Uma pesquisa séria deveria ser feita em Manaus, para apontar até que ponto a guerra editorial dos grupos políticos, que se estende na cidade há anos, converte-se em votos para seus estrategistas. Estrategistas de meia-tigela, diga-se. É perfeitamente plausível, factível, exeqüível até, que se imagine que o leitor médio de jornais não cai na conversa mole de editorias parciais, que enxertam política nas entrelinhas de uma matéria.
Os jornais da cidade têm, cada um, seu jeito de ser, sua personalidade. Até aí, tudo bem, os grandes jornais do mundo têm caráter, opiniões, assumem posições e lados em seus editoriais. Não tentam aplicar golpes na mente de quem lê, imaginando ingenuamente que os leitores são burros. Ora, em se tratando deste país e deste estado, onde ler jornal é coisa de intelectual, investir milhões pra ludibriar gente que pensa é verdadeiramente a grande burrice. Não percebem, os donos dos jornais e seus diretores, que publicar opiniões não é proibido. É, aliás, sinal de caráter, de coragem. Mas no lugar certo.
The Independent, The Guardian e The New York Times revelaram, em bom inglês, quem apoiavam nas eleições americanas, respeitando a inteligência dos leitores, que gostam de ver transparência nas páginas de um jornal. Credibilidade, no meio jornalístico, é a alma do negócio. Pena que por aqui ainda se imagine que o público leitor é o mesmo que troca dentadura por voto.
Como os eleitores mais esclarecidos, os leitores de jornal nem dão ouvidos pra jornalismo vendido, visível facilmente a olho nu. Eleitor que se preze joga no lixo o que não presta e fica com o que serve. Da mesma forma faz o leitor de jornal. Joga fora o lixo e fica com o pouco que resta de notícia.
Enfim, o armazém de secos e molhados da mesmice. Os donos dos jornais trocando “reportagens bomba” nos primeiros cadernos e suas esposas dondocas fazendo pose, lá no final, nos “elencos de identificados”, pros colunistas sociais, as mesmas bibas provincianas de sempre.
Jornalismo, dizem.
Tá.
O Estado do Amazonas, 22 de julho de 2006