sexta-feira, julho 14, 2006

Scooby-Doo pra gente grande


Os canais de desenho animado ensinam mais do que a TV Câmara. Percebi isso ontem, lendo a entrevista de Nelson Azedo nos jornais, enquanto assistia o episódio do Scooby-Doo em que o vilão se disfarça de monstro do pântano para afugentar os turistas e continuar roubando o ouro enterrado no parque da cidade. O roteiro da vida é basicamente o mesmo, uma historinha do Scooby-Doo.

O vilão arquiteta um plano mirabolante para ficar rico, franze as sobrancelhas e gargalha diabolicamente, gritando para seus comparsas “meu plano é infalível, ficarei milionário! Rá-rá-rá-rá....” Naquelas historinhas, o vilão, como todo vilão que se preze, se escondia num disfarce de monstro, num lençol de fantasma, na escuridão de um porão. Naquelas historinhas os vilões precisavam se esconder, enquanto tramavam a destruição do mundo, com a certeza da vitória do Mal.

Mas nunca contavam com a inteligência de Velma, Scooby, Salsicha, Fred e Daphne. No fim, sempre acabavam surpreendidos pela polícia, que os desmascarava em público, para o espanto de todos, que faziam “ooohhh!” em coro. Trazidos à força das sombras à luz da Justiça (bonito, isso), reclamavam dos mocinhos, resmungando “eu teria ficado milionário, se não fosse por esses garotos intrometidos!”

Quando éramos crianças, não precisávamos nos preocupar com as contas, o conflito no Oriente Médio, a violência urbana, o caos da saúde pública. Não precisávamos nos preocupar com o Nelson Azedo, com o Azedinho nem com o Moutinho.

Hoje os vilões são flagrados arquitetando seus planos malignos, com gravação em vídeo e áudio. Hoje se dispensa o dom investigativo de Velma, pois os vilões agem à luz do dia. Sequer investigações são necessárias.

A diferença é que, na historinha da vida real, o vilão é desmascarado, todo mundo faz “ooohhh!” e nada mais acontece. E o vilão canta vitória, dá entrevista e continua gargalhando na nossa cara, dizendo “serei reeleito, isso não vai dar em nada”.

Aqui o roteiro do Scooby-Doo também se repete pra sempre.

Ao contrário.