quinta-feira, agosto 19, 2004

Olha a boca, matuto!

Em 1999, o comediante Pedro Bismarck foi convidado pelo Governo do Estado para estrelar alguns VTs institucionais da extinta Cosama, visando melhorar a imagem da empresa junto aos consumidores. No ano anterior, na pele do matuto Nerso da Capitinga, Pedro Bismarck havia virado o jogo político em Goiás. De azarão, quando foram divulgadas as primeiras pesquisas, o deputado Marconi Perillo acabou derrotando o franco-favorito senador Íris Rezende, que detinha 70% das intenções de voto. Perillo conquistou o governo graças, principalmente, ao talento histriônico de Nerso da Capitinga. Com sua genialidade de matuto ladino, o âncora do programa político do deputado tucano acabou se transformando no mais fantástico fenômeno de marketing da eleição.

Pedro Bismarck chegou na casa do governador Amazonino Mendes durante o almoço e encontrou o "cabôco" devorando um tambaqui assado na brasa. Alguns aspones estavam reunidos em rodinhas, mas mantendo uma respeitosa distância da mesa do chefe. Feitas as apresentações de praxe, Amazonino convidou Bismarck para sentar-se à mesa e entabulou um princípio de conversa:

- E então, Nerso, quer dizer que você lascou mesmo o Íris Rezende?...

O cavalo baixou no santo. Bismarck incorporou o matuto e mandou ver:

- E num lasquei?, rê, rê, rê, e num lasquei?... Nós fez foi pouco dele, ora se fez... Tiramo o couro do disgramado, esticamo sem pena e batemo, batemo, batemo... Coitadim do bronco, apanhou mais do que boi ladrão...

O governador insistiu:

- Foi mesmo? Pois então me conte os detalhes...
- Ah, no primeiro programa eu punhei uma panela em cima da mesa, assim (Nerso foi direto na panela de baião-de-dois) e aí, comecei a mexer (e Nerso foi mexendo o baião-de-dois) e falar: aqui está o home, a mulher do home. Tá tudo numa panela só, há 16 anos. Vamo quebrar essa panela (e fez menção de que ia jogar o baião-de-dois no chão).

Amazonino quase engoliu uma espinha. De costela. Os aspones se aproximaram da mesa. Nerso não deu a mínima e continuou:

- Depois de uma semana, o TRE proibiu a panela. Eu entrei no programa seguinte com a panela na cabeça, como um chapéu de ferro. Aí falei: o home já foi duas vezes governador, já foi duas vezes senador, já foi prefeito, já foi deputado, já foi não sei o quê, isso e aquilo. Ta pensando o quê? Que isso aqui é Jurrasi Parki, pra ser governado por um dinossauro? É isto o que ele é, um dinossauro...

O governador parou de almoçar. Nerso, que não conhecia nada sobre a política local, insistiu:

- O senhor também não acha que 16 anos no poder é coisa de dinossauro?

Apesar da saia justa, Amazonino, que estava no poder há 18 anos, tentou uma saída honrosa:

- Já que você falou em dinossauro, como está o Zé Bonitinho, da Escolinha do Professor Raimundo?...

E a conversa ganhou novo rumo. Nerso da capitinga, claro, foi detonado previamente e não estrelou nenhum VT da Cosama.

Folclore Político Amazonense, de Simão Pessoa