sexta-feira, abril 15, 2005

Chamaram o Gra-fi-te de Negro!


O preconceito está em todos nós; por que "Grafite" é aceito e "Negro" não? Tudo bem, não sejamos cínicos, o racismo está no contexto, no tom com que se diz "negro". Como com um bebê, que ri ao ser chamado carinhosamente de "fedelho" e chora ao ser chamado de "meu amor" em tom de reprimenda, são as vítimas potenciais de preconceito. Um colega de vestiário que chame um jogador negro de "Loirinho cor de Kichute" causa gargalhadas, inclusive do loirinho. Um argentino, não. Claro, o futebol mundial, em especial o do Velho, Evoluído e Superior Mundo, a Europa, vive dias negros – opa! -, nos quais torcidas de extrema direita jogam bananas nos jogadores brasileiros e imitam trejeitos símios quando os mesmos dominam a bola – ainda que sejam torcedores fanáticos graças aos títulos conseguidos por seus times com o talento destes mesmos jogadores. Sempre fomos chamados pelos argentinos de "macaquitos", e nunca se fez nada contra isso. Se a rivalidade histórica serve de atenuante cínico, prefiro a justificativa do tabu. Há certos assuntos que não devem ser tocados, como o Holocausto na Alemanha, a bomba atômica em Hiroshima, a xenofobia na França, a mentira nos Estados Unidos e o racismo no Brasil. Não mexamos com o racismo que sempre partiu de argentinos para cá, porque se mexermos, vamos ter que fazer profundas e contínuas reflexões e mudanças de comportamento. O problema é que abaixo da linha do Equador esse é outro tabu: a mudança. Resumo da história: não lutemos contra o preconceito, apenas o escondamos. Chamar alguém de negro, por motivos históricos, virou xingamento. Então que façamos o mesmo, ora. Por motivos históricos, devolvamos a ofensa. É pegar pesado demais, mas são eles que vivem pedindo para baixarmos o nível. Faça assim, leitor negro: quando um argentino disser que você é um macaco, rebata na lata: "e tu, que és argentino?"