terça-feira, março 29, 2005

Brasil, pfvr, não mostra a tua cara


Nós, brasileiros, somos estranhos mesmo. Sinto, por parte da imprensa, e pior, por parte de muita gente que se diz boa, certa simpatia pela figura mais falada do país. Sim, ele mesmo, minino: Severino Cavalcante. E o pretexto para essa anarquia de julgamento seria a suposta anti-hipocrisia do Presidente da Câmara dos Deputados. Pensa-se assim: certo está ele, que ao menos não faz de conta que é correto, ético. Como todos ali são ladrões, é digno de elogio aquele deles que vem a público assumir-se ladrão. Digo ladrão sem qualquer receio pois, além de não ocupar cargo público e viver numa democracia, nesse ponto faço o jogo Severínico, não escondo o que penso. O mesmo que pensa (e diz), aliás, a grande imprensa brasileira, todo santo dia, com suas notinhas cautelosas e insossas, chamando ladrão de tudo, menos de ladrão. Convencionou-se, nesse país (pra usar um Lulismo corrente), se ter vergonha (ou medo) de chamar os ladrões pelo que eles são, enquanto eles nos chamam de otários, com todas as letras, quase silabando (ó-tá-riô!), diariamente, na nossa cara. O senso comum brasileiro é tão distorcido que amamos o bom bandido, a celebridade retardada, o analfabeto orgulhoso, o malandro charmoso, a apresentadora de tevê infeliz. Não estamos desiludidos com a classe política, isso é mentira. Decepção pressupõe expectativa. Nunca nos interessamos por política, nunca quisemos saber. Não fazemos idéia do que diz a Constituição, de como funcionam os poderes, de quem ocupa a linha de sucessão presidencial, de como andam os balanços do governo. Nunca nos importamos, e por isso não temos autoridade para exigir lisura deles. Educar é reprimir. Políticos não se comportam bem no escuro, isso é instintivo. Depois de elegê-los e esquecê-los, não adianta espernear. Não adianta torcer o nariz pra quem ousa falar em política na mesa do bar e depois dizer–se "traído" pelos – cof!, cof!, desculpe - ladrões.

Mas, por favor, parem com esse negócio de achar graça em Severino. Não peço que o condenem por sua cara-de-pau, isso já seria demais para os níveis nacionais de decência. Mas pelo menos não o elogiem. O país não vai se consertar por isso, claro, mas já é um alívio para a azia de quem ainda tem vergonha de ser representado por essas aves de rapina folgadas e semi-analfabetas que – Deus - estão lá por nossa causa. Severinos, Romeros, Malufs, Quércias, Martas, Valdomiros, Inocêncios, Barbalhos e etc. são ladrões, com fartura de provas, processos e denúncias. E eu não me policio para falar ladrão, lepra, câncer, preto, catarro nem “dá licença”, palavras e expressões meio proibidas nêfe país.