quinta-feira, abril 28, 2005

A Ditadura dos Comentários


A excelente Luma passa, de leve, por um assunto que sempre me chamou muita atenção. Os comentários dos blogs. Para quem gosta de escrever, os comentários são um doce, um bônus (como nos videogames) para quem já sente prazer em apenas falar. Alguns dos blogs mais interessantes que conheço não têm sistema de comentários (o que mais me chama a atenção é o Catarro Verde, do Sérgio Farias), mas há outros (desde o habilidoso e pedante Alexandre Soares Silva até o traumatizado Jorge Nobre, com seu único assunto). Com pequenas variações, todos estes desprezam comentários, uns por falta de paciência (que tenho certeza ser o caso do Sérgio), outros porque adoram a sensação de não fazer sucesso no Brasil (o que seria um imenso demérito, em se tratando da qualidade do leitor brasileiro – pensam). São bons demais para o Brasil, então melhor o ostracismo. Eu gosto de comentários, e não me importo se são monossilábicos ou prolixos. Não me importo se são de amigos e parentes ou se são de desconhecidos europeus. São uma resposta ao que eu disse ou simplesmente um "oi". O que escrevo não termina com aquelas interrogações sugestivas, que impelem o leitor a dizer algo.

Há as Marias-Comentários, uns Mainardis virtuais, cujo talento principal é sussurrar "Yes! Me odeiem! Yes!". Há filósofos autodidatas (que usam Kant como genérico para antidepressivos fortíssimos), mocinhas com seus apelidos fofinhos, sempre no diminutivinho. Há jornalistas às cuias. Há poetas meia-boca, dramaturgos cheios de pose, cronistas ótimos e cronistas péssimos, atrizes globais e caboquinhas gritando u-hú pra tudo, artistas alternativos e militantes com suas causas. Com raras exceções, são todos (aliás, somos todos) reféns deles, os comentários. Por quê? Simples. Não queremos o que é bom, e sim o que é interessante. Não entramos em boates vazias, entramos? Há leitores que lêem o post apenas depois de ver a quantidade de comentários que aquele texto causou. Há leitores exclusivamente de comentários (isso mesmo!). Por isso vemos tanta gente tentando ser diferente a todo custo. Pra vitaminar uma caixa de comentários vale xingar a Virgem Maria, elogiar o Bush, defender o terrorismo, dar razão ao Severino, xingar o Flamengo, dizer-se ateu, elogiar ou xingar o papa, falar mal de pobre.

Desconfie de quem não gosta de comentários, leitor, assim como de quem está sóbrio o tempo todo. São as pessoas mais emocionalmente instáveis e mais traiçoeiras, nessa ordem. Não desconfie de adoradores e "odiadores" de qualquer coisa, esses são isso mesmo, não oferecem perigo algum. Concorde ou discorde de mim, mas diga algo. Não estou aqui pra ouvir minha própria voz. Comente, comente! E me adicione, seja lá o que isso for.