sábado, abril 30, 2005

Pega a estáuta, menino! Rápido!


Para fechar com chave de ouro o Abril Vermelho - Edição 2005, o Movimento dos Sem Terra premiou seus principais membros com uma visita ao Rio de Janeiro, com direito a vales-assaltos, vales-depredação e vales-foice, além de outros prêmios que a maioria dos brasileiros nem sonha ganhar um dia. Cada um teve direito a um Vale-Assassinato, comenda presenteada apenas aos melhores funcionários. Raimundo "Che" da Silva, eleito o Invasor do mês, ganhou passagens e hospedagem para ele e sua companheira. Nilson dos Santos, que levou o troféu de Saqueador Mais Rápido de abril, levou o pacote família e recebeu passagens, tíquetes pro Bondinho do Pão de Açúcar e boletos de táxi para ele, sua companheira e seus 7 filhos. Os turistas sem terra gritaram palavras de ordem contra a Globalização, o Capitalismo, a Lei da Gravidade e a improdutividade da estátua invadida, entregue a turistas capitalistas estrangeiros, interessados em internacionalizar o Corcovado. Miniaturas do Cristo, bonés e cartões postais, vendidos como sourvenirs pelas lojinhas, foram distribuídos igualitariamente – depois de roubados – entre os premiados. O destino? Brasília. Pena que não vão encontrar mais nada para saquear.

sexta-feira, abril 29, 2005

Essa gente não aprende...


Definitivamente há algo em São Paulo que não dá liga comigo. A torcida paulistana que foi assistir a Brasil e Guatemala (em festa da Globo) rasgou a enorme bandeira com a logomarca da empresa, xingou Galvão Bueno e Casagrande, gritou pelo SBT e fez coros ofensivos aos anfitriões. Uma das especialidades do brasileiro, odiar tudo o que mais ama. Um dos países mais americanizados do mundo é também um dos mais anti-americanos. A emissora que todos assistem é também – e por isso mesmo – o que há de mais maligno no país. Depois de toda a celeuma da prisão do arianíssimo Desábato, Grafite ainda não conseguiu se livrar do racismo. A cena já é conhecida: atiraram ao campo uma banana com os dizeres “Grafite – Macaco”. A única diferença é que dessa vez não houve argentino pra pagar o pato. Foram os próprios brasileiros (aliás, paulistanos) os autores da fofura. Romário teve que se despedir longe do seu Rio, cidade que, uma semana antes, era só apoio a Grafite (em forma de faixas da torcida, no Maracanã).

O interessante é que, fosse tudo isso em qualquer outra cidade, seria atribuído ao atraso econômico e cultural dos jecas locais. São Paulo é, para muitos paulistanos, uma ilha de excelência rodeada por um mar de gente feia, mal-educada e inculta. Pra mim, às vezes, apenas às vezes, São Paulo é uma ilha de gente grotesca, mal-educada, inculta e arrogante. E pra mim há poucas coisas mais nojentas do que gente que consegue ser burra e arrogante ao mesmo tempo.

E não, não estou generalizando. Conheço muita gente boa de São Paulo, mas não me engano mais. São minoria. Minorias são sempre a melhor parte de qualquer coisa.

quinta-feira, abril 28, 2005

A Ditadura dos Comentários


A excelente Luma passa, de leve, por um assunto que sempre me chamou muita atenção. Os comentários dos blogs. Para quem gosta de escrever, os comentários são um doce, um bônus (como nos videogames) para quem já sente prazer em apenas falar. Alguns dos blogs mais interessantes que conheço não têm sistema de comentários (o que mais me chama a atenção é o Catarro Verde, do Sérgio Farias), mas há outros (desde o habilidoso e pedante Alexandre Soares Silva até o traumatizado Jorge Nobre, com seu único assunto). Com pequenas variações, todos estes desprezam comentários, uns por falta de paciência (que tenho certeza ser o caso do Sérgio), outros porque adoram a sensação de não fazer sucesso no Brasil (o que seria um imenso demérito, em se tratando da qualidade do leitor brasileiro – pensam). São bons demais para o Brasil, então melhor o ostracismo. Eu gosto de comentários, e não me importo se são monossilábicos ou prolixos. Não me importo se são de amigos e parentes ou se são de desconhecidos europeus. São uma resposta ao que eu disse ou simplesmente um "oi". O que escrevo não termina com aquelas interrogações sugestivas, que impelem o leitor a dizer algo.

Há as Marias-Comentários, uns Mainardis virtuais, cujo talento principal é sussurrar "Yes! Me odeiem! Yes!". Há filósofos autodidatas (que usam Kant como genérico para antidepressivos fortíssimos), mocinhas com seus apelidos fofinhos, sempre no diminutivinho. Há jornalistas às cuias. Há poetas meia-boca, dramaturgos cheios de pose, cronistas ótimos e cronistas péssimos, atrizes globais e caboquinhas gritando u-hú pra tudo, artistas alternativos e militantes com suas causas. Com raras exceções, são todos (aliás, somos todos) reféns deles, os comentários. Por quê? Simples. Não queremos o que é bom, e sim o que é interessante. Não entramos em boates vazias, entramos? Há leitores que lêem o post apenas depois de ver a quantidade de comentários que aquele texto causou. Há leitores exclusivamente de comentários (isso mesmo!). Por isso vemos tanta gente tentando ser diferente a todo custo. Pra vitaminar uma caixa de comentários vale xingar a Virgem Maria, elogiar o Bush, defender o terrorismo, dar razão ao Severino, xingar o Flamengo, dizer-se ateu, elogiar ou xingar o papa, falar mal de pobre.

