segunda-feira, agosto 30, 2004

As melhores crônicas sobre O Nada.

Foto: Alexandre VidalInteressante ver a creme de la creme da inteligência brasileira fazendo campanha contra Michael Moore. Em meio às acusações de manipulação e maniqueísmo no seu Farenheit 9/11, o que sobra é a sensação, em mim recorrente, de que a futilidade dessa gente instruída não tem fim. Procuram erros de métrica e rima em canções populares, nada mais que isso. Têm preguiça, ou medo, de falar, enfim, de coisa séria vez por outra. Basta ler os mais festejados colunistas do país, que nos brindam semanalmente com suas crônicas sobre a vizinha que troca de roupa em frente à janela, sobre as agruras da vida de escritor trazidas pela tecnologia (quem disse a esses caras que é charmoso fingir ter saudade das máquinas de escrever, hein?) ou sobre as caminhadas no calçadão de Ipanema. É claro, escrever toda semana, para um escritor, deve ser difícil demais. Vivem num país em que, por motivos óbvios, é feio fazer parte da grande opinião pública. Precisam ser irreverentes, ácidos, polêmicos, cínicos, senão não são lidos, comentados. Dividem-se em consagrados-e-preguiçosos e iniciantes-e-exagerados. Michael Moore mostrou muita coisa interessante, poderia ter mostrado muito mais, e de maneira mais bem escolhida. Mas as cabeças pensantes daqui estavam ocupadas com o ofício sagrado de contradizer o óbvio. Por eles o juiz teria mandado o Baggio cobrar novamente o pênalti em 94, porque o Taffarel havia saído da sua linha. Neles está a inteligência, sim, de perceber que o que vale não é o que você vende, mas como você vende. Ou seja, fale besteira mesmo. Use citações aos montes, gírias da The New Yorker e tiradas em francês – pode ser em inglês também. Mas nunca esqueça do principal: fale besteira. Não foi pra isso que você leu tanto James Joyce e Samuel Beckett?