sexta-feira, março 24, 2006

De Tia Miriam a Debra LaFave


Foto: TerraNa minha quinta série do antigo Primeiro Grau, conheci a Professora Miriam. Moça nova, séria, com aquele terninho cor-de-jaca e um corte de cabelo medonho, meio Delis Ortiz. Eu sentava no fundo da sala, bem ao centro. Não era desordeiro nem malfazejo, apesar disso. Já descobria certos efeitos da farta produção de hormônios da idade, em casa. Um dia Tia Miriam cruzou as pernas pela primeira vez, e meu mundo mudou. Usava meias, hoje sei, que contornavam duas das coisas mais lindas que até então eu havia visto. As meias tinham um brilho discreto, e pareciam dar àquelas duas torres gêmeas um bronzeado natural. Não brilhavam muito, apenas o suficiente para parecer uma penugem delicada, divinamente atingida pelos raios do sol das três da tarde, que parecia descer pra focalizar aquilo. Dois dias depois eu continuava no centro da sala, mas agora três carteiras à frente, ansioso por aquele terno, que parecia mais cor-de-cocô, é verdade, aquele penteado meio outra Miriam, a Miriam Leitão e, acima de tudo, aquelas pernas brilhosas, lisinhas, ensolaradas. Me viciei na Tia Miriam, estudei como nunca, querendo um sorriso dela, uma premiação ao aluno mais aplicado da turma. Certo dia cheguei antes de todos, e tive que aguentar horas, longas horas duma aula péssima, de outra tia, que usava calças - que não pareciam esconder grande coisa, felizmente. Recreio. Risoles, refrigerante Crush? Nada, eu queria ver as pernas da Tia Miriam. Voltei do pátio, anti-social como nunca, e aguardei o espetáculo começar.

Mas Tia Miriam não viria. Eu não sabia, como não sabia que aquilo era um par de meias, que ela se mudara da cidade. Cheguei a chorar, em casa. Não era saudade, tristeza ou qualquer coisa parecida. Assim como eu não sabia das meias, não sabia que era tesão. Tia Miriam, em sua casa, provavelmente sem aquelas meias, não sabia que criara um homem.

Agora me aparece essa Debra LaFave, professora de 22 anos anos, acusada de ter seduzido um afortunado aluno de 14. Hoje foi absolvida, vai cumprir uma peninha boba. Olho para ela e lembro da Tia Miriam. Os pais do rapaz - a mãe, pelo menos - devem ter ódio dela. Eu só consigo pensar que o americaninho foi muito, muito feliz. Tia Miriam nunca olhou assim pra mim.