Fui sábado na casa do Jokka Loureiro comer meu tucunaré frito. Não vou fazer muita propaganda pra não dar muita gente. A casa do Jokka é uma peixariazinha, bem jitinha, encravada no bairro de São Raimundo. Tem 8 a 10 mesas, cerveja mais gelada que bunda de pingüim e o melhor jaraqui frito da cidade. O dono do gabinete é figura querida, provavelmente porque é mais grosso que papel de embrulhar prego. Não hesita em chamar clientes acompanhados de “corno” ou em convidar a se retirar quem só vai pra beber. Coisa fina. Dois rapazes estavam almoçando e, quando terminaram, pediram mais cerveja e ficaram batendo papo. Chamando a atenção de todos, o Jokka perguntou ao casal: “E aí, vocês são namorados mesmo, é? Vou colocar um Biafra aqui pra vocês!”. Havia gente esperando mesa há meia hora, coisa de restaurante fino. Os dois levantaram, provavelmente pensando em nunca mais voltar. Até voltarem na semana seguinte, com certeza. Bom, comi o tucuna porque não tinha jaraca. A Hellen comeu um pacu e a minha mãe um cará. Seguindo a tradição, o Jokka vai às mesas contar as últimas e trocar umas gentilezas com os clientes. Com a finesse que Deus lhe deu, olhou pra gente e disparou:
“Pois é Ismael, tudo o que não presta começa com ‘P’, já viste? Político, preto, paraense, parente, padre, pastor, paulista, puxa-saco, professor, pagodeiro, padrinho...”
E por aí seguiu uma longa lista. No recinto havia dois afro-brasileiros (é assim a nomenclatura?), pelo menos um paraense e três pagodeiros, além de umas meninas simpáticas. Ah, sim, havia um casal que parecia paulista, além dos próprios filhos do Jokka e da minha mãe, professora. Enfim, quase todos foram homenageados. Resultado? a gargalhada foi geral. Na casa do Jokka, esteja pronto pra ser sacaneado, faz parte do serviço. E do sucesso do cabôco. Mas as meninas simpáticas eu acho que ele poupou. “Só o que presta com ‘P’ é puta, Ismael”. Lindo.