quarta-feira, julho 19, 2006

Eu, “cidadão”, com aspas


Interessante como a opinião pública, essa legião de banguelas agraciadas pela bondade dos nossos deputados, nada vale para os políticos que são flagrados cometendo crimes. Manaus vem, desde que aquela filmagem foi feita naquela fundação dedicada aos dentes do povão, esperando explicações de seu dono, que, em película, dizia que seus dentistas são pagos com verba de seu gabinete, com verba de gabinete de seu filho – ladeados por aquele outro vereador, mais conhecido por seus indiciamentos na polícia do que por seu trabalho na Câmara.

Mas o deputado, cujos salários e verbas de gabinete são pagos, também, por este “cidadão dublê de juiz e dublê de parlamentar”, não ficou nisso. Ameaçava suas ovelhas de deixa-las com dor de dente, caso não fosse reeleito. Ameaçava também, e com o fogo do inferno, as ovelhas evangélicas, que poderiam estar, espertamente, aproveitando seu tratamento dentário sem pretender pagar o tratamento com, seu voto.

Mas, apesar de toda a grita da sociedade, o deputado calou-se. No dia do flagra, gaguejou numa rádio, foi pego na mentira, tentando explicar o inexplicável: o fato de estar cobrando votos em troca de tratamento dentário, pago com dinheiro do Governo Estadual, ou seja, o meu e o seu dinheiro, leitor. Não pôs no bolso, usou pra ganhar voto, o que também é crime.

Esquece-se o deputado que respeito não é decretado, é conquistado. Finge não saber que, a cada manobra parlamentar que o livra e livra seus colegas de crime da Justiça, sua capacidade de cobrar respeito se esvai.

No lugar de responder a um insignificante “cidadão”, dublê de juiz como eu, o deputado deveria responder à opinião pública, dar ao povo as explicações que seus colegas, esses sim, dublês de juízes, não quiseram ouvir, arquivando seu caso.

Não pretendo trucidar a moral de parlamentares usando “apenas um fato”. Pretendo, sim, cobrar vergonha na cara dos políticos que eu sustento. Eu e os coitados dos banguelas que vão pro inferno.

Eles estão sem resposta.

Isso sim, é desrespeito.

O Estado do Amazonas, 20 de julho de 2006