segunda-feira, abril 04, 2005
Notas de segunda-feira
A morte de João Paulo II foi a mais anunciada dos últimos tempos. Mesmo assim a imprensa brasileira se enrolou toda, mesmo em programas gravados, na hora de fazer seus especiais. A Globo e seu Fantástico foram péssimos, engessados pela grade que não abre mão de suas novelas sem sal e por apresentadores ruins e desentrosados.
Gostei da cobertura da Rede TV. Simples, sem efeitos computadorizados. A história desse papado é intensa demais, dispensa firulas e temperos que a estraguem.
Lula vai levar Renan Calheiros e Severino Cavalcante aos funerais do Papa. Francamente, às vezes desconfio que o brasileiro tem vocação inata para o mau gosto.
Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, tem chances de ser o novo Papa. Tem meu apoio, pois reprova a politização da liturgia, apesar de ser brasileiro e contar com o lobby do mau gosto, o lobby dos políticos brasileiros. Padre é pra rezar, não pra dar palpite em política ou abençoar movimentos como o MST.
Vi gente na Internet reclamando da atenção excessiva dos brasileiros a João Paulo II, enquanto trinta pessoas eram chacinadas na Baixada Fluminense. Pura falta de algo melhor pra dizer. Tem gente que acha inteligente dizer-se contra qualquer coisa. E em terra de muro baixo como essa, indignação nacional e pedidos por justiça são o mesmo que nada.
Ah, Bush também vai ao funeral. O Vaticano passa por intensa revista do serviço secreto americano; arcebispos e cardeais já passam por baculejo anti-terror e interrogatórios secretos, com cães e fios elétricos. Os apartamentos que hospedarão os participantes do Conclave serão monitorados pelo Echelon.
O cardeal que for pego usando termos como "bomba", "armas de destruição em massa", "Abu Ghraib", "Bush", "Fuck U.S.A.", "Osama Bin Laden", "Padre Americano" e "Pedófilo" juntos na mesma frase, entre outros, vai automaticamente sair da brincadeira e passar por nova entrevista americana, em local ignorado, sem direito a advogado.
Bush deve levar seu candidato pessoal ao papado, Paul Wolfowitz. O falcão retardado de Buchinho tem poucas chances de vitória, graças a Deus e aos poucos americanos com direito a voto na cúria romana. Americano votante, perigo constante.
Hoje começa a visitação popular ao corpo do Papa. Dois milhões de pessoas são esperados em Roma. Que não se pense que o terror não sentiu o cheiro de sangue.
Este Papa mudou o mundo como nenhum político mudou. Eu, humilde protestante não praticante (sim, isso existe), lamento profundamente a perda. Não religiosa, mas humana. Gente de bem em cargos de liderança é artigo raro no mercado.
Tão raro que - suponhamos, apenas suponhamos - se um terço dos católicos, que amavam tanto o Papa, seguissem um terço de seus ensinamentos, o mundo já agradeceria.