terça-feira, março 21, 2006

Política, essa arte incompreendida



Braz Silva no Correio / Foto: Ismael Benigno

Sou leitor voraz de jornais, mas neles não procuro mais as notícias, tão mais ágeis no computador. Folheio O Estado, A Crítica, o Correio, o Diário, o Em Tempo e o Maskate, saltando sobre notícias que li ontem - às vezes até anteontem. São as colunas que me interessam.

Hoje, entre Carlos Chagas, Arnaldo Jabor, Mangabeira Unger e Alexandre Garcia, encontrei a foto de Braz Silva, ilustrando sua coluna, e me assustei. Me assustei porque, apesar de não conhecer pessoalmente o mais feroz opositor de Serafim, sempre tive certa admiração pelo comunicador, que parecia ser mais afável, elegante e sedutor. E que qualidade rara essa, especialmente à nossa atual geração de políticos: a capacidade de seduzir. Confesso, Braz Silva já teve minha simpatia, exatamente pelo jeitão afável, firme mas agradável. É claro, não o conheço pessoalmente, posso estar errado. Mas, como leitor, me vi de frente para o pôster de O Iluminado, filme de terror psicológico estrelado por Jack Nickolson e dirigido por Stanley Kubrik, numa adaptação raramente boa de um romance de Stephen King.

Braz Silva, assim como alguns de seus alvos, faz parte de uma época politicamente triste, aqui e no resto do país. Ataca Marcelo Serafim, filho do prefeito, como quem escreve pra não ir às vias de fato, num texto agressivo, intolerante e simplório. Não, não é assim. Política é, essencialmente, convencimento, persuasão, a arte de "dobrar" o outro. Braz, eu sei que você pode ir além disso.


Oscar Schindler convence Amom Goeth, bêbado, de que humilhação, mesmo, é tratar bem o inimigo. Fazendo isso, Schindler salvou centenas de judeus...

Temos tudo, tenho convicção disso, para conviver com a discordância. Homens e mulheres inteligentes, capazes de fazer política elegante, firme e bela. Sem discordância não se vive, a discordância é o sal da política. Mas é imperativo, em se tratando da Política (essa, com pêsão mesmo), que discordemos em paz. Arrombar portas a machadadas só atrai espectadores quando se trata de cinema, e, ainda assim, atrai apenas àqueles que gostam de um bom terrorzinho na tela. Nos jornais, em colunas, não. Ninguém mais ouve Heloísa Helena, há um botãozinho mental na opinião pública, um dijuntor que desarma, e ninguém mais ouve a senadora a partir do bordão "os delinqüentes de luxo do poder". É dizer isso, e já era, trocamos de canal.

Sou leitor, somos leitores. Não queremos mais isso. Ninguém se faz ouvir aos berros, senhores. E que falta faz um bom tapinha nas costas do adversário. Lhes garanto, ilustres representantes meus. Um cafezinho tem poderes milagrosos.