, 2006
Se fosse no Maskate...
Boletim de Ocorrência, ficção baseada em fatos reais:
Encorajado pela ajuda de dois seguranças taludos e armados, o super-galerito Sabino Castelo Branco, conhecido desde as eleições de 2004 nas quebradas do Aleixo e nas bocadas de Porto Velho como "Má Fase", espocou a cara de sua amantíssima esposa, que dera um piti por causa de uma das amantes do vagabundo. Conhecido de quem sabe ler por sua maravilhosa ficha corrida, Má Fase continua fazendo das suas, em sua inútil existência de ex-traficante internacional, policial fantasma e puxa-saco de bandido. Sua curiosa mulher, que não é lesa e sempre soube que o folgado não vale nem o que o gato enterra, encontrou uma mensagem de uma catirina qualquer no celular do figura, e, possuída pelo tinhoso, iniciou uma sessão de quebra-quebra com os carros do safado, conhecidos dos comparsas de Má Fase como carros do chefe. Ao tomar conhecimento do ato tresloucado de sua barraqueira esposa, Má Fase foi até sua casa e distribuiu uma maravilhosa seqüência de pontapés, socos, voadoras e cotoveladas na cara da mulher. Vera Lúcia foi atendida no João Lúcio e não lembra nem seu sobrenome. Má Fase continua livre.