quinta-feira, março 02, 2006

Quinta-feira, com gosto de segunda


Mário Prata, João Ubaldo Ribeiro e Mathew Shirts são recorrentes. Sofrem de falta de assunto. Igual ao Jabor, que não se envergonha de falar sempre das mesmas coisas, das utopias da geração de 68, da feiúra das mulheres saradas e da santa burrice de Bush. Prata já sentou e escreveu sobre uma vizinha sua que, desavisada, trocava de roupa em frente a seu apartamento. Já escreveu também sobre a saudade que tem de escrever em máquina de escrever, da forma que outros puristas preferem as máquinas a filme fotográfico, os discos de vinil, brincadeiras de massinha e a Vila Sésamo. Pura falta do que dizer. Shirts já publicou duas laudas sobre as peculiaridades da cozinha americana (sua terra natal) e sobre o sanduíche de pasta de amendoim. São pagos, óbvio, para produzir, e assim fazem. Ubaldo bate um papo com os leitores, e sua risada sai do papel, distraindo o leitor e até agradando, com seu cinismo meio infantil, meio bêbado. Jabor faz colagens, tenho certeza. Dá mais certo do que as letras do Engenheiros do Havaí, claro, mas é a mesma coisa, basicamente. Reciclar antigas rimas, fazer outras, novas e absurdas, e cantar.

Admitamos: do que falar? De selvagens ateando fogo a bandeiras dinamarquesas? De americanas gordas encontrando a imagem da Virgem Maria numa batatinha frita? De Lula arrebentando nas pesquisas? De Braga e Amazonino enganando meu povinho com mais uma briguinha de palco? De uma minissérie horrível chamada JK? Dos livros que andei lendo? Do Carnaval que passou? Do trânsito? Das contas?

Não. Eu estou com Jabor, Prata, Ubaldo e Shirts. Sofro, momentaneamente, não de falta de assunto, mas de sobra de tédio. A diferença é que eles recebem pra isso. E por isso precisam escrever. Qualquer coisa.