quarta-feira, julho 12, 2006

O Mundo-Cão da ALE


Conheço muita gente que não gosta de política. E apesar de não conhecer os meandros dessa arte, frequentemente me atenho à política. Não porque goste dela, mas porque, queira eu ou não, ela me atinge. Entendo as pessoas que bocejam automaticamente à menor menção do assunto, como quem repete rezas vazias numa missa de domingo, mas ainda não consegui dormir em paz com ladrões no meu quintal.

Sou um teimoso. Insisto em dar atenção a essas coisas. Mas não falo de política, falo de polícia. Não procuro saber os desdobramentos eleitorais que o caso Prodente, por exemplo, trará. Penso em Ari Moutinho, em Nelson Azedo e em Nelson Amazonas, e não vejo clima pra falar de política, porque isso não é política, é bandidagem.

Sou teimoso, insisto em me indignar. Pela higiênica distância que teimo em manter dessas pessoas, não entendo o clima que gera a simples menção, minha, do nome de algum político cafajeste. Se falo de Belarmino, que me chama de otário toda semana com suas manobras imorais e seu cinismo arrogante, livrando amigos cafajestes da justiça, me dizem pra ter cuidado. Se falo de Amazonino ou Eduardo, então, nem se fala, posso acidentalmente engatar minha mão na maçaneta de algum carro assassino. Se falo da imprensa de mentirinha de Manaus, o mundo cai, como se eu, do fundo de minha insignificância, pudesse mudar algo. Não posso, infelizmente.

Apenas 3,5% do eleitorado brasileiro têm nível superior. Grosso modo, é como dizer que 96,5% dos votantes não saberiam dizer o que é emenda parlamentar, decoro, improbidade administrativa, verba indenizatória, nepotismo cruzado, cláusula de barreira. É tanta palavra difícil que essa brava gente boceja na hora.

A vida é polícia. A roupagem que se dá é diferente, mas é a mesma coisa. Enquanto para uns, bandidagem é arquivar processos contra bandidos, como fazem Belarmino e Balieiro, pra outros, bandidagem é roubar um tênis e acabar no “Bronca no Rádio”.

É tudo a mesma coisa.

Bandidagem.

Na ALE tem muito, mas lá eles chamam de Política.


O Estado do Amazonas, 11 de julho de 2006