Desconfie de quem não gosta de comentários, leitor, assim como de quem está sóbrio o tempo todo. São as pessoas mais emocionalmente instáveis e mais traiçoeiras, nessa ordem. Não desconfie de adoradores e "odiadores" de qualquer coisa, esses são isso mesmo, não oferecem perigo algum. Concorde ou discorde de mim, mas diga algo. Não estou aqui pra ouvir minha própria voz. Comente, comente! E me adicione, seja lá o que isso for.

terça-feira, abril 26, 2005

E Deus castigou Adão. Com o Trabalho.


Sem que tivesse grandes argumentos que apoiassem meu desapego pelo trabalho, já debati com grandes e exemplares trabalhadores e entrepreneurs deste nosso mundinho sobre a grandeza e a beleza do trabalho, que apesar de lindo e dignificante é tão facultativo quanto o alistamento militar. Sempre fui, ainda que não-praticante, um entusiasta do ócio produtivo. Nada contra o capitalismo, a propriedade privada ou o acúmulo de riqueza. Só não concordo muito que deva me encaixar nesse sistema (oh, a palavra "sistema"!) de sobrevivência, em que somos obrigados ao trabalho porque somos obrigados ao consumo.

Faz enorme sucesso na França o documentário "Attention: danger travail", traduzido para "Atenção: perigo trabalho", uma coletânea de entrevistas com pessoas que resolveram parar de trabalhar para viver melhor. São pessoas de ambos os sexos e de todas as faixas etárias que escolheram não participar da enorme engrenagem que move a sociedade baseada no consumo. Claro, para isso precisaram também escolher o abandono dessa sociedade de consumo. Em outras palavras, optaram por deixar de trabalhar, e pra isso abriram mão dos confortos obrigatórios trazidos pelo trabalho. Na França isso é mais fácil, pois o seguro-desemprego ajuda a viver. Depois dele o Estado paga uma espécie de salário mínimo, o RMI, com piso de 389,10 euros, que pode ser aumentado se houver dependentes. Um casal com dois filhos, por exemplo, ganha 817,12 euros.

Esses desertores têm mais tempo para leituras, sestas, museus, e descobrem o prazer de uma vida que não conheciam. O que é lógico. Engana-se quem pensa que essas pessoas escolheram não fazer nada. Pelo contrário, há uma infinidade de coisas a fazer em vez de trabalhar. Ou nunca nos percebemos prisioneiros do ciclo vicioso trabalho-salário-contas-trabalho-salário-contas? Quantas vezes você usou a piscina pela qual pelejou tanto no seu trabalho amado? Vivemos uma guerra eterna contra nós mesmos. Dizemos com enorme facilidade que amamos o que fazemos, que o trabalho dignifica a vida e blá-blá-blá. Balela. O que dignifica a existência é ter dinheiro no bolso, ponto. É uma pena que, para consegui-lo, a única forma lícita seja o trabalho. Por isso toleramos, suportamos o trabalho. Não fosse assim os bares não estariam lotados às sextas-feiras, numa prova clara de que, depois de cinco dias fazendo o que dizemos amar tanto, precisamos de remédio. Como pode alguém tão apaixonado pelo que faz chegar à mesa, afrouxar a gravata e suspirar dizendo "que semana pesada, graças a Deus acabou!".

Eu nunca gostei de trabalhar. Durante todas as tardes quis dormir, ler, passear, viajar. E sei que você concorda comigo, por mais que nem saiba que concorda. Quantos amantes do trabalho você conhece? Daqueles que trocam um feriado, um sábado, uma noite de sexta-feira por mais algumas horas fazendo o que amam, ou seja, trabalhar? Todos odiamos a segunda-feira porque é dia de trabalho. Todos amamos a sexta pelo contrário. Veja a legião de candidatos nos concursos públicos, veja a legião de apostadores da Sena. Gostamos de trabalhar ou de ter dinheiro? Come on! Só não podemos dizer isso a sério, como se os desabafos cansados precisassem ficar apenas no desabafo. Como você veria alguém que escolheu não trabalhar?

Mas eu trabalho, infelizmente. Não ligo se você diz que eu "devia dar graças a Deus por trabalhar, isso sim". Na verdade você quer dizer que eu "devia dar graças a Deus por receber dinheiro de alguém em troca de uns favores diários". Preciso pagar as contas, comer, vestir, sobreviver. Só e somente por isso. Você também, amigo apaixonado pelo que faz. Prove que você ama o que faz: abdique do seu salário, trabalhe de graça. Aí sim, eu vou acreditar em você.

segunda-feira, abril 25, 2005

Notas de segunda-feira


Psicólogos britânicos atestam que escrever mensagens com o telefone celular (os torpedos) e e-mails de maneira obsessiva pode reduzir o quociente de inteligência (QI) até duas vezes mais que fumar maconha. Bem que eu desconfiava que aquelas pessoas que não desgrudam do telefone tinham um grau avançado de demência.

O jornal Financial Times traz matéria sobre a corrupção endêmica que assola o Brasil. Não tenho acesso ao conteúdo da matéria, que é apenas para assinantes. Se alguém conseguir burlar o site ou descolar uma senha pra mim, ofereço um guaraná bacana.

O jornalista Jonathan Wheatley, autor da matéria, que se prepare.

Título da coluna de hoje de Ribamar Bessa Freire: "Vote em burguês, Bento XVI".

Agricultores americanos fizeram uma passeata de protesto em Chicago, terminada em frente ao consulado brasileiro. Portando bonés e bandeiras do MST, pretendiam também invadir prédios públicos, quebrar vidraças e invadir fazendas produtivas, em homenagem ao modus operandi da organização criminosa brasileira, mas lembraram que estavam em solo americano. É que criminosos terminam na cadeia por lá.

Segundo a Controladoria Geral da União (ou seja, o Governo), 20% de todo o dinheiro arrecadado com os impostos do país com a maior carga do mundo são roubados. Não se tem notícia, na história, de tamanho assalto, e a tantos bolsos. Somos obrigados, por lei, a entregar as carteiras aos ladrões.

Não sou a favor da descriminalização das drogas nem do aborto. Sou a favor da descriminalização da corrupção. Condenar algo que absolutamente todos fazem só pode estar errado. Que o digam os candidatos bem relacionados que fizeram prova pro concurso da Secretaria de Saúde em Manaus. Não dizem quantos pontos fizeram nem sob tortura. Outro dado curioso: são essas as pessoas que geralmente não desgrudam do celular. Legaliza logo, pô.

Engraçado esse mundo católico, movido pelo medo do inferno e pela sensação de culpa. Se o novo papa liberasse o aborto, o casamento de padres, revogasse o celibato e liberasse o homossexualismo, todos poderiam fazer o que sempre fizeram, mas com o aval de Deus. O povo não quer fazer o que nunca pôde fazer. Quer a benção pra poder fazer. Só isso. A descriminalização do pecado. Também sou a favor.

Torcedores argentinos estenderam uma enorme faixa em jogo durante a semana passada, onde se via a imagem de um gorila e os dizeres "Grafitte, Macaco". Vou de Zé Simão: que se estendam nos estádios brasileiros enormes faixas com a imagem de um saco bem redondo de pó, com os dizeres "Maradona, Rei da Argentina".

sábado, abril 23, 2005

Enquanto você dorme...


Como é desumanamente difícil lembrar do mais elementar da vida. Eu te vejo agora, a dois passos de mim, dormindo como se estivesses feliz, como se a tua vida fosse a de uma herdeira milionária. E noto a imensidão da importância de voltarmos para esse lugar, com esses espaços e vãos tão perfeitos e nossos. Aqui, a dois passos de mim, podes deitar ainda com os óculos no rosto, sem as roupas que espalhaste pela sala, e dormir como se estivesses feliz. Porque aqui, a dois passos de mim, tu encontras uma paz possível, a que tenho pra te dar. Nessas horas em que estás aí, as tuas infelicidades não doem, as tuas angústias não gemem. Todas as dores, tristezas, medos e rancores se desligam. Vais ter paz aí, a dois passos de mim, facilitando, sem perceber, a minha missão preferida, te proteger. E eu fico aqui, a dois passos de ti, velando essa tua paz silenciosa. Mais algumas horas e vais despertar, e mais uma vez vou estar aqui, esperando. A luz do dia vai iluminar novamente os mesmos medos, problemas e tristezas, mas eles estarão menores. Vais acordar mais feliz, e a minha missão de te fazer feliz vai continuar, com meus fracassos e vitórias diários. Vais me ver aqui, e vais saber que, assim como temos sido, ainda vamos ser mais felizes. Saberás disso apenas me vendo aqui. Mas não estarei mais aqui, a dois passos de ti. Estarei aí. Simples, elementar e obviamente porque te amo.

sexta-feira, abril 22, 2005

Tente isso em casa


Obtenha um pedaço de filé-mignon (pode ser o miolo do contra-filé também) de aproximadamente meio quilo. Coloque oito dentes de alho numa panela pequena com água fervente e os deixe cozinhar por um minuto. Retire-os, descasque-os e corte-os ao meio, retirando o centro meio esverdeado. Leve uma frigideira alta ao fogo, com um terço de sua altura de óleo. Coloque as metades de alho até que dourem. Retire-as e as reserve. Frite o filé, 3 minutos de cada lado. Se quiser mais bem passado, deixe fritar por mais 2 minutos. Retire a carne e, então, tempere-a com sal e pimenta. Sobre o filé, espalhe o alho e um pouco do óleo da fritura. Sirva com salada de agrião ou brócolis refogado no alho e óleo. Como ensina o sempre sutil Sérgio Farias, o próximo passo é: corte um pedaço, pegue com o garfo e enfie na boca já aberta. Mastigue.

Se você estiver em São Paulo, coma um por mim. Filé do Morais.

CSI Manaus.



Uma briga de trânsito entre o tenente da Polícia Militar Klinger dos Santos Paiva, 28, e o sargento do Exército Brasileiro (EB) identificado como Valter José Antunes, 40, começou na avenida dos Expedicionários, na Vila Militar, bairro São Jorge, Zona Centro-Oeste, e foi parar no 5º Distrito Policial, bairro de Santo Antônio, e vai para a Justiça.

Na delegacia, os dois foram ouvidos pelo delegado plantonista José Cavalcante que emitiu um Termo Circunstancial de Ocorrência (TCO) e encaminhou o caso para uma das varas do Juizado Especial.

A confusão começou com os dois militares, que estavam de folga ontem e resolveram sair. Eles voltavam de um passeio, quando o sargento Valter trancou o carro do tenente Klinger. Isso foi o suficiente para começarem a discutir.

Segundo Valter, Klinger sacou uma arma e o ameaçou. Em seguida teria pedido ajuda, por telefone, aos colegas e em questão de minutos oito viaturas da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam) chegaram ao local para dar apoio ao tenente.

O comandante da PM, Wilson Martins, disse que vai apurar com rigor e quer saber porque o Centro Integrado de Operações de Segurança deslocou tantas viaturas para atender o caso.

Com a repercussão negativa do episódio diante da opinião pública, o comando da PM informou que já tem um suspeito pela ligação telefônica criminosa que teria acionado tantas viaturas ao mesmo tempo. Trata-se de Adenildo dos Santos, pedreiro, analfabeto, fichado na polícia e ganhador de uma casa no Conjunto Nova Cidade. Adenildo foi reconhecido por diversas testemunhas, que afirmaram ser também ele o autor da "trancada", com sua Caloi Barra Forte, sobre o carro do tenente Klinger.

O dia de ontem também foi marcado pelo assalto à casa de Otávio Carvalho, que passou uma hora como refém dos ladrões. Trancado no banheiro com sua família, só conseguiu pedir ajuda depois do assalto, acionando a viatura da Rocam que fica estacionada bem ali, perto de sua casa. A polícia já tem o retrato falado dos dois assaltantes, e as duas descrições correspondem, sem dúvida alguma, sem nem piscar, com certeza, com toda a segurança, nenhum pentelhésimo de dúvida mesmo, a Adenildo dos Santos, pedreiro, analfabeto, fichado na polícia e ganhador de uma casa no Conjunto Nova Cidade.

Eu teria gostado de ver a presepada. Já que há alguns meses em Manaus só se diverte quem gosta de pagode e forró - além de os helicópteros da PF terem deixado os céus manauenses num verdadeiro marasmo -, bem que um tiroteio entre policiais daria uma reavivada nos ânimos. Quero mais. E de preferência que parem de se ameaçar uns aos outros e se matem, todos. Aí o feriado ia ter razão de ser.

terça-feira, abril 19, 2005

Por um canal de Clipping, urgente!


É um grande embuste essa história de que hoje, no mundo moderno, a velocidade da informação atropela todos nós, como se a vida passasse e não conseguíssemos alcançá-la. Mentira. As informações importantes são pouquíssimas e estão rodeadas por toneladas de lixo. Como já expliquei ontem sobre minha frágil saúde, HABEMUS VIROSIS, portanto fiquei em casa, cercado por BAND NEWS, CNN, RAI, DW. Depois da euforia, tudo é uma repetição sem fim. A CNN montou especiais, profissional que é, e está sendo exemplar na enrolação, com direito a entrevistas, depoimentos, gráficos e vistas panorâmicas da Piazza. Os apresentadores da BAND, coitados, em casa, devem assimilar apenas Teletubbies na tevê, tamanha a repetição. E não é só hoje. Pense bem, amigo desocupado como eu. Guerras, mortes, eleições, torneios esportivos... tudo é muito pouco. É equipamento demais pra pouco assunto. Certa está a Globo, que mostra o filé e depois retorna ao Globo Esporte, tranquilamente, onde comemorações pelo título do Fluminense continuam em Laranjeiras. Isso sim, é notícia, não o passado do Papa, que esteve na Juventude Hitlerista - forçado a isso, claro.

segunda-feira, abril 18, 2005

Inspirado por Dan Brown, que nunca li




Francis Arinze, cardeal nigeriano com boas chances de suceder Karol Vojtyla, é a primeira vítima da ala ultra-conservadora-purista dos cardeais participantes do Conclave.


Notas de segunda-feira


O próximo Fórum Social Mundial, ano que vem, está confirmado para Caracas, na Venezuela. Não poderia haver país-sede que representasse melhor uma das manifestações mais vazias, idiotas e atrasadas do mundo. Uma vitrine dos porquês da Esquerda ser tão ridícula, na essência.

"É preciso que haja um certo sentido de privacidade. Eu não acho que tenham o direito de ler as correspondências entre minhas filhas e eu". Do presidente dos EUA George W. Bush, que admitiu temer o uso de e-mails, monitorados pelo próprio governo.

Os defensores públicos do Amazonas vão parar por 48 horas, a título de aviso, e aguardar que Vossa Alteza, Eduardo Braga, lhes dê um tiquinho de sua magnífica atenção. Sugiro sentarem, pedirem um refresco e abrirem uma Caras de Maio de 2001. Vossa Bragância está na Europa, trabalhando que só.

E Lula homologou a reserva indígena Raposa Serra do Sol. Ribamar Bessa Freire – e os índios, claro – comemoram. Os pistoleiros já lustram seus revólveres. Vem trabalho aí.

Bruno Rabin (o craque no comando do Farsantes), David Butter, Igor Barbosa e Márcio Guilherme lançam o Apostos, nova aposta no formato dos portais de blogs, não necessariamente coesos em opiniões, perfis e estilos – e é boa por isso. Sugiro o Blogma 2005, o manifesto do portal. Experimenta.

Se Jesus estivesse vivo, ainda ensinaria por parábolas, tenho certeza. Para ensinar o valor da humildade na fé, por exemplo, trocaria os arrogantes fariseus de seu tempo pelos cardeais católicos brasileiros, tão enojados e críticos com a pouca religiosidade dos outros.

Está explicado o Conclave que se deu sobre Roma a bordo do Aerolula. Envolvidos pelo clima espiritual e grandioso dos funerais do Papa, Lula e seus três ex (com a sentida ausência de Collor) conversaram sobre coisas nobres, causas grandiosas. O principal era a Proposta de Emenda Constitucional que transformará, automaticamente, todos os ex-presidentes do Brasil em senadores vitalícios.

E foi Mãe Nitinha a grande ridicularizada pela nação. Além de representar uma religião que a maioria usa mas não assume, perdeu o avião. Não vou generalizar, mas está provado que quase sempre quem mais ri é o maior dos palhaços. Somos roubados abertamente, e preferimos rir da simples "macumbeira".

sexta-feira, abril 15, 2005

Chamaram o Gra-fi-te de Negro!


O preconceito está em todos nós; por que "Grafite" é aceito e "Negro" não? Tudo bem, não sejamos cínicos, o racismo está no contexto, no tom com que se diz "negro". Como com um bebê, que ri ao ser chamado carinhosamente de "fedelho" e chora ao ser chamado de "meu amor" em tom de reprimenda, são as vítimas potenciais de preconceito. Um colega de vestiário que chame um jogador negro de "Loirinho cor de Kichute" causa gargalhadas, inclusive do loirinho. Um argentino, não. Claro, o futebol mundial, em especial o do Velho, Evoluído e Superior Mundo, a Europa, vive dias negros – opa! -, nos quais torcidas de extrema direita jogam bananas nos jogadores brasileiros e imitam trejeitos símios quando os mesmos dominam a bola – ainda que sejam torcedores fanáticos graças aos títulos conseguidos por seus times com o talento destes mesmos jogadores. Sempre fomos chamados pelos argentinos de "macaquitos", e nunca se fez nada contra isso. Se a rivalidade histórica serve de atenuante cínico, prefiro a justificativa do tabu. Há certos assuntos que não devem ser tocados, como o Holocausto na Alemanha, a bomba atômica em Hiroshima, a xenofobia na França, a mentira nos Estados Unidos e o racismo no Brasil. Não mexamos com o racismo que sempre partiu de argentinos para cá, porque se mexermos, vamos ter que fazer profundas e contínuas reflexões e mudanças de comportamento. O problema é que abaixo da linha do Equador esse é outro tabu: a mudança. Resumo da história: não lutemos contra o preconceito, apenas o escondamos. Chamar alguém de negro, por motivos históricos, virou xingamento. Então que façamos o mesmo, ora. Por motivos históricos, devolvamos a ofensa. É pegar pesado demais, mas são eles que vivem pedindo para baixarmos o nível. Faça assim, leitor negro: quando um argentino disser que você é um macaco, rebata na lata: "e tu, que és argentino?"

Pra colecionador




As datas comemorativas são um espetáculo à parte no Google, não?



quinta-feira, abril 14, 2005

Houston, we have a problem.




Imagem exclusiva que acaba de ser divulgada pela NASA, capturada no momento do pouso da sonda Viking, direto no núcleo do processo criativo do autor deste site (tá, tá bom, blog). Vou sentar e fazer outro livro sobre O Nada.


quarta-feira, abril 13, 2005

Oompa Loompa




Talvez dessa vez eu assista A Fantástica Fábrica de Chocolate. Com Johnny Depp como Willy Wonka, dirigido por Tim Burton, fica bem mais fácil.


Crutlua Itúnil


De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra
em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que
a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma
bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não
lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

Pra não passar por essa quarta-feira completamente em branco...

segunda-feira, abril 11, 2005

Notas de segunda-feira


Daiane dos Santos levou a medalha de ouro na Copa do Mundo, mesmo sem música, dando seus saltos sétuplos carpados com triplos twists "discostas" à capela. A torcida, em êxtase, cantou o Hino Nacional a plenos pulmões, com a mão direita no peito. Ah, se esse amor ao país sobrevivesse aos portões de saída dos ginásios...

Sim, há um argentino no páreo (é, a coisa virou páreo) pela taça da Copa do Vaticano. E é irresistível imaginar todas as piadas possíveis com a idéia dos católicos terem um argentino no trono. Não vou dar as piadas, vou dar os temas: beijo no chão, legalização de drogas, humildade, Maradona, Pelé, Menem... Ah, leia a coluna do Zé Simão, leia.

Acabei de ser chamado de "filho da puta" por ser o único motorista fora da contra-mão na rua do escritório. Aposto que boa parte desse pessoal se emocionou ontem com o Hino Nacional da Daiane dos Santos. Acredite, há mais do futuro do Brasil no jeito como nos portamos no trânsito do que supõe nossa vã filosofia.

Diálogo num apartamentaço da Zona Sul carioca, decorado com a faixa do movimento "Basta!", numa tira de Arnaldo Branco: - Amor, a empregada ligou dizendo que não vem porque tá rolando uma chacina em Nova Iguaçu. – É a quinta vez que ela usa essa desculpa. Demite a vagabundinha!

Musique em sua mente: Ah, se todas as mulheres fossem mau-educadas, desbocadas e putinhas como a Luana Piovani...

Dona Glória não conseguiu enrolar novamente o país, com esse Clone requentado. Como medida de contingência, esse fim de semana o circo dos horrores precisou fazer romaria por vários programas da Globo. Meu humor esteve ótimo esse fim de semana. Pena que não vai durar.

Do fundo do meu coração, eu desejo que Charles e Camila finalmente sejam felizes.

É divertido debater com os outros pela Internet. Eu tenho o maior dos trunfos nas mangas: o efeito surpresa. Quando tudo se acalora e alguns querem saber onde eu moro pra mandar me dar uns petelecos, digo que sou de Manaus. Invariavelmente, depois do longo silêncio que segue a revelação, a única coisa que se consegue pensar é em me chamar de índio. Mas aí já é tarde.

sexta-feira, abril 08, 2005

Amém.



Esse mundo não vê essas coisas muitas vezes. Já disseram que estrelas deveriam explodir no céu para avisar as pessoas sobre coisas especiais. Mas elas não explodem, apenas têm seu momento e morrem. Nossos ícones estão mortos. Agora, nesta sexta-feira, é a vez daquele que os católicos, tão emotivos e volúveis, já chamam de "O Papa Santo". Um homem que reuniu multidões desde sua eleição até o fim, paralisado e emudecido pela doença e pelas balas que, sem que muitos percebamos, o mataram. Agora perguntam, alguns jornalistas, o que explica essa comoção, entre os jovens, pela agonia e pela morte desse homem, enterrado num caixão de madeira simples, diretamente na terra. Simples: como eu, boa parte dos hoje trintões teve a oportunidade, ainda na facilmente impressionável infância, de vê-lo passar bem perto. Sua surpreendente eleição, associada à sua incansável peregrinação pelo mundo, fosse esse mundo o cristão, o judeu ou o muçulmano, criou o mito do Papa arrebatador, presente e sensível. Esse homem, que parecia ordenar a seus auxiliares que nada fizessem para ajudá-lo em público, pois queria passar por todo o martírio de uma morte, pública, lenta e bela, precisou de 10 minutos com Gorbatchev para que os cristãos ganhassem a liberdade de rezar missas no coração da Cortina de Ferro. Não, não convenceu grandes e maus líderes a ver as coisas de uma nova maneira. Não conseguiu a paz entre judeus e palestinos, não pôde entrar na China, não abriu os olhos de Fidel Castro, e falou com Bush, pregando no deserto, jogando pérolas aos porcos da guerra. Mas é arrepiante como todos estes, pressionados pela imagem de um homem morto, se curvaram. Bush ajoelhou, Fidel voltou à igreja depois de 45 anos. Times rivais se abraçaram, lojas foram apagadas e multidões, num silêncio ensurdecedor, pareciam dizer, em Roma, que este mundo que conhecemos tem sim, um botão “pause”. O mundo parou. Nunca se viu isso. Nunca.

João Paulo nos ganhou, os jovens, porque homens fortes, decentes e acima de tudo coerentes fazem falta. Não deixou bens, apenas escritos, que pediu que fossem incinerados depois de sua morte. Escreveu, muito, e nunca pediu que esquecessem o que havia escrito. Pediu o perdão e perdoou. Manteve-se firme, com sua inabalável fé, enquanto todos, absortos em problemas tão atuais quanto evitáveis, buscavam fazer da Igreja um espelho do que há de bom e de mau no mundo. Eu, como tanta gente espalhada por aquela Praça de São Pedro e pelo planeta, não perdi um pai, um amigo ou um líder. Perdi uma referência, antes de menino, agora de Ser Humano. Vivo num mundo cruelmente volúvel, adaptável ao mal, encrudelecido por um cotidiano em que o bizarro e a barbárie precisam de apenas alguns dias para cair no desprezo. Esse homem não arredou o pé de suas convicções, ora intransigentes, ora autoritárias. Esbravejou, como um certo homem da Bíblia que encontrou um mercado dentro de sua Igreja. Ignorou tapetes vermelhos para beijar o chão; ensinou – e não aprendemos - a vencer a burrice dos canhões com simples palavras. Agora o vejo ser enterrado, não com tristeza, mas com certa preocupação, pois o Vaticano não costuma acertar muito. Sei, soa um tanto ingênuo acreditar que o Bem ainda tem grandes representantes na terra, mas eu acreditei. E um misto de alívio e orgulho me toma, quando penso que meus heróis não morrem de overdose, mas no cumprimento do dever de serem bons. Bons o bastante para silenciar o mundo com sua morte.

quinta-feira, abril 07, 2005

Preparem seus lenços


Um país que, a despeito de ser O País do Futebol, não possui credibilidade internacional para organizar sequer uma Copa do Mundo, não tem o direito de pleitear um papa brasileiro. Tudo tem limite, e Lula precisa medir melhor suas atitudes e palavras. A julgar por seus convidados (esse "seus" refere-se a você, que lê isso), Lula segue fazendo a política rampeira do conchavo puro, mesmo numa ocasião que, se não aconteceu, ao menos deveria parecer ser mais espiritual e reverencial do que política. Levar Renan Calheiros e Severino Cavalcante, além de Fernando Henrique, é... é... pqp... Essa humildade patética de promover, em torno da morte do Papa, a reconciliação de políticos que vivem fazendo pouco da paciência do cidadão brasileiro com seus choques ridículos de egos, me dá uma azia enorme. Lula quer fazer o "deixa disso" usando como pano de fundo aquele que é, até agora, o acontecimento mundial do ano. Quer voltar a trocar carícias com Fernando Henrique, como Leonardo Di Caprio e Kate Winslet, abraçadinhos na proa do Titanic, com o espetacular cenário ao fundo – João Paulo II morto. Imagino a cena e odeio o que imagino: Renan e Severino abraçados, aos prantos, olhando juntinhos, pela mesma janelinha do Aerolula, de rosto quase colado, a multidão lá embaixo, alheia ao megaevento político que ocorre sobre suas cabeças: A reaproximação da nata política do Brasil.

Para Lula, o maior funeral de todos os tempos, que simboliza o fim do terceiro maior papado de uma história de 2.000 anos de catolicismo, marcada pelo fim de Eras, regimes, superpotências e barreiras religiosas, serve para reaproximar gente que briga por verba de gabinete, aumento de salários, medidas provisórias, nepotismo e troca de favores políticos. Lula, com seu sentimentalismo açucarado, me dá vergonha. Me desculpem os amigos militantes, mas não dá.

Vai ver Severino Cavalcante ameaçou o presidente novamente. Vai ver Renan Calheiros condicionou o apoio parlamentar do PMDB a esse convite. E todos temos visto, simplesmente porque Lula tem mostrado, que não há nada, mas nada mesmo, mais importante para o nosso presidente, do que não perder apoio na câmara. Dom Eusébio parece estar certo quando diz que Lula é católico a seu modo.

Enquete (argh!) rápida



Se o Papa estivesse vivo e visse uma cena dessas, o que faria (ou diria)?

a) "Por que essas pessoas furaram a fila?"
b) "Levanta daí, Bush! Deixa de ser hipócrita que tu és protestante e não tá dando a mínima pra isso tudo!"
c) "O mandamento 'Não Mentirás' tá valendo, vocês sabiam?"
d) "Aliás, vocês, Bushes, já ouviram falar em 'Não Mentirás', 'Não Matarás', 'Não Dirás o Nome de Deus em Vão'?"
e) "Cês tão com umas caras ótimas, fazendo essa pose toda pro mundo, sabiam?"
f) "Ô, Camerlengo! Corre aqui e me tira o tubo, por favor"

E você, o que acha que o Papa diria (ou faria) se acordasse e visse essa turma aí, ajoelhada aos seus pés?

quarta-feira, abril 06, 2005

Você ainda não percebeu?




Ser humano é precisar escolher entre...
  • fazer o papel ridículo de ter fé no improvável ou

  • fazer o papel ridículo de torcer para que, no fim, ninguém, absolutamente ninguém se salve.


terça-feira, abril 05, 2005

O cliente nem sempre tem razão


Não entendo os católicos que condenam as posições conservadoras de João Paulo II. Hão de concordar que boa parte do charme da Igreja Católica, especialmente aos olhos dos seus fiéis, reside na pompa rígida, no luxo e na tradição, que transformaram a idéia de Cristo, cujo Reino não é desse mundo (palavra dEle mesmo, em João 18:36), nesse espetáculo fascinante de regras, leis, pilares, afrescos, obras de arte e cerimônias tão inteligentemente cheias de simbolismos, como a fumaça do Conclave, os sinos no alto dos campanários (é risível comparar o alarde irritante dos megafones evangélicos de hoje com os sinos de bronze católicos, criados com o mesmo intuito) e a cruz no ponto mais alto dos templos, talvez o primeiro registro de uma logomarca, visível de qualquer ponto das aldeias, feito um imenso out-door. É comovente assistir aos rituais católicos, extremamente belos, mesmo os tristes, como os funerais de um Papa tão querido por todos - onde eu me incluo. Esses rituais são boa parte da alma da Igreja, além, claro, de Deus. Não sou católico, mas concordo com os católicos praticantes, estes sim, dignos de serem ouvidos. Conheço vários, e digo, eles também dizem que é sábio manter a Igreja como ela é. Se por um lado podemos reclamar de uma Igreja que dita as regras para as vidas de todos, inclusive as de quem não a segue, por outro não podemos exigir que ela mude porque o mundo mudou. Dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, perguntado sobre a polêmica do aborto, disse, evasivo, que a Igreja não pode dar respostas velhas a perguntas novas. Perfeito. E que tudo fique assim. A Igreja é isso. Prega que a abstinência é mais efetiva que a camisinha. Simples assim. Que se prove o contrário. João Paulo disse que não há exceções, como o aborto, para o mandamento "Não Matarás", simples assim. Até eu discordo, mas é assim. A Igreja é feita disso, afinal: núcleo simples, superfície complexa. Não deve mudar. Estão aí novíssimas religiões e seitas, mais modernas, mais pra frente, mais antenadas com esse mundo de hoje, avesso a paradigmas e convenções retrógradas e chatas. É irônico, mas talvez essa gritaria dos não-praticantes seja a maior prova da legitimidade da Igreja; estes berram que ela vai contra o mundo, sem perceber que repetem o que Cristo disse: Seu reino não é desse mundo.

João Paulo nunca diria isso, mas talvez pensasse: quem não participa não pode opinar, e os incomodados que se retirem.

Estou com ele.

"Assim porque és morno, e não és frio nem quente,
vomitar-te-ei da minha boca"
(Apocalipse 3:16)


Essas caras sardentas e olhos azuis...





Minha erudição musical e meu acervo limitado de chavões de crítico não permitem dizer muito mais do que simplesmente "Ouça, ouça!"


segunda-feira, abril 04, 2005

Notas de segunda-feira


A morte de João Paulo II foi a mais anunciada dos últimos tempos. Mesmo assim a imprensa brasileira se enrolou toda, mesmo em programas gravados, na hora de fazer seus especiais. A Globo e seu Fantástico foram péssimos, engessados pela grade que não abre mão de suas novelas sem sal e por apresentadores ruins e desentrosados.

Gostei da cobertura da Rede TV. Simples, sem efeitos computadorizados. A história desse papado é intensa demais, dispensa firulas e temperos que a estraguem.

Lula vai levar Renan Calheiros e Severino Cavalcante aos funerais do Papa. Francamente, às vezes desconfio que o brasileiro tem vocação inata para o mau gosto.

Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, tem chances de ser o novo Papa. Tem meu apoio, pois reprova a politização da liturgia, apesar de ser brasileiro e contar com o lobby do mau gosto, o lobby dos políticos brasileiros. Padre é pra rezar, não pra dar palpite em política ou abençoar movimentos como o MST.

Vi gente na Internet reclamando da atenção excessiva dos brasileiros a João Paulo II, enquanto trinta pessoas eram chacinadas na Baixada Fluminense. Pura falta de algo melhor pra dizer. Tem gente que acha inteligente dizer-se contra qualquer coisa. E em terra de muro baixo como essa, indignação nacional e pedidos por justiça são o mesmo que nada.

Ah, Bush também vai ao funeral. O Vaticano passa por intensa revista do serviço secreto americano; arcebispos e cardeais já passam por baculejo anti-terror e interrogatórios secretos, com cães e fios elétricos. Os apartamentos que hospedarão os participantes do Conclave serão monitorados pelo Echelon.

O cardeal que for pego usando termos como "bomba", "armas de destruição em massa", "Abu Ghraib", "Bush", "Fuck U.S.A.", "Osama Bin Laden", "Padre Americano" e "Pedófilo" juntos na mesma frase, entre outros, vai automaticamente sair da brincadeira e passar por nova entrevista americana, em local ignorado, sem direito a advogado.

Bush deve levar seu candidato pessoal ao papado, Paul Wolfowitz. O falcão retardado de Buchinho tem poucas chances de vitória, graças a Deus e aos poucos americanos com direito a voto na cúria romana. Americano votante, perigo constante.

Hoje começa a visitação popular ao corpo do Papa. Dois milhões de pessoas são esperados em Roma. Que não se pense que o terror não sentiu o cheiro de sangue.

Este Papa mudou o mundo como nenhum político mudou. Eu, humilde protestante não praticante (sim, isso existe), lamento profundamente a perda. Não religiosa, mas humana. Gente de bem em cargos de liderança é artigo raro no mercado.

Tão raro que - suponhamos, apenas suponhamos - se um terço dos católicos, que amavam tanto o Papa, seguissem um terço de seus ensinamentos, o mundo já agradeceria.

sexta-feira, abril 01, 2005

Esse deveria mesmo ser o Dia da Mentira


A tarde de uma sexta-feira de sol é provavelmente a maior e mais evidente prova da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. As quatro horas que separam o início e o fim da tarde duram aproximadamente duas semanas. Se é, além de todo o mais, temperada com o gosto amargo da cobertura frenética da morte de um Papa, dura três.