sábado, março 18, 2006

Mentiras sinceras não me interessam


Como assim, não interessa aos eleitores a vida pessoal dos políticos? É claro que interessa. Quem entra na carreira pública é, automaticamente, público. Quero saber, sim, se Palocci comia alguém na mansão da República de Ribeirão. Quero saber, sim, se Lula parou mesmo de beber ou não. Quero saber, sim, se Tasso Jereissati mandou mesmo Pauderney Avelino "se foder" (sic) – e, mais importante, se o pefelista foi. Que hipocrisia coletiva é essa, que transforma pequenos Lurians em TNT durante as eleições, e em assunto sacramente particular depois delas?

Época de eleição é assim, sempre foi assim: puladas de cerca, décadas antes, derrubam uma candidatura. Cigarrinhos de maconha, ainda que não tragados, podem estragar uma carreira política. Charutos podem neutralizar uma biografia, como bem sabe Bill Clinton. Alcoolismo no passado, senhor Bush, dinheirinho sem origem guardado em cofre, Dona Roseana, boleto atrasado de IPTU, seu Amazonino, tartaruga pirata, seu Marcelo, lavagem de dinheiro via loterias, seu Garcia, são sim, interesse meu. Até seu pai e os depósitos dele na sua conta, humilde Nildo, agora são interesse meu. Passaram a ser, desde que você entrou para a vida pública. Aguente, ou então volte à sua vida de caseiro e voyeur da estripulia alheia.

Que história é essa, de que a vida dos homens públicos é coisa privada? Nada disso. Por mim político não tinha sigilo bancário, telefônico nem fiscal, nunca. Elegeu-se? Abra-se a vida do sujeito. Por mim casa de político devia ter circuito fechado de câmera, com um canal exclusivo na tevê aberta, pro povo dar uma espiadinha. Gabinete de político devia ser monitorado. Carro de político devia ser monitorado. A fidelidade conjugal, acompanhada. Todos queremos saber, na hora do palanque, se o candidato tem filho bastardo, não queremos? Então por que esse desinteresse, quando o homem já está lá, sentado no nosso dinheiro?

Quer privacidade, homem público?

Renuncie, deixe essa vida.

Quer defender a privacidade de seus homens públicos, estimado eleitor?

Rasgue seu título, deixe essa vida.