quarta-feira, agosto 18, 2004

Os heróis da mediocridade

Foto: UOL

A cada dia de olimpíada simpatizo mais com a idéia da FENAJ, a Federação Nacional de Jornalismo, que iria "regular" a atividade no país. Como passo o dia fora e não posso assistir aos jogos, leio as notícias. Aí me sinto enganado, feito de otário, leitor e espectador de jornalistas em transe. É uma patriotada só. Ouvindo o rádio, vendo tevê ou lendo jornais, sérios ou não, de papel ou virtuais, a impressão que tenho é a de que o Brasil vai vencer as Olimpíadas 2004. Aliás, é sempre assim. Mas dessa vez tá demais. Até recursos de slow motion e ângulos exclusivos os jornalistas brasileiros instituíram para analisar, estudar, registrar os duplos twists carpados da Daiane. Quando a coitada quase caiu ao aterrissar, no final de sua performance mágica, tremenda, estupenda, melhor do mundo!, voadora!...

rrahn-rrahn... Desculpe... Me empolguei...

pois é, deu até vergonha de dizer "Ih, ela foi péssima!".

Duas medalhas de bronze. É o saldo da maior delegação brasileira de todas as olimpíadas. E a Fátima Bernardes ainda consegue sorrir depois de relatar o saldo diário dos brasileiros. Por um princípio de redação, para não se tornar maçante, deve-se evitar repetir verbos e adjetivos em períodos longos. É por isso que fica mais ou menos assim: "Guga foi eliminado na estréia, Saretta não passou da primeira fase, o boxeador Fulando da Silva debutou com derrota, o mesa-tenista Cláudio Oyama está fora dos jogos...”

Se depender dos jornalistas brasileiros, vamos voltar sem medalha nenhuma, ovacionados nos aeroportos, como heróis nacionais. E que viva o Brasil! Batemos recordes sul-americanos! Tudo bem, chegamos em 12º nas classificatórias e ficamos de fora das finais. Mas que final o quê! Batemos os recordes sul-americanos!

Agora é torcer para o vôlei e pro Robert Scheidt. Se bem que, ganhando ou não, somos todos brasileiros. A festa está garantida.

* * * *

Atualização às 9:47

Falando em FENAJ, acabei de ver essa no Mau Humor, também linkado aí do lado:

"Aí, se esse conselho de Jornalismo regular o número de vezes a que o Jabor tem direito de escrever 'utopias perdidas da minha geração', tem conversa."

Perfeito. Viu Marco, alguém concorda comigo